Quem larga na frente nas eleições 2020? Especialistas falam sobre o pleito do ano que vem

Ano que vem serão escolhidos prefeitos e vereadores nas cidades da região

Reportagem: João Victor Torres

A cada dois anos os brasileiros realizam exercício de democracia frente às urnas. Afinal, os eleitores têm a opção de escolher quem serão seus representantes a ocupar os cargos máximos da República ou dentro de suas cidades nos quatro anos seguintes ao pleito. No ano passado, foi a vez de definir o comando do Planalto e do Piratini, bem como renovar representação gaúcha no Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa.

Já pensando em 2020, quando será a vez das eleições municipais, o clima entre partidos políticos e possíveis candidatos já é bastante acirrado.

Especialistas apontam que os eleitores possuem entendimentos distintos para esses pleitos

Especialistas apontam que os eleitores possuem entendimentos distintos para esses pleitos. Não apenas a fração de tempo a separar as duas votações modifica o pensamento dos cidadãos, mas a forma como enxergam a necessidade das demandas a serem atendidas.

"Uma eleição municipal é, sobretudo, uma eleição local. Neste sentido, o eleitor está mais preocupado com questões práticas do seu cotidiano, com a sua rua, por exemplo, com o valor do IPTU, com a coleta de lixo, do que com a reforma da Previdência, obviamente", apontou o professor de Ciência Política da Universidade Feevale e consultor político Everton Rodrigo dos Santos.

O fenômeno também é explicado pela socióloga e diretora do Instituto Amostra, Margrid Sauer, que indica as razões pelas quais uma eleição aos cargos de prefeito e vereador possuem um peso maior. "Via de regra, as eleições municipais atraem mais a atenção do eleitor. Ele está mais perto do prefeito e fazer uma escolha ruim para esse cargo tem consequências mais imediatas na vida do eleitor", pontuou.

Novidades

A própria relação do eleitor com a vida em particular pesa no momento de decidir os rumos do País ou da localidade que reside. O descrédito da classe política em geral é outro dilema a ser enfrentado pelos "novos" e "velhos" candidatos. 

"Há um sentimento geral de descontentamento com a vida e em particular com classe política, que tem se afastado completamente de seus eleitores", observa o professor.

Isso é explicitado, na sua ótica, por componentes diretamente ligados ao que as pessoas enxergam em seu cotidiano, seja pelo acúmulo de problemas sem solução ou a ineficiência de serviços. "O Estado faliu, presta serviços de terceiro mundo e arrecada impostos como se fosse de primeiro. A economia não cresce, o emprego declina. A tendência será de afastamento dos futuros candidatos do estereótipo do político tradicional, se quiserem ganhar as eleições", reforçou Santos.

Organização é reflexo de bons resultados

Por mais que os eleitores ainda não enxerguem a eleição para escolher novos prefeitos e vereadores como uma realidade próxima de seus horizontes, quem larga em vantagem nessas fases pré-eleitorais em termos de organização, pode colher os louros após a abertura das urnas e com o término da esperada contagem de votos. Santos considera que, candidatos "bem mais organizados em suas campanhas, sobretudo aqueles que investirem fortemente em informação, posicionando adequadamente sua candidatura através de pesquisas eleitorais quantitativas e qualitativas", saem na frente dos demais concorrentes.

O professor lembra o fato de que, atualmente, a forma de fazer campanha é diferente e exige mais dos políticos. "Uma campanha moderna não é uma relação do candidato com seus eleitores, mas uma relação de seus técnicos de campanha com seus leitores. São estes técnicos que fazem o ajuste fino, esta intermediação, este aparente encontro fortuito entre o candidato e o eleitor", acredita. 

Dentro deste campo das novidades, as redes sociais aparecem como uma ferramenta para captar o interesse de eleitores a uma determinada candidatura. Apesar disso, não basta apenas formalizar um perfil e abastecer com conteúdos diversos. A estratégia é fundamental. "É preciso saber usá-las. Não adianta entrar amanhã nessa plataforma e achar que vai arrebanhar seguidores, até porque seguidores não necessariamente significam eleitores", lembra Margrid.

A vida acontece nas cidades

A relação de proximidade com os gestores públicos que ocupam cargos de Executivo ou Legislativo nas cidades faz com que, de acordo com os especialistas, ocorra uma avaliação da gestão mais criteriosa. A partir disso, o professor Everton Rodrigo dos Santos elenca que os eleitores da região estão cada vez mais preocupados, especialmente, com um tripé formado por saúde, segurança e emprego. "Qualquer candidatura da região terá de enfrentar esta agenda mínima. Os candidatos terão de apresentar propostas concretas para a resolução de problemas concretos. Há uma impaciência geral do eleitorado com a classe política", exemplificou.

Perfis

Sobre a posição dos candidatos no campo da esquerda e da direita, com base na eleição passada, Santos acredita que conservadores em costumes e liberais na economia podem ter uma ligeira vantagem. Entretanto, as especificidades locais podem servir como barreira para este sentimento dos eleitores. "Mas, sem dúvida, um candidato com um perfil mais à direita que conta com lideranças locais para apoiá-lo e um eleitor conservador, está com uma bela dianteira em relação aos demais e vice-versa", disse.

Na região de cobertura do ABC Domingo, analisando as pesquisas e amostragem realizadas recentemente, o pesquisador indica um eleitorado feminino em crescimento. Em comparação com indicadores passados, os eleitores são "ligeiramente menos escolarizados, porém mais velhos, cada vez mais conectados às redes sociais e sabem muito bem avaliar o gestor", frisou. Com esse perfil, "diferentemente de 'ontem', as novas tecnologias dão a ele uma grande visibilidade do candidato que está escolhendo", complementou.

Afinal, qual será o peso do pleito de 2018?

Os resultados das eleições gerais do ano passado, que levaram Jair Bolsonaro (PSL) ao poder, e mantiveram a escrita de que governadores do Rio Grande do Sul que buscam a reeleição não obtêm êxito, podem ser vistos como indicativos de possíveis posições dos eleitores em 2020. Apesar disso, os especialistas veem com reserva a forma como os brasileiros e moradores da região devem votar no pleito seguinte.

"As últimas eleições presidenciais e para governador foram, de certa forma, um termômetro das tendências gerais do eleitorado brasileiro que optou por candidaturas 'fortes', de combate à corrupção, de defesa de valores tradicionais, pelo menos mais ao sul e sudeste", analisou Santos. "Apesar das eleições municipais terem suas especificidades e cada município ter problemas locais, convém não negligenciar estes aspectos mais gerais que, de alguma maneira, estarão implicados no próximo pleito, com certeza", complementou o cientista político.

De acordo com Margrid, o desempenho dos governantes eleitos recentemente também poderá ter um peso "extra" na votação seguinte. Segundo a socióloga, "o brasileiro fez uma aposta, trocou figuras conhecidas por uma esperança", ponderou. Em especial à análise que faz sobre o efeito Bolsonaro, acredita que se o presidente obter uma melhora significativa do setor econômico, a escolha por candidatos novos e de partidos menores, pode ganhar fôlego. "Se o desempenho for ruim, talvez a novidade não tenha tanta força e prevaleçam os candidatos mais conhecidos e de partidos mais tradicionais", sinaliza.

Voto decidido cada vez mais próximo da eleição

Não adianta: o eleitor bate o martelo sobre o candidato que levará o seu voto somente a poucos dias da eleição. A indicação das pesquisas elaboradas por institutos apontam para esse caminho de forma cada vez mais contudente. Segundo Margrid, "na reta final é que o eleitor decide o voto, e na última eleição isso foi mais evidente, porque tivemos as redes sociais atuando de forma muito forte", citou. A batalha de fake news, que marcou a eleição presidencial de 2018 com mais força, também deverá estar presente na realidade dos eleitores.

"Não creio que no ano que vem isso será diferente. Portanto, nessa guerra de falsas notícias, a volatilidade do voto tende a permanecer", lembrou. Com esse cenário cada vez mais consolidado na visão dos pesquisadores, "essa oscilação do eleitor irá até o último dia", acrescentou Margrid.

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