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Eleições PROJEÇÕES ERRADAS

Diferença entre pesquisas eleitorais e votação pressiona institutos

Cientista político analisa os motivos que podem ter contribuído para divergências entre o que apontavam as pesquisas e os resultados nas urnas

Por Débora Ertel
Publicado em: 03.10.2022 às 18:11 Última atualização: 06.05.2023 às 10:07

Depois dos resultados do primeiro turno das eleições, o assunto que tem dominado as rodas de conversa sobre política são as pesquisas que anteciparam o pleito de domingo. Em especial, as pesquisas dos institutos Datafolha e Ipec. Na última pesquisa Ipec, divulgada no sábado, Lula (PT) tinha 51% das intenções de votos válidos, e Jair Bolsonaro (PL), 37%. Já no Datafolha, Lula aparecia com 50% dos votos válidos e, Bolsonaro, 36%. O primeiro turno foi encerrado com 48,43% dos votos para o candidato do PT e 43,2% para o atual presidente.

Diferença entre pesquisas eleitorais e votação pressiona institutos
Diferença entre pesquisas eleitorais e votação pressiona institutos Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE
Enquanto que os índices divulgados sobre a preferência a Lula (PT) ficaram praticamente dentro da margem de erro nas urnas, os números do atual presidente ficaram distantes da realidade. “Sobre as pesquisas presidenciais, a gente pode perceber que acertaram a tendência”, pontua o professor da Universidade Feevale e cientista político Everton Rodrigo Santos, referindo-se ao fato que o pleito seria decidido entre Lula e Bolsonaro. Também houve acerto para as colocações de Simone Tebet e Ciro Gomes.

Santos chama atenção que as pesquisas de opinião trabalham com erro amostral, de dois e três pontos percentuais para mais ou para menos. Além disso, o levantamento tem 95% de confiança. “Mas tem aqueles 5% que podem dar resultados completamente diferentes”, lembra.


Sobre o percentual de Bolsonaro ter sido 7% superior ao indicado nas pesquisas, Santos avalia que talvez possa ter ocorrido uma escolha pelo “voto útil” somado às abstenções, que chegaram a 20%. O cientista ainda pontua que as campanhas tanto de Bolsonaro quanto de Lula identificaram uma mudança de humor no eleitor. “Então, eu atentaria pra isso”, diz. Ele também lembra que os especialistas têm levantado a questão da desatualização dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que ainda tem como base as informações do Censo de 2010. “Talvez as cotas de renda e de demografia não estejam corretamente colocadas dentro nas pesquisas. São hipóteses para verificarmos”, analisa.

Cenário gaúcho

No Rio Grande do Sul, também houve diferença expressiva nas pesquisas ao Senado e ao governo do Estado. Na pesquisa do Ipec divulgada no dia 30 de setembro, Eduardo Leite (PSDB) tinha 40% das intenções de votos válidos, com Onyx Lorenzoni (PL) recebendo 30% das intenções e Edegar Pretto (PT), 20%. Na apuração das urnas, Onyx recebeu 37,5% dos votos e Leite ficou em segundo lugar, com 26,81%, com 2,4 mil votos à frente de Edegar Preto, que recebeu 26,77%. Foi uma das disputas mais acirradas das últimas eleições para chegar ao segundo turno.

Diferentemente do que anunciava as pesquisas, que indicavam vitória de Olívio Dutra (PT) para única vaga do Senado, Hamilton Mourão (Republicanos) foi o eleito, com 44,11% dos votos. No levantamento de intenção de voto divulgado na sexta-feira pelo Ipec, Olívio tinha 36% e Mourão 28%, tecnicamente empatado com Ana Amélia Lemos. Nas urnas, os votos foram 37,85% para Olívio e 16,44% para Ana Amélia. Mourão fez 14% do total de votos a mais que apontavam as pesquisas.

Na avaliação de Santos, há diferença entre pesquisas nacionais e estaduais, pois as últimas estão “mais suscetíveis a mudanças de humor do eleitorado". Para o cientista político, a desistência da candidata Comandante Nádia não conseguiu ser avaliada há tempo. “Houve uma mudança significativa na campanha dos setores mais conservadores do Rio Grande do Sul. Ela (Comandante Nádia) desiste e os votos dela são absorvidos pela candidatura do Mourão, assim como os votos da Ana Amélia também acabam migrando para o Mourão”, analisa.

O especialista destaca que as pesquisas não são prognósticos do que vai ocorrer no futuro, mas uma fotografia de momento. E, quando há uma mudança brusca, ainda mais meio a uma sociedade conectada, não há tempo hábil para que as pesquisas capturem essa alteração.

Cientista político critica "teoria da conspiração"

“Por que o instituto gostaria de errar? O instituto pontua quando acerta e não quando ele erra. Então não faz sentido ligar os grandes institutos aos candidatos, no sentido de que eles estariam se vendendo”, pondera o cientista político.

De acordo com ele, as campanhas trabalham o tempo inteiro com base em pesquisas, a fim de direcionar os rumos que serão tomados. “Mas o que candidatos fazem, muitas vezes, é desacreditar as pesquisas veiculadas pelos grandes jornais. Quando eles estão na frente, elas estão corretas, quando eles estão atrás elas, estão erradas”, descreve.

Segundo Santos, não há estudos definitivos da ciência política que confirmem a influência significativa das pesquisas no comportamento do eleitor e em qual direção. Sendo assim, não é possível afirmar, por exemplo, que Lula ganhou mais votos porque aparecia em primeiro ou Bolsonaro aumentou seu número de votos porque aparecia em segundo.

Saiba mais

Datafolha e nem Ipec, que são institutos de pesquisa independentes, manifestaram-se sobre seus levantamentos. As pesquisas eleitorais têm regramento próprio e precisam ser registradas na Justiça Eleitoral.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, afirmou nesta segunda-feira que vai recolher assinaturas para uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a atuação dos institutos de pesquisa. Além dos resultados que envolvem a intenção de votos em seu pai, o parlamentar reclama da falta de precisão para pesquisas em outros cargos.

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