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Cotidiano | Entretenimento Música

Relembre a trajetória de Caetano Veloso, que faz 80 anos

Por vezes narciso, que acha feio o que não é espelho, o artista baiano símbolo do tropicalismo completa 80 anos neste domingo

Por Marcelo Kenne Vicente
Publicado em: 06.08.2022 às 03:00

Este ano tem sido marcado pelo aniversário de 80 anos de grandes nomes da música. Gilberto Gil (26 de junho), Milton Nascimento (26 de outubro), Paulinho da Viola (12 de novembro) e também Paul McCartney (18 de junho) estão entre os notáveis oitentões de 2022. Neste grupo ainda está nada menos que Caetano Veloso, aniversariante deste domingo, 7 de agosto.

Caetano em festival de música popular
Caetano em festival de música popular Foto: Divulgação

Mesmo com o passar do "tempo, compositor de destinos e tambor de todos os ritmos", como versa Caetano, o artista continua a deixar sua assinatura como necessário compositor e intelectual contemporâneo. O seu mais recente álbum, Meu Coco, de 2021, é um bom exemplo. Nele, há ares de rock, samba, funk carioca, referências a artistas da geração de hoje e ainda um elemento fundamental em sua obra: falar sobre o mundo que o cerca.

Nascido em 1942 na cidade de Santo Amaro, na Bahia, Caetano cresceu em um Brasil industrial e com uma nova linguagem artística resultante do modernismo. Líder, ao lado de Gilberto Gil e de outros nomes, de um dos movimentos mais criativos da música brasileira, o tropicalismo, ele forjou uma identidade própria "sem lenço e sem documento" ao relacionar em versos e arranjos aspectos da cultura nordestina, da bossa nova, do samba e dos Beatles.

Desse mergulho, surgiram obras-primas, como o seu álbum de 1968 que apresentou ao público clássicos Alegria, Alegria, Tropicália, Soy Loco por Ti America e No Dia em que Vim-me Embora. Para além da música, embora não fosse um militante político declarado - sua obra já é um manifesto em si -, tornou-se um dos ícones da resistência contra o período mais duro do regime militar, por acreditar que "era proibido proibir". Por causa disso, foi preso entre 1968 e 1969 e se exilou em Londres.

Mais tarde, homenageado por Roberto Carlos (há quem ainda crie uma rivalidade entre os lados) na canção Debaixo dos Caracóis de Seus Cabelos, Caetano avançou os anos de 1970 com grandes criações em álbuns como Transa, Bicho e Muito - Dentro da Estrela Azulada. No período, compôs canções que ficaram conhecidas em sua voz ou na de outros intérpretes, tal qual Força Estranha, gravada por Gal Costa e Roberto Carlos.

Como um camaleão, lembrando David Bowie, Caetano percorreu as décadas adaptando-se aos novos estilos, comportamentos e tendências populares, mesmo que às vezes isso pudesse parecer forçado. Narciso por natureza, permanece à disposição para ser ouvido sobre qualquer assunto e se autoproclama um guru responsável por abençoar novos artistas. Em seus 80 anos, Caetano segue firme denunciando "podres poderes" e amando as "minúcias e delícias" do Brasil.

O casal Schenkel e Janaina não abre mão dos discos
O casal Schenkel e Janaina não abre mão dos discos Foto: Arquivo pessoal

 

Na TV e no streaming

Show de aniversário

Neste domingo, o Multishow e o Globoplay exibem, ao vivo, o Especial Caetano Veloso 80 Anos. Com início às 20h30, o show terá participação da família Veloso: os filhos Moreno, Zeca e Tom, e a irmã, Maria Bethânia.

Narciso em Férias

Disponível no Globoplay também está o documentário Narciso em Férias, que fala dos dias em que o artista esteve preso pelo regime militar.

Para caetanear

Ouça na playlist no Spotify do Grupo Sinos algumas músicas compostas por Caetano, cantadas por ele e por outros intérpretes.

Loja de vinis faz referência à canção de 1968

O casal Dionata Ismael Schenkel e Janaina Wadenphul Gularte é proprietário de uma loja de vinis, CDs e outros formatos de mídia, em Novo Hamburgo. O nome do estabelecimento, aberto desde 2018, é referência a uma das composições de Caetano: Superbacana. "Foi ideia da Janaina. Procurávamos algo que fizesse alusão direta à música brasileira, porque a proposta sempre foi focar mais no que era e ainda é produzido aqui. E como o Caetano é um dos artistas dos quais mais gostamos, pegamos 'emprestado' o nome, que acabou caindo como uma luva", conta Schenkel. Ele afirma ser fã do artista tanto pelo conteúdo das letras quanto pelos arranjos e melodias. "Seja em suas fases mais herméticas e experimentais ou em momentos de produções mais populares e comerciais."

Embora a procura por discos de Caetano seja frequente, o casal tem um acervo particular do qual não se desfaz. "Gostamos mais dos três álbuns homônimos lançados em 68, 69 e 71 e o Transa, de 1972 - talvez o registro mais procurado e icônico da carreira dele", afirma Schenkel.

Caetano é para ouvir e para ler

Filho do movimento modernista, discípulo da contracultura e do pop art, o compositor tem como qualidade essencial saber transformar poesia em música. Você pode ouvir, mas também ler seus versos como se tivessem sido escritos por Fernando Pessoa, Castro Alves e Manuel Bandeira.

Versos eternizados não faltam em sua obra, como "O coração é o sol, pai de toda cor" ou "...com palmeiras, com trincheiras, canções de guerra, quem sabe, canções do mar".

Para o professor e coordenador do Programa de Pós-graduação em Processos e Manifestações Culturais da Universidade Feevale, Daniel Conte, não há como mensurar a importância de Caetano à cultura brasileira. "Símbolo da revolução estética ocorrida a partir do tropicalismo, o artista soube trabalhar as influências que vinham de todas as partes, transitando entre o popular e o erudito."

Conte destaca a capacidade de Caetano de descrever os efeitos de sentidos que as cidades provocam, como no verso "Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga com a avenida São João...", da música Sampa.

"Ao mesmo tempo, conseguiu fazer críticas ao regime militar da época, como no verso '...tudo certo como dois e dois são cinco...', que ele compôs e desejou que Roberto Carlos gravasse", destaca o professor, ressaltando que Caetano foi além de outros artistas, como Chico Buarque, na capacidade de dar ritmo musical à poesia.

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