O dia em que Garrincha jogou pelo Novo Hamburgo

O ano de 1969 marcou o mundo nos mais diversos setores. O homem chegava à lua,jovens norte-americanos celebrariam o amor livre em Woodstock e no Brasil, em plena ditadura, Gilberto Gil mandava “Aquele Abraço” na música mais tocada daquele ano, um dos hinos do período. Foi também neste ano, no primeiro dia de julho, que Novo Hamburgo recebeu o craque das pernas tortas Garrincha. A passagem pela cidade aconteceu em um treinamento coletivo, que definiu o time do Esporte Clube Novo Hamburgo para a partida amistosa do dia seguinte contra o Internacional, no Estádio Beira-Rio, no qual o Mané atuou com a camisa 7 do Anilado por cerca de 60 minutos. O Noia foi derrotado por 3 a 1, com gols colorados deSérgio, Tovar e Chiquinho, e Helenilton descontando para os visitantes. Garrincha não marcou, mas foi muito aplaudido e festejado, chegando a dar trabalho à defesa adversária com seus dribles.

Depois de ajudar a seleção brasileira a conquistar os mundiais de 1958 e 1962, o craque vivia seu declínio técnico. O célebre camisa 7 que brilhara com a camisa do Botafogo, estava vinculado ao Flamengo, após passar por Corinthians e Junior Barranquilla-COL. Sua vinda ao Estado não tinha ligação com o futebol. Dias antes, em 25 de junho, ele desembarcava no Salgado Filho acompanhando da sua esposa, a cantoraElza Soares.Elza faria uma série de shows durante duas semanas no Teatro Leopoldina, que depois seria o Teatro da Ospa, na Avenida Independência, em Porto Alegre.

 

Ponta-direita não perdeu vaga para o Mané

Quem viu Luiz Dirceu Soares de Melo atuar garante que era um ponteiro-direito rápido e habilidoso, que jogaria em qualquer equipe hoje em dia. Chamado apenas de Dirceu quando era responsável pelas jogadas do flanco direito do Noia nos anos 60 e 70, apesar de executar a mesma função de Garrincha, não foi sacado do time para aquele amistoso. “Ele foi jogar no meio para o Garrincha entrar”, conta um dos filhos, o agenciador imobiliário Eduardo Soares de Mello, o Duda, 36 anos, que também jogou no Anilado, como meia-atacante, entre 2002 e 2006.

Aos 71 anos, Dirceu, natural de Taquara, é vendedor de automóveis aposentado e reside com a esposa Marlene, no bairro Ouro Branco. Além de Eduardo, tem um filho mais velho, Marcelo, de 40 anos. Segundo Eduardo, apesar do jogo ao lado de um bicampeão mundial e de guardar com carinho uma única foto em que aparece ao lado do Mané, o que mais escuta do pai é sobre a qualidade do time que seria Campeão do Interior em 1972. “Ele sempre diz que o time era muito bom, a terceira força do Estado perdendo apenas para Grêmio e Inter”, explica.

Gol em treino no Santa Rosa

O amistoso entre Inter e Novo Hamburgo iniciava uma série de jogos enquanto o Gauchão daquele ano estava paralisado. O Grêmio tinha o lateral-esquerdo Everaldo na seleção e o regulamento previa a possibilidade da parada da disputa regional em casos como esse. O gremista disputaria no ano seguinte a Copa do México. Garrincha, em entrevistas a jornais da Capital, dizia que sua meta era voltar a vestir a camisa canarinho e disputar o mundial de 1970.

Três quilos acima do peso ideal, no Inter dizia-se que precisaria de um mês para entrar em forma. No entanto, Garrincha veio ao Santa Rosa, antigo estádio do Novo Hamburgo, e participou de um coletivo comandado pelo treinador Crespo. Em um minuto, o Mané abria o placar para os titulares, onde também estava Bira, com quem havia atuado no Botafogo.Assim ele garantiria presença no time contra o Colorado, no dia seguinte, na primeira partida da história do Anilado no Beira-Rio. Como uma espécie de cachê, o craque recebeu 2 mil cruzeiros novos da renda total da partida de NCr$ 6.490,00.

Atividade a convite do Inter

Sem atuar há dois meses, o Mané foi convidado pelo então presidente do Inter, Carlos Stechman, que recepcionou Garrincha e Elza no aeroporto, para treinar na capital. Sob comando de Daltro Menezes, Garrincha treino nos Eucaliptos, casa do Colorado até abril daquele ano, quando foi inaugurado o Beira-Rio. O nome do craque, que na época estava prestes a completar 36 anos, chegou a ser ventilado na dupla Gre-Nal, no entanto ele rodaria por diversos clubes, disputando amistosos ou tendo curtas passagens, até terminar sua carreira de forma oficial no Olaria-RJ, em 1972.

Era destaque há 50 anos

A edição do Jornal NH daquele 2 de julho de 1969 tinha como destaque principal a terceira visita, a segunda como presidente da República, do Marechal Arthur da Costa e Silva ao Município. Ele participaria dois dias depois, na sexta-feira, dia 4, da assinatura da duplicação da BR-116 do trecho entre São Leopoldo e Estância Velha, acompanhado do governador Walter Peracchi Barcelos e de outras autoridades. O prefeito Alceu Mossman convidava a comunidade a participar do evento em anúncio na capa daquela edição.