Cercadas pelo medo, escolas precisam acorrentar até os bebedouros contra os ladrões

Escola da Santo Afonso sofre cinco invasões em apenas 20 dias

Por Susi Mello

A Escola Municipal Harry Roth, do bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, novamente foi vítima da ação de delinquentes, que invadiram a instituição pela quinta vez em menos de 20 dias e pela sexta vez neste ano. Desta vez, não respeitaram nem o primeiro dia de retorno das férias de inverno.

Nesta segunda-feira (5), menos de uma hora antes da direção e funcionários da cozinha chegarem para preparação do café para receber os mais de 200 alunos do turno da manhã, eles arrombaram o laboratório de aprendizagem. Nada foi levado, mas causaram prejuízo. Ainda que os números desta escola destoem da realidade (levantamento da Secretaria Estadual de Segurança Pública aponta uma média de pelo menos 4,5 furtos por mês em escolas da região), os impactos na educação são grandes.

Às 6 horas, o alarme da Harry Roth disparou porque a porta do espaço havia sido arrombada. Ela foi danificada e a sala ficou bagunçada, com jogos pedagógicos jogados no chão e o armário revirado. "Talvez eles procuravam por computadores", comentou a diretora Carla Andréa Algayer Soares. O prejuízo das invasões já ultrapassa R$ 6 mil, em uma instituição que, assim como outras da rede pública, precisa fazer ações beneficentes para angariar recursos.

Recepção

Quem chega na Harry Roth pode se questionar se é uma instituição de ensino ou uma prisão. Ontem, as boas-vindas ao segundo semestre eram compartilhadas com correntes de ferro e cadeados por todos os lados. As portas da cozinha, biblioteca, laboratório de informática, secretaria, sala da direção, portão de entrada e corredores têm correntes e cadeados. Algumas destas trancas já tiveram que ser substituídas.

  • Contrastes: na escola Harry Roth, cartaz dava boas-vindas para alunos...
    Foto: Juarez Machado / GES
  • ... mas correntes mostram preocupação com a segurança
    Foto: Juarez Machado / GES

Além disso, os seis aparelhos de ar-condicionado e um dos bebedouros têm a fixação rodeada por cinta de ferro, para não serem levados. A diretora disse que a instituição já encaminhou pedido para ampliar o sistema de alarme. "Nós temos alarmes, sensor de presença, mas precisa de ampliação ou de um guarda permanente", diz.

Invasões que acumulam prejuízos na instituição

  • Aparelhos de ar-condicionado estão fixados às paredes
    Foto: Juarez Machado / GES
  • Situação semelhante acontece com bebedouros
    Foto: Juarez Machado / GES
  • Correntes e cadeados contrastam com a imagem receptiva que a Escola tem na comunidade
    Foto: Juarez Machado / GES
Em abril deste ano, a Escola Harry Roth também tinha sido invadida. E agora, em menos de 20 dias, essa é a quinta vez, com três ataques em julho e dois neste mês. No dia 18 de julho, quatro torneiras de ferro do bebedouro do pátio foram levadas. No dia seguinte, cadeados foram arrombados e foi levada uma panela de pressão industrial avaliada em 600 reais. No dia 30, dois notebooks foram roubados da sala da direção.

Avaliados em R$ 2,5 mil cada um, os computadores foram levados após a danificação de outras trancas. Agosto começou com arrombamentos que geraram prejuízos no prédio, mas nada foi levado. No dia 1º, o alarme tocou porque os cadeados da porta de entrada foram danificados. Ontem, o alarme pode ter evitado um novo roubo.

Região tem 4,5 furtos em escolas por mês

Por Felipe Nabinger

Conforme dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP/RS), somente nas principais cidades da região de cobertura do Jornal NH foram registrados no primeiro semestre do ano 27 furtos em escolas, média de 4,5 ao mês. A grande maioria deles em Novo Hamburgo que, além dos 18 furtos a estabelecimentos de ensino, teve ainda um roubo. O número é semelhante ao mesmo período do ano passado, quando foram 26 ataques, 19 deles no Município, e um roubo.

O elevado número de furtos a escolas é uma preocupação na cidade. Tanto que, dentro do programa RS Seguro do governo estadual, Novo Hamburgo, uma das 18 cidades prioritárias, aparece com monitoramento de roubos e furtos a estabelecimentos comerciais e de ensino, além dos indicadores comuns a todos os municípios destacados: crimes violentos, roubos a pedestres e roubos de veículos.

Chamam atenção também os quatro furtos em Igrejinha, que no ano passado não havia apresentado esse tipo de registro. Os outros ataques no primeiro semestre desse ano foram em Estância Velha (2), Sapiranga (2) e Campo Bom. 

Autoridades comentam

Por Felipe Nabinger

Guarnição responsável pela segurança de prédios públicos municipais, a Guarda Municipal de Novo Hamburgo foi procurada para comentar os furtos que vêm acontecendo em escolas. O diretor da GMNH, Ulisses José da Silva, afirma que com o investimento em alarmes de empresas terceirizadas por parte da Prefeitura em escolas municipais, o tempo de resposta vem sendo melhor. "Quando não conseguimos o flagrante, há pelo menos a minimização dos danos." Ele diz que houve aumento das rondas e monitoramento constante.

Por parte da Brigada Militar, o comandante do CRPO/VRS, coronel Vitor Hugo Konarzewski, comentou as ações na região, já que há registro em outros municípios pertencentes ao comando. "Estamos prendendo como nunca. Mas muitos desses indivíduos não ficam 24 horas presos e voltam a delinquir", comenta sobre decisões judiciais que devolvem os detidos às ruas. Konarzewski afirma que houve aumento de viaturas no policiamento ostensivo. "Houve redução de todos os índices de criminalidade. Mas não está bom. Nossa meta é zero", afirma. 

Saiba mais

A secretária de Educação de Novo Hamburgo, Maristela Guasselli, disse que a Harry Roth, no bairro Santo Afonso, está na fila para receber a instalação de novas câmeras e, também, de sensores infravermelhos.

A secretária frisou ainda que existe um trabalho integrado que vem sendo realizado com a Secretaria de Segurança e que os profissionais realizam ronda nas escolas dos diversos bairros.

"Infelizmente os ataques nesta escola têm sido recorrentes. Várias manutenções já foram feitas, inclusive troca de portas, janelas, bem como reforma de telhados arrombados e danificação na parte hidráulica da escola", disse a secretária. Conforme Maristela, os profissionais oferecem suporte para as 86 escolas da rede municipal, inclusive estando preparados em como agir em cada situação, como brigas e, também, roubos.


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