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Cotidiano | Entretenimento Polêmica

Discussão nacional: a arte e o fantasma da censura

Episódios recentes motivam preocupação de artistas com repressão à expressão artística

Por AFP
Publicado em: 03.10.2017 às 18:18 Última atualização: 19.01.2022 às 13:53

O blog XYZ raramente utiliza material de agências de notícias. Hoje, entretanto, esta postagem reproduz uma matéria da AFP que traz uma discussão muito útil e atual. Ela aborda a questão da preocupante repressão a atividades artísticas, que recentemente entrou na pauta nacional e promete ser um dos assuntos nos próximos meses. 

Confira a matéria da AFP:

Foto por: Fredy Vieira/Reprodução/facebook.com/santandercultural
Descrição da foto: Exposição Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, que foi fechada após protestos

Uma peça de teatro em que Jesus Cristo é uma transexual é proibida por ordem da Justiça; uma exposição que reflete sobre diversidade sexual e religião é cancelada por pressão de grupos conservadores. Uma onda conservadora impõe a sua voz no Brasil e abre debates sobre arte e censura.

O episódio que lidera todas as polêmicas é a exposição de arte contemporânea "Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira", realizada em Porto Alegre pelo Santander Cultural, que foi cancelada depois que o Movimento Brasil Livre (MBL) lançou uma forte campanha acusando-a de fomentar a pedofilia, a zoofilia e de atacar o cristianismo. No centro das críticas do MBL estavam um quadro que ilustrava poses afeminadas de crianças ("Criança viada travesti da lambada"), uma obra em que Jesus é um macaco nos braços de Maria, outra em que duas pessoas fazem sexo com um cachorro e hóstias com as palavras "cu" e "vagina" escritas.

Meios de comunicação do país asseguravam que esta exposição em prol da diversidade sexual e religiosa iria para o Rio de Janeiro, mas depois da performance de um artista nu em São Paulo voltar a gerar comoção, o prefeito Marcelo Crivella quis "colocar os pingos nos 'is'". "A gente não quer esta exposição. Saiu no jornal que ia ser no MAR (Museu de Arte do Rio), só se for no fundo do mar, porque no Museu de Arte do Rio não!", declarou Crivella no domingo no Facebook.

Foto por: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Descrição da foto: Bolsonaro chama Dia Internacional dos Direitos Humanos de Dia Internacional da Vagabundagem

O cancelamento da "Queermuseu" ocorreu em 10 de setembro e poderia ter sido esquecido, mas a história se repetiu em episódios similares e abriu um debate nacional. Diante das condenações e manifestações de grupos LGBT, agentes culturais e movimentos de esquerda, via-se a comemoração dos conservadores. "Tem que fuzilar os autores dessa exposição!", chegou a dizer o deputado de extrema direita Jair Bolsonaro, em segundo lugar nas intenções de voto para as presidenciais de 2018.

O curador da exposição foi chamado para comparecer diante de uma comissão de investigação do Senado, convocada pelo evangélico Magno Malta. De fato, a polêmica abriu uma série de questões no País, que vive uma onda conservadora. Além disso, o número de igrejas evangélicas cresce vertiginosamente, com cada vez mais figuras na política.

Foto por: Divulgação/Santander Cultural
Descrição da foto: Chegou a haver interesse em levar a exposição Queermuseu a outros locais, como o Rio de Janeiro, mas recentemente o prefeito carioca Crivella negou que isso vá acontecer, pelo menos em espaços públicos municipais

Foi um ato de censura? A arte deve ter limites? Essa decisão pode abrir um precedente? Este é o "novo" Brasil? Poucos dias depois do cancelamento da "Queermuseu", a Justiça bloqueou uma peça que misturava religião e sexualidade. Um juiz de São Paulo proibiu em 16 de setembro a apresentação de "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu" em um teatro no interior do estado, protagonizada por uma atriz transexual, atendendo a pedidos de grupos católicos.

A polícia confiscou um quadro chamado "Pedofilia" no Museu de Arte Contemporânea do Mato Grosso do Sul porque um grupo de deputados considerou que ele fazia apologia a esta ação. E o Ministério Público do Estado de São Paulo investiga desde o fim da semana passada se houve atos de pornografia ou pedofilia na performance de um homem nu no Museu de Arte Moderna de São Paulo, após circularem vídeos de uma criança e sua mãe encostando em seu pé.

"Gosto de arte, admiro a arte, mas tudo, tudo, tudo, tem que obedecer um limite", manifestou o prefeito de São Paulo, João Dória. "Não é um episódio isolado, foi construído um clima político e que entrou no campo da arte, onde sempre houve esse lugar de autonomia, de provocação, de incômodo", disse à AFP Ivana Bentes, curadora e que foi secretária de Cidadania e Diversidade Cultural durante o governo de Dilma Rousseff.

A censura no Brasil teve o seu último auge durante a ditadura militar, de 1964 a 1985, e alcançou as telenovelas, músicas e a imprensa. "A história da censura no Brasil foi muito forte, mas era o Estado, e agora a gente tem, mas o Estado é respaldado por movimentos conservadores organizados e desorganizados", acredita Bentes.

Em um país profundamente dividido, há acadêmicos que pensam que esses episódios ocorrem em "tempos de intolerância" tanto da direita como da esquerda. "É um sintoma de falta de liberdade de expressão e de um ambiente propício à censura", considera Cássio Oliveira, doutor em Filosofia da Arte.


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