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Notícias | Região Mobilidade Urbana

Transporte coletivo está sob risco de parar em Dois Irmãos

Wendling alega que a queda do número de passageiros inviabiliza a prestação do serviço

Por Bruna Mattana
Publicado em: 24.07.2020 às 05:00 Última atualização: 24.07.2020 às 09:15

Número de passageiros caiu em quase 85%, diz sócio de empresa Foto: Grupo Wendling-Facebook/Reprodução
"O número de passageiros caiu em quase 85%. Temos custo fixo e não temos mais condições. Chegamos em um ponto de colapso." O relato é de um dos sócios da empresa Wendling, de Dois Irmãos, Leandro Wendling, que realiza o transporte coletivo dentro do município e também de linhas intermunicipais.

A possibilidade de colapso já havia sido anunciada por Leandro em reportagem realizada pelo Jornal NH em maio deste ano, quando foram expostas as dificuldades no transporte coletivo na região, devido à pandemia.

Na ocasião, Leandro ressaltou que a empresa buscava auxílio junto à Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) para continuar com as operações até Novo Hamburgo, Morro Reuter e Santa Maria do Herval. Agora, a empresa quer ajuda também do Executivo municipal para manter o transporte coletivo na cidade.

Segundo Leandro, no momento a empresa aguarda um retorno da prefeitura. Já o pedido de subsídio realizado à Metroplan e ao Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (Daer) foi negado. "Se não recebermos auxílio, em 30 dias acontecerá a paralisação de todas as linhas."

O chefe do Departamento de Trânsito de Dois Irmãos, Mauro Agostini, ressalta que um projeto de lei para auxílio ao transporte do município deve ser votado na próxima segunda-feira. "Realizamos a abertura do edital nesta terça-feira para a concessão de empresa para a prestação de serviço de transporte coletivo urbano do município, mas não houve interesse por nenhuma empresa. Não podemos deixar nossos cidadãos desassistidos, por isso elaboramos o projeto."

Conforme o diretor de Transportes Metropolitanos da Metroplan, Francisco Horbe, está sendo analisada a possibilidade de um auxílio por parte do governo do Estado, mas ainda não há valores definidos. "O subsídio não será para uma empresa, mas para todas que estão apresentando prejuízos devido à pandemia."

O Daer informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que, na manhã desta quinta-feira (23), a Wendling encaminhou um e-mail ao protocolo do Daer com a documentação, solicitando a abertura de processo eletrônico. "Essa documentação será analisada pela Diretoria de Transportes Rodoviários (DTR) da autarquia. Em relação a auxílios, não há previsão legal neste sentido. O Daer pode fazer ajustes no que diz respeito à grade horária das linhas e na operação dos serviços."

Passageiros apreensivos

A possibilidade de suspensão da linha intermunicipal da Wendling preocupa passageiros como a auxiliar de limpeza Romilda Boff, 43 anos, que mora em Dois Irmãos e utiliza o ônibus diariamente durante a semana para trabalhar em Novo Hamburgo.

Ela conta que a pandemia já alterou esta rotina. "Antes, pegava um que passava por dentro do bairro Travessão. Com o coronavírus, eles alegaram falta de passageiros e só param na BR, às 6h05. Eu e mais cinco pessoas temos que caminhar uns 15 minutos para pegar este ônibus."

Ela alerta ainda que há horários em que o ônibus vem com praticamente todos os assentos ocupados. "Uma vez por semana pego o das 8 horas, e não tem esta história de um banco por pessoa."

A preocupação também é do estudante Adilson Fernandes, 17, que trabalha numa ferragem em Novo Hamburgo. Diariamente ele usa o ônibus. "Venho para cá de carona com meu patrão. Mas como faço meio turno, volto no começo da tarde. Sem ônibus, teria que esperar até o fim do dia para ganhar carona."

 

Contratação emergencial

O problema no transporte coletivo é antigo na região. Em Sapiranga, foi aprovado, na última sexta-feira (17), projeto de lei que autoriza a contratação emergencial do serviço de transporte público. As empresas que atuam no transporte público da cidade, Klein e Citral, devem prestar o serviço até 31 de agosto, segundo decisão judicial.

"Em 2018, fomos notificados de que as empresas parariam os serviços no início de 2019, então entramos com uma ação judicial para que os serviços fossem mantidos. Estamos montando um novo edital licitatório, pois os últimos foram desertos", pontua a procuradora-geral do município, Ariane Pereira. O administrador da Citral, Ricardo Neumann, diz que a redução foi de 70% dos passageiros transportados antes da decretação da pandemia.

A empresa Klein não foi localizada pela reportagem.

Em Taquara, segundo Neumann, a linha Transpar, administrada pela Citral, teve a mesma queda no número de passageiros, mas o serviço está mantido na cidade. O secretário de Transportes de Taquara, Rafael Rosa, ressaltou que em função da pandemia, o número de passageiros baixou e a Transpar reduziu o efetivo de ônibus.

Em Ivoti, a empresa Socaltur faz o transporte municipal e está trabalhando em escala de domingo e com horários reduzidos. A prefeitura informou que não está auxiliando a empresa.

 

Outros municípios pedem auxílio

Em Novo Hamburgo, após beirar o colapso e chegar a paralisar o serviço por um dia, o transporte coletivo teve auxílio financeiro por parte do Executivo aprovado na última semana.

Segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano do Vale do Sinos (Setup) e diretor da empresa Feitoria, Eder Scherer, o subsídio não vai suprir todos os gastos, mas ajudará para que as empresas de ônibus possam, pelo menos, pagar o salário dos funcionários e óleo diesel. "Precisamos garantir esse serviço essencial."

Em Estância Velha, um projeto para auxílio ao transporte coletivo seria votado nesta segunda, mas foi retirado de votação para ajustes na redação do texto. "Esperamos que ele seja votado o quanto antes, pois não sabemos quanto tempo ainda vamos conseguir rodar. Tivemos queda de mais de 90% dos passageiros e em nossas receitas", destaca o gerente da filial de Estância Velha da Viação Montenegro, Alcides da Silva. Segundo o Secretário de Segurança e Trânsito de Campo Bom, Rosalino Seara, a administração municipal ofereceu subsidiar o combustível para amenizar as perdas decorrentes da pandemia, o que não foi aceito.

"Solicitamos informações para verificarmos os prejuízos e se a administração poderá auxiliar com mais algum subsídio", salienta Seara.

 

Queda deR$ 100 milhões nas receitas

Segundo o diretor de Tarifas da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs), Carlos Alvin, a agência fez um estudo de impacto nas linhas intermunicipais metropolitanas, que apontou uma queda de receita de mais de R$ 100 milhões nas empresas, entre março e junho. "Apresentamos esses números ao Estado, mas repasses financeiros não competem a nós. Nossa preocupação é com a continuação do serviço."

 

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