Onyx e Leite apertam as mãos nos bastidores de debate tenso no Grupo Sinos

No dia 14 de outubro a imagem de Onyx se recusando a apertar a mão de Leite ao final do debate promovido pela Rádio Gaúcha correu o País. No encontro desta segunda-feira (24), os candidatos se cumprimentaram pelo menos três vezes. Em uma delas, enquanto Leite concedia uma entrevista à Rádio ABC 103.3, e o concorrente veio até ele para um rápido aperto de mãos, como uma despedida. Na saída, logo após posarem para uma foto ao lado do mediador do encontro, o jornalista Cláudio Brito, houve outro cumprimento entre os dois.

Apesar disso, os candidatos pouco conversaram fora do ar, mas o clima entre os assessores não chegava a ser belicoso. Leite foi o primeiro a chegar à sede do Jornal NH, por volta das 8h20. Ao lado de seus assessores, foi para dentro da sala reservada e lá ficou se preparando para o encontro. Presidente do PSDB, Lucas Redecker acompanhou o colega durante os preparativos.

Onyx chegou mais tarde, por volta das 8h40, acompanhado da esposa Denise Veberling, assessores e do deputado federal Tenente Zucco. O candidato ficou pouco tempo na sala reservada a ele e sua equipe, e esteve sempre acompanhado de perto por Denise, que vem tendo destaque na sua campanha, inclusive sendo uma das responsáveis pela aproximação da campanha com as pautas religiosas.

Trazer a discussão nacional para o cenário local foi outra estratégia já utilizada nos debates anteriores por Onyx, especialmente tentando vincular Leite ao PT, partido que foi oposição a Leite no Estado. "O senhor usou o presidente Bolsonaro em 2018, e agora o senhor se aproxima do Partido dos Trabalhadores e de Lula. Em quem o senhor vai votar, em Lula ou Bolsonaro?"

Leite deu uma resposta sem declarar apoio. "Mantenho as minhas divergências com o PT, temos muitas diferenças do ponto de vista programático, mas sabemos conviver e nos respeitarmos e não acho que quem pensa diferente de mim deva ser queimado. O senhor no outro debate chamou quem pensa diferente de diabo", afirmou o ex-governador, lembrando do debate realizado no primeiro turno pelo Grupo Sinos, quando Onyx disse que Leite fez um "pacto com o diabo", em alusão ao partido.

Leite adota postura mais agressiva

O tom mais agressivo de Leite foi a marca do tucano no debate. Ele focou em formas de desconstruir a imagem dele como gestor e mesmo "homem de família". O tucano reclamou de insinuações ditas por Onyx, mas não deixou de fazer as suas próprias insinuações de maneira velada, além de acusar Onyx de ser mentiroso e antiético em diversas esferas.

A postura mais ácida levou o ex-governador a aumentar o tom de voz por diversas vezes, o que o levou a se justificar dizendo que o concorrente usava um tom "passivo agressivo" e explicando os motivos que o estavam tirando do sério. A estratégia mais agressiva foi comemorada pelos assessores, que avaliaram positivamente a participação de Leite.

Confira abaixo algumas frases que marcaram a participação de Leite no debate:

"Eu não traí os gaúchos, eu não traí a minha família.”

"O senhor é deputado, semana passada tinha votação do requerimento de urgência para tornar a pedofilia um crime hediondo. Não tem o seu voto lá porque o senhor estava ausente, não cumpre com seu mandato.”

"O senhor renunciou à vacina, o senhor renunciou à ética.”

Onyx nacionaliza debate e liga Leite ao PT

Onyx seguiu a estratégia de outras vezes, buscando nacionalizar o debate e vinculando Leite ao PT. Ao mesmo tempo, o candidato ao governo do Estado deixou claro seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e tentou demonstrar intranquilidade de Leite quando questionado sobre temas espinhosos. O candidato voltou a citar a Bíblia.

Evasivo em algumas respostas, buscou colocar Leite contra a parede em relação à disputa nacional, uma estratégia para retirar do tucano votos que poderiam vir de bolsonaristas. Tudo isso sem elevar o tom de voz em quase nenhum momento. Onyx buscou também defender seu legado pelos ministérios do governo federal, apresentando-se como alguém de confiança do presidente.

Confira abaixo algumas frases que marcaram a participação de Onyx no debate:

"O senhor vai devolver os R$ 40 mil da sua pensão? O senhor vai falar publicamente que vai votar em Lula?”

"Não me cabe responsabilidade ao que um parlamentar diz. Os deputados, parlamentares, respondem por suas ações e suas palavras. Segundo, o deputado Bibo Nunes, pelo que eu sei, se desculpou publicamente.”

"A serenidade, a tranquilidade está aqui comigo.”

Postura incisiva e também críticas à atuação ministerial

O terceiro bloco do debate foi marcado por críticas diretas e indiretas ainda mais fortes da parte de Leite. O ex-governador buscou defender seu governo e levantou o tom quando, mais uma vez, Onyx insinuou que Leite não combateu corrupção no seu governo, o que levou o ex-governador a reagir. "O senhor fica fazendo ilações e insinuações que demonstram falta de coragem, além de desconhecimento. Fez insinuações homofóbicas em seu programa de governo. Não respondeu, Bibo Nunes vai fazer parte do seu governo ou não?"

Assessores de Leite vibravam nos momentos em que o ex-governador subia o tom. "Acabou o recreio", afirmou um deles ao falar sobre a postura mais incisiva de Leite. O tucano ainda buscou colar em Onyx a pecha de incompetente, criticando a passagem do deputado federal por cinco ministérios no governo Bolsonaro. "Meu adversário, além de ser uma usina de mentiras, não conhece a lei."

Leite ainda alfinetou o fato de Onyx não estar atuando na Câmara dos Deputados. "Viajei nos finais de semana sem usar recurso público e respeitando meu cargo de governador, o senhor é deputado, semana passada tinha votação do requerimento de urgência para tornar a pedofilia um crime hediondo. Não tem o seu voto lá porque o senhor estava ausente, não cumpre com seu mandato."

Oração durante a fala e alusão ao nervosismo do adversário

Denise Veberling, esposa de Onyx, tem tido um papel de protagonismo nesta campanha e se mostra conselheira muito próxima do candidato. A religiosidade dela é um fator que tem chamado a atenção, e durante o debate, quando Leite estava com a palavra ela repetia sempre a frase "sangue de Jesus tem poder", uma oração típica de neopentecostais.

Outro importante conselheiro foi o Tenente Zucco, responsável por orientar Onyx a destacar um certo nervosismo do adversário. "Ele fica muito nervoso sempre que a gente fala sobre isso (o caso de EGR) , se perturba. Acalma, está tudo bem, aqui será um debate civilizado", afirmou ainda no primeiro bloco, tática que voltaria a utilizar em outros momentos.

Onyx ainda usou a tentativa de Leite de lançar-se candidato a presidente. "No ano de 21 (2021) andava de jatinho pelo Brasil defendendo sua candidatura presidencial quando deveria estar cuidando das pessoas aqui no RS."

Ao defender seu legado no governo federal, Onyx atribuiu a si mesmo a ideia de ser um "resolvedor de problemas", razão pela qual seria o escolhido para migrar rapidamente de um ministério a outro. De acordo com o candidato, suas seriam também por ele ser leal. Aproveitou para atacar Leite dizendo que o tucano não tinha lealdade com os adversários.