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Eleições CAMPANHAS

Igreja e moralismo dominam o debate eleitoral no 2º turno

Semana dos candidatos ao Planalto e ao Piratini foi marcada pela discussão sobre religiosidade e temas morais

Por Eduardo Amaral
Publicado em: 16.10.2022 às 15:47 Última atualização: 16.10.2022 às 15:48

Foi em 1891 que o Brasil se tornou oficialmente um País laico, o que significa ser uma nação sem religião oficial. A medida foi publicada na primeira Constituição republicana do País, que dois anos antes deixava de ser um império. Mesmo assim, a religião sempre teve grande influência na política brasileira e, nesta segunda semana de disputa pelos votos de segundo turno, a religiosidade ganhou um protagonismo incomum desde a redemocratização depois da ditadura que comandou o País por 21 anos após o golpe de 1964.

Igreja e moralismo dominam o debate eleitoral no 2º turno
Igreja e moralismo dominam o debate eleitoral no 2º turno Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Além do tema religioso, a semana também foi marcada, tanto na disputa nacional quanto na estadual, por questões morais sendo trazidas ao debate público, como a sexualidade dos candidatos. Foi o caso do Rio Grande do Sul, onde os gaúchos viram subir a temperatura entre as campanhas de Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB). A semana começou com os dois candidatos se encontrando na segunda-feira (10) para o primeiro debate deste segundo turno, realizado pela Band. O encontro foi marcado por críticas ácidas de lado a lado. Mas foi na quinta-feira (13), quando iniciou a propaganda eleitoral de rádio e tevê para o Piratini, que o clima piorou.

Em seu programa de rádio, Onyx afirmou que o Rio Grande do Sul teria "uma primeira dama de verdade", o que foi encarado pela campanha de Leite como um ataque homofóbico, já que o ex-governador é homossexual. Além disso, cartazes apócrifos com teor preconceituoso foram repudiados por Leite em suas redes sociais.

Nesta sexta-feira (14) os candidatos voltaram a se encontrar, desta vez no debate da Rádio Gaúcha. O tema do preconceito veio à tona logo no início do programa. Este e outros momentos de discussão entre Onyx e Leite esquentaram o debate a ponto de, após o encerramento, o tucano propor - sem sucesso - um aperto de mão com o adversário. A imagem de Onyx deixando Leite com o braço direito estendido correu o País e foi um dos assuntos mais comentados do dia nas redes sociais.

Os embates morais não são uma novidade na campanha, que tem sido marcada pela postura religiosa de Onyx, mas se acentuaram neste segundo turno. A forte vinculação religiosa de Onyx tem sido uma tônica também na disputa nacional, com o presidente Jair Bolsonaro (PL) sempre que possível levantando temas de interesse das igrejas neopentecostais e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) buscando se aproximar do público católico e evangélico.

Cientista política e diretora do Instituto Amostra, Margrid Sauer se mostra surpresa com a relevância que a religião tomou. "Eu nunca tinha visto algo desse nível, desse tamanho numa eleição nacional", avalia a pesquisadora, que ainda traça um paralelo com a eleição geral de 1989, a primeira após a ditadura.

Naquela disputa, o então candidato Fernando Collor de Mello, à época filiado ao extinto PRN, acusou Luiz Inácio Lula da Silva de ter mandado uma ex-companheira fazer um aborto, buscando uma pauta moral para conquistar eleitores. Collor foi eleito naquele ano e Lula só viria a ser presidente do País em 2002, após ser derrotado em outras duas eleições consecutivas. "Era uma pauta na época, em um Brasil recém-redemocratizado. Parece que temos hoje um Brasil ainda mais conservador", analisa.

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