Frente a uma patologia ainda em estudo, as reações - temporárias ou permanentes - agora recaem sobre as alterações cognitivas que o coronavírus provoca no organismo.
O mais intrigante, conforme a neuropsicóloga Lidiane Klein, é que em cada organismo o coronavírus tende a ter uma manifestação diferente e também sequelas após a cura. "Dentre elas, algo que tem sido motivo de recorrente queixas é o efeito da Covid-19 nas funções cognitivas, principalmente memória e atenção. Algo a se frisar é que os prejuízos cognitivos podem ter um atraso de meses, não se apresentando logo após a doença", detalha.
Névoa cerebral
Lidiane destaca que os pesquisadores têm usado o termo brain fog (névoa cerebral, em inglês), que seria a condição desenvolvida pelo coronavírus a qual envolve a perda de memória recente, dificuldade de concentração e de execução de tarefas habituais, além de uma lentificação de raciocínio.
"No início, essas queixas eram associadas a pessoas que ficaram em estado grave, passando por internação hospitalar e sofrido comprometimento da função respiratória que exigia intubação, o que poderia ter ocasionado uma possível falta de oxigenação no cérebro. Agora, entretanto, mesmo pessoas que desenvolveram formas mais leves também estão apresentando os sinais", diz.
No mundo atualmente existem mais de 200 estudos que buscam respostas ao impacto neurológico direto e indireto da Covid-19 no cérebro. "Algo que já se sabe é que o perfil mais afetado é de pessoas acima de 40 anos", destaca a neuropsicóloga.
Ainda não há, porém, respostas absolutas para a questão. "A etiologia dos sintomas, ou seja, origens e causas está sendo muito pesquisada e ainda não se chegou a um consenso, acredito que principalmente devido à complexidade do vírus. Suas causas provavelmente sejam multifatoriais, podendo estar ligada ao efeito direto da infecção, a doenças cerebrovasculares (incluindo a hipercoagulação), a um comprometimento fisiológico (hipoxia), a efeitos colaterais de medicamentos e a aspectos sociais de uma doença potencialmente fatal", acrescenta.
Dados do Hospital Universitário de Oslo (Noruega), em estudo com 13 mil participantes, citam que 12% dos infectados apresentavam problemas de memória 8 meses após contrair o novo coronavírus.
Ainda não se sabe muito sobre a reversão do quadro de declínio cognitivo, destaca Lidiane. "Assim como algumas pessoas não retornaram com seus paladares e olfato depois de meses da recuperação da Covid-19, outras seguem apresentando falhas significativas na memória, função executiva e linguagem."
Também não se sabe se os declínios estagnam, persistem ou pioram com o tempo. "Pesquisadores têm sugerido que no futuro possamos relacionar à incidência de demências, como Alzheimer."
O tratamento indicado até o momento é justamente exercitar a memória. “O que se sabe é que não há remédio específico e as estratégias são as mesmas empregadas contra as disfunções cognitivas em geral, sendo que a reabilitação neuropsicológica é o tratamento mais indicado”, explica Lidiane. Antes de aderir a um programa de reabilitação neuropsicológica é importante que a pessoa busque avaliar o seu grau de comprometimento, através de uma avaliação neuropsicológica, claro com o neuropsicólogo.
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