Os desafios para que o trem chegue até Campo Bom e Sapiranga

Expansão das linhas da Trensurb em 83,7 quilômetros e 51 estações traria economia

Reportagem: Débora Ertel

Uma economia anual de R$ 162,5 milhões, com 3 mil toneladas a menos de poluentes e redução de 13,8 mil acidentes de trânsito. Esses são alguns dos possíveis benefícios que a expansão das linhas da Trensurb em 83,7 quilômetros e 51 estações poderia gerar para a região metropolitana. Para a região, seriam contemplados diretamente Novo Hamburgo, Campo Bom e Sapiranga, com 16 quilômetros de linha e 16 estações. O investimento previsto para executar as primeiras três fases do projeto é de 3,3 bilhões de dólares, ou seja, mais de R$ 12,3 bilhões.

O projeto, que é definido pelo diretor-presidente da Trensurb, David Borille, como um "sonho" foi apresentado no seminário Desafios para o Avanço da Mobilidade sobre Trilhos na Região Metropolitana de Porto Alegre. O evento, que ocorreu nesta semana na sede da Trensurb, apontou a integração dos modais e o planejamento urbano como principais saídas para melhorar e garantir a mobilidade urbana de 3,3 milhões de pessoas.

No entanto, não há nenhuma previsão de quando a ampliação dos trilhos, projetada em cinco fases, poderá sair do papel. A expectativa é que as propostas sejam estudadas em conjunto com o governo federal até o fim de 2020. Apesar disso, só há a certeza de que o Vale dos Sinos por enquanto não é uma prioridade para a Trensurb. A justificativa está no volume de pessoas que serão beneficiadas por cada uma das etapas de extensão dos trilhos. Enquanto que a extensão de Novo Hamburgo a Campo Bom projeta atender 24 mil usuários por dia, a linha de Porto Alegre a Cachoeirinha deve beneficiar 280 mil passageiros diariamente. De acordo com diretor-presidente da Trensurb, inclusive a preferência é construir o primeiro trecho desta linha, que vai do Aeroporto Salgado Filho até o bairro Azenha, em Porto Alegre, numa extensão de 17 quilômetros.

 

 

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Trem até Sapiranga por VLT

A expansão da Trensurb de Novo Hamburgo até Sapiranga, conforme os estudos apresentados, seria feita por Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Esse é um sistema de transporte que está entre o metrô e o ônibus convencional. No Brasil, o VLT foi implantando recentemente na cidade do Rio de Janeiro onde transporta 40 mil pessoas por final de semana, sendo a maioria turistas. Para a região, a Trensurb projeta o VLT implantado em duas etapas. A primeira partindo da Estação Novo Hamburgo, ao lado do shopping, num trajeto de 9,5 quilômetros até Campo Bom, com 12 estações. A segunda, de Campo Bom a Sapiranga, com 7,1 quilômetros e quatro estações. A demanda total estimada para os dois trechos é de 24 mil passageiros.

Foto por: Débora Ertel/GES-Especial
Descrição da foto: No seminário: secretário Regla manifestou intenção de Sapiranga ter o trem

Único representante da região presente no seminário, o secretário de Planejamento, Habitação, Segurança e Mobilidade de Sapiranga, Carlos Maurício Regla, disse que o município mantém a reivindicação da ampliação do trem. "Se for por VLT ou se for por trem, não sabemos, mas o importante que Sapiranga seja atendida", disse. De acordo com ele, a prefeitura tem consciência de ser um investimento a médio e longo prazo e que a PPP é uma maneira de fazer a obra. Segundo Regla, a prefeitura compreende a necessidade de expandir o trem para Cachoeirinha e Gravataí por conta da alta demanda. "Mas o Vale dos Sinos não pode ser esquecido. Já foi feito em estudo e temos 24 mil pessoas para serem atendidas. Esperamos que um dia saia a extensão", ressalta. O secretária ainda informa que Sapiranga vai apoiar a iniciativa da Metroplan de criar uma licitação para interligar o transporte municipal e metropolitano ao trem.

Segundo o prefeito de Campo Bom, Luciano Orsi, disse por meio da assessoria de imprensa que a administração municipal apoia a ampliação do Trensurb até Sapiranga por todos os benefícios que pode trazer. Em especial para Campo Bom, porque desafoga o trânsito e o desenvolvimento econômico. Entretanto, Orsi ressalta saber que um projeto dessa magnitude, se torna pouco viável a curto e médio prazo, mesmo que seja por meio de PPP.

 

Como funciona um VLT

O VLT funciona com tração elétrica, com piso baixo, e não produz emissões de gases poluentes. Além disso, se move sobre trilhos e compartilha a mesma via com outros tipos de veículos e pedestres, com faixas segregadas ou não. É classificado como um sistema de média capacidade, com linhas curtas que atendem os centros urbanos, com demanda de 7 a 20 mil passageiros/hora. A distância média entre as estações normalmente é de 500 a 800 metros. Conforme a ANPTrilhos, um VLT de 40 metros tem capacidade para transportar mais de 400 passageiros, contra 80 em um ônibus.

No Rio de Janeiro, o investimento para implantar o VLT Carioca (foto) foi de R$ 1,2 bilhão. Conforme o diretor-presidente da empresa, Márcio Magalhães Hannas, em dois anos o VLT já é responsável pelo desenvolvimento do turismo na região central da cidade. Ele destaca ainda que o VLT diminuiu 50 mil carros nas ruas do Centro. A tarifa é de R$ 3,80.

Foto por: Divulgação/VLT Carioca
Descrição da foto: VLT opera na cidade do Rio de Janeiro e transporta 40 mil pessoas por dia

União detrilhos e pneus

Para o presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Joubert Flores, não existe mobilidade urbana sem integração de modais e sistemas. "A ideia de trilhos contra pneus já é ultrapassada. Não existe só com trilho e nem só com pneus", afirmou. Por conta disso, a ANPTrilhos defende a ampliação do sistema ferroviário, que tem alta capacidade de transporte de passageiros, mas a interligação com o transporte rodoviário. Para Flores, a proposta de Metroplan de racionalizar o transporte da região metropolitana, interligando o transporte municipal, metropolitano e a Trensurb precisa ser colocada em prática. "Não pode haver disputa. É preciso fazer uma coisa inteligente, uma mudança de cultura que passe por todos os modais", argumenta. O objetivo da Metroplan é propor uma licitação onde ocorra uma integração entre as linhas municipais, da Metroplan e o trem. Para que o processo seja concluído até 2020, é preciso que o edital seja aprovado na Assembleia e pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), antes de ser publicado.

 

Proposta de ampliação vem desde 2002

Os projetos que foram apresentados no seminário pela Trensurb para expansão em Porto Alegre, Cachoeirinha, Gravataí e Alvorada, têm como base estudos realizados entre 1998 e 2002. No caso de Campo Bom-Sapiranga, os estudos foram concluídos em 2015. O ramal para Triunfo, conforme a assessoria de imprensa da empresa pública, é apenas uma proposta preliminar do corpo técnico da Trensurb, ainda sem estudos mais aprofundados. Em relação à demanda de passageiros, os técnicos da Trensurb fizeram uma projeção para atualizar os dados em relação a 2002. No entanto, a assessoria esclarece que seria necessário um novo estudo técnico para confirmar com exatidão os números.

 

 

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Como tirar do papel?

Com a crise econômica vivida no Brasil e o discurso do governo federal de que falta dinheiro, a Trensurb acredita que a obra seria possível por meio de parceira público privada (PPP). Borille (foto) defende que a ampliação do transporte sobre trilhos, além de melhorar a mobilidade urbana, também promove a redução dos congestionamentos, revitaliza e valoriza áreas urbanas, além de resgatar socialmente esses espaços. "Olha o que era a área da linha férrea da Trensurb antes da construção das linhas? Hoje temos comércio, urbanização e um novo cenário urbano", defende.

Sobre a modelagem do projeto e possibilidades de financiamento, incluindo estudos adicionais necessários para que saia do papel, a assessoria de imprensa da Trensurb diz que ainda é muito cedo para se ter perspectivas concretas. Ainda segundo a assessoria, não é possível avaliar como uma eventual descentralização ou privatização da empresa poderia afetar o processo. Em relação à possibilidade de realizar a obra, a Trensurb aposta em uma PPP ou Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).

 

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Proposta do trem até Canudos não avançou

Em junho de 2017 o Jornal NH divulgou que o então secretário-executivo do Ministério das Cidades, Marco Aurélio de Queiroz Campos, havia recebido o projeto que previa a expansão do Trensurb como uma linha de aeromóvel até o bairro Canudos. A proposta era que o trecho teria quatro quilômetros, com dois terminais e duas estações, entre Canudos e o centro. A demanda apontada era de 65 mil pessoas por dia. A proposta fazia parte de um estudo da empresa Aeromóvel do Brasil e da China Railway First Group Engenharia (CREC). A previsão inicial era que o governo se manifestaria em 180 dias sobre o estudo.

Conforme a assessoria de imprensa da Casa Civil do governo federal, não houve continuidade dos empreendimentos previstos para expansão do aeromóvel na região de Porto Alegre. E, neste ano, a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) não foi procurada pelo grupo chinês para retomar o assunto.