Quase 50 meses depois do início dos parcelamentos e atrasos de salários, as contas dos professores da rede estadual de ensino viraram uma bola de neve. Eles não sabem mais em que dias recebem seu pagamento, porque é variável. Já perderam de vista as vezes em que tiveram que alterar a data de vencimento dos boletos, pois nunca têm a certeza de que o dinheiro para quitá-los terá chegado. O contracheque de outubro, por exemplo, começou a ser recebido apenas no início da semana passada. E há profissionais que vão terminar de vê-lo chegar à conta bancária somente em dezembro. Enquanto isso, as cobranças não falham.
A situação da diretora do Colégio Ignácio Christiano Plangg, Magda Schaeffer, e de seus colegas é essa. Mas, segundo ela, não é o único motivo que levou a categoria à greve desde o início da semana passada. O anúncio do pacote Reforma RS, no dia 13 de novembro, proposto pela equipe do governador Eduardo Leite, altera carreiras de servidores e implementa novas regras previdenciárias. "A sociedade precisa entender que há outras formas de recuperar o Estado. Não é o sacrifício dos professores que vai pagar as contas do Rio Grande do Sul. Está na hora de outros segmentos contribuírem", diz.A docente explica que realiza malabarismos para não deixar responsabilidades financeiras em aberto. "A gente se dedica primeiro a uma conta, vai pedindo auxílio e chega a ir no banco para 'cobrar' o nosso salário, pedindo o adiantamento e deixando juros para eles", relata. O 13º salário, por exemplo, era parcelado em dez vezes. Agora, Magda explica que deve receber em 12 parcelas. "Não somos privilegiados, como a sociedade pensa", acrescenta.
Preocupação
Para a diretora da Escola Leopoldo Petry, Carla Menezes, a realidade é crítica. "A gente está perdendo muita coisa e está todo mundo bem apreensivo. O que nos afeta muito são os triênios, a questão da aposentadoria e da unidocência", explica. Este último caso ocorre quando um único professor leciona todos os conteúdos. A falta de diálogo com a categoria é o principal problema apontado pela diretora da Escola Otávio Rosa, Ana Maria Rodrigues. "O professor, que é a parte essencial desse processo, pouco é chamado para expor as necessidades dele. O governo monta planos como se fosse proprietário do fazer diário do professor, sem conhecer a realidade de cada escola estadual", frisa.
O Sindicato de Servidores de Nível Superior (Sintergs) tem assembleia a partir das 16 horas de amanhã, na Praça da Matriz, mesma data em que definiu iniciar a paralisação das atividades. Representantes da Brigada e dos Bombeiros também reivindicam.
O fim do plano de carreira, extinção de reajustes por tempo indeterminado e o aumento da contribuição e do tempo para a aposentadoria também estão entre as insatisfações dos docentes e funcionários de colégios com o novo pacote. Mas, ao mesmo tempo, os professores também demonstram preocupação com a sala de aula. Por isso, mantêm diálogo com as equipes das escolas em relação à continuidade da greve. "Parte do grupo é favorável que esperemos até terça-feira, quando ocorre a assembleia. Na quarta-feira, podemos nos reunir e definir a permanência. Mas tudo isso ainda está sendo debatido", pontua Magda. "Nós reavaliaremos nesta segunda", diz Carla. No Colégio 25 de Julho, que aderiu parcialmente ao movimento, a diretora Janaína Barbosa de Souza diz que atividades estão sendo pensadas para amanhã. "Talvez uma manifestação aqui na escola após o intervalo", resume.
De acordo com o Cpers/Sindicato, a mobilização contra o pacote do Piratini será mantida nos próximos dias. Amanhã, ocorre uma assembleia geral na Praça da Matriz, em Porto Alegre, a partir das 13h30. No 14º Núcleo do Cpers, o levantamento de sexta-feira apontou que 83 colégios estavam em greve, de um total de 130. O diretor geral, Luiz Henrique Becker, explica que eram 27 escolas 100% paralisadas. "A greve continua forte. De quinta para sexta-feira, houve acréscimo no número de escolas paralisadas", afirma. Mais de 60% das escolas da zona do 32º Núcleo, em Taquara, se movimentam no sentido da paralisação. "A assembleia não deve definir o término da greve, até porque não tivemos nenhuma resposta do governo ainda. Vamos manter o chamamento", explica a diretora geral, Simone Goldschmidt. Na área do 5º Núcleo, com sede em Montenegro, as 22 escolas estavam envolvidas. "Temos 12 escolas 100% paralisadas. Se nada for feito, vamos seguir", destaca a diretora geral, Juliana Kusller.