Um olhar especial para os animais abandonados
Pesquisa feita por estudante de medicina veterinária analisou os principais tipos de atendimentos do Centro Municipal de Proteção aos Animais
A estudante Bruna Scherer, do curso de Medicina Veterinária da Universidade Feevale, traçou um perfil epidemiológico dos cães e gatos recolhidos pelo Centro Municipal de Proteção aos Animais (Cempra), de Novo Hamburgo, no período de 2017 a 2019. O trabalho foi realizado em parceria com os médicos veterinários Deisy Cristina Heck, Karen Silveira de Souza e Maicon Faria, do Cempra, e com a médica veterinária Andréia Henzel, professora orientadora.
O estudo lembra que a população de cães e gatos tem aumentado progressivamente. Em 2018 foram contabilizados 54,2 milhões de cães e 23,9 milhões de gatos no Brasil. "Os benefícios que os pets trazem aos seus tutores são amplamente conhecidos. No entanto, práticas como maus-tratos, abuso e abandono geralmente são reportadas e geram punições", afirma Bruna, acrescentando que nesta semana foi sancionada uma lei que aumenta a pena para quem maltratar cães e gatos.
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Trabalho será apresentado em programa
A pesquisa resultou em um trabalho científico que será apresentado no Inovamundi 2020, programa de difusão do conhecimento científico e extensionista da Universidade Feevale, que ocorrerá de 17 a 24 de outubro.
O Inovamundi visa estimular a produção, a divulgação e a discussão de conhecimentos científicos, tecnológicos, sociais e de inovação desenvolvidos no contexto universitário e na Educação Básica.
Maioria dos atendimentos é para castração
O Cempra, que está localizado na Estrada do Walahay, 1400, no bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo, recolhe animais não castrados e/ou que apresentam complicações anatômicas, morfológicas, nutricionais e/ou infecciosas. Das 445 solicitações atendidas no ano passado, foram recolhidos 910 animais, já que normalmente mais de um animal é atendido em um único pedido, totalizando 79,1% (720) cães e 20,9 % (190) gatos.
Nos cães, casos de cegueira, claudicação e desidratação foram reportadas em 9,8% das vezes e atropelamento em 9,3%. A solicitação por castração foi a mais frequente, correspondendo a 70,8% das vezes. Foram observados, também, casos de miíases (infestação parasitária), feridas, presença de espinhos de ouriço, prenhes e nódulos, sugestivos de tumor. Ainda houve casos suspeitos de cinomose, parvovirose e leishmaniose. Para gatos, a castração também foi a solicitação mais frequente, totalizando 85,8% dos casos, seguida de claudicações e/ou feridas (11,6%) e atropelamentos (2,6%).
Segundo Bruna, a castração contabilizada pelo Cempra não é suficiente para reduzir as populações de cães e gatos no Município. Além disso, questões orçamentárias para atendimento veterinário, viagens e falta de conhecimento e tempo dos tutores levam ao abandono dos animais.
Abandono sensibiliza profissionais
A professora Andréia Henzel, que trabalha essa temática na disciplina de Bioética do curso de Medicina Veterinária, diz que o abandono de animais sensibiliza os futuros profissionais, pois é contrário aos princípios básicos da bioética. Outros temas, como acumuladores de animais e abuso, e os que envolvem veterinários - comercialização de produtos restritos à área, alteração de produtos alimentícios e negligência - também são abordados, na premissa de formar profissionais éticos associados ao viés técnico, científico, crítico e reflexivo", destaca.
Mais de 1,2 mil pedidos em 2019
A análise da estudante foi entre 2017 e 2019. Foram registrados 737 pedidos em 2017 e 1.300 em 2018. Em 2019, devido à inserção dela no local, foi possível realizar um detalhamento das solicitações. Dos 1.223 pedidos, 36% (445) foram atendidos. Nos demais, o animal possuía tutor ou não foi encontrado.