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Documentário mostra como os Racionais MC's se tornaram a voz dos jovens da periferia

Das Ruas de São Paulo Pro Mundo, disponível na Netflix, fala da música como instrumento de denúncia contra o sofrimento da comunidade negra

Por Marcelo Vicente
Publicado em: 03.12.2022 às 16:47

Quando o grupo Racionais MC's surgiu para o grande público, no início da década de 1990, causou um impacto importante na música jovem tocada nas rádios brasileiras. Naquela época, havia o movimento grunge, o heavy metal ainda tinha força e existia também a eurodance. No Brasil, o funk melody ganhava espaços e o rock das bandas oitentistas ainda respirava.

Aí vieram os Racionais trazendo para o mainstream nacional o hip hop, que já era forte nos Estados Unidos, adaptando o gênero à língua portuguesa e inserindo letras que abordavam as mazelas sociais causadas pela pobreza e pelo racismo.Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo


A música Homem na Estrada foi um soco no estômago de muitos que só conheciam as histórias tristes da periferia através das páginas dos jornais e nos programas policiais da TV. A canção, com samples de Ela Partiu, do Tim Maia, é uma crônica sobre a rotina da comunidade de uma favela, abandonada pelo Estado, e sobre a falta de perspectiva de boa parte da população negra, especialmente os jovens.

Crianças, gatos, cachorros disputam palmo a palmo
Seu café da manhã na lateral da feira
Molecada sem futuro, eu já consigo ver
Só vão na escola pra comer, apenas nada mais
Como é que vão aprender sem incentivo de alguém

O documentário Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo, dirigido por Juliana Vicente e que entrou no catálogo da Netflix há poucos dias, mostra o início da carreira do grupo, no final dos anos 1980, desde suas primeiras apresentações no Capão Redondo, em São Paulo, até seus show lotados pelo Brasil, a presença na MTV e as viagens para o exterior.

Toda a narrativa é conduzida pelas entrevistas com os integrantes da banda, intercaladas com imagens históricas e inéditas desde quando eram adolescentes. Mano Brown, KL Jay, Ice Blue e Edi Rock falam de suas inspirações musicais, da formação do grupo, dos obstáculos enfrentados pelo caminho, do estranhamento que causaram na sociedade da época e da influência exercida sobre a juventude negra.

O mosaico de imagens e depoimentos é, às vezes triste, às vezes edificante, como o discurso comovente que Mano Brown fez para jovens em uma apresentação na Febem (espaço de acolhimento de adolescentes infratores).

Alguns fatos poderiam ser mais bem contextualizados e, como gênero documentário, a produção peca pelas poucas vozes contraditórias. Afinal, tudo está contado sob o ponto de vista do grupo. A problematização sobre letras possivelmente machistas ficou de fora, por exemplo.

O maior mérito da produção é ir além da pauta musical ou ser um instrumento nostálgico para os fãs. Sua força está em mostrar que a música, na verdade, foi consequência de um espírito artístico e revolucionário que queria dar protagonismo à periferia, denunciar os problemas sociais e a violência policial contra a população da periferia. É relevante, porque muito do que ocorria 30 anos atrás continua acontecendo.

Assista ao trailer:

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