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Esportes Luta contra o câncer

Lucas Engel quer match point contra o linfoma

Ex-tenista hamburguense luta contra seu pior adversário, o câncer do sistema linfático, e mostra garra ao encarar a quimioterapia

Por André Heck
Publicado em: 29.05.2020 às 21:00

Lucas faz fisioterapia no hospital e mantém a positividade e o sorriso no rosto Foto: Arquivo pessoal
Acostumado a superar desafios dentro de quadra, o ex-tenista profissional Lucas Engel encara agora o maior adversário da sua vida. Aos 38 anos, ele foi diagnosticado com linfoma não Hodgkin, um tipo de câncer do sistema linfático. O hamburguense, que foi 207º colocado do ranking de duplas da ATP e 297º do mundo em simples, precisou interromper seu trabalho como técnico de tênis na Sociedade Aliança para realizar o tratamento de quimioterapia no Hospital Regina, em Novo Hamburgo. Nesta semana, internado para o quarto ciclo do tratamento, de um total de seis, ele conversou com a reportagem do ABC.

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"É difícil assimilar. A primeira coisa que tu pensa é: 'quanto tempo mais vou viver? É horrível'. O médico me disse: 'Lucas, hoje tu chora, mas amanhã tu levanta a cabeça'", conta, sobre o momento em que recebeu o diagnóstico. Depois do susto inicial, ele tem contado com o apoio familiar e dos amigos para encarar o tratamento e se manter positivo. "Se fosse uma partida de tênis e estivesse 6/3, 4/1 para o adversário, eu não iria correr atrás porque iria perder o jogo. Aqui não, aqui tu perde a vida. Então, todo dia eu tento ser positivo, estar de bem com a vida", destaca Lucas. Seguindo com a analogia ao seu esporte favorito, ele projeta a vitória. "Vou dar 6/0, 6/0. Pensa no pior jogo, um jogo duríssimo que já fiz na minha carreira... Esse é dez vezes pior, sem dúvida."

A determinação e a boa condição física estão fazendo com que ele supere o adversário. O tratamento está dando resultado. "O linfoma tem dois tipos principais, o Hodgkin e não Hodgkin. O não Hodgkin tem vários subtipos, cada um com uma gravidade e chance de cura diferentes. No caso do Lucas, é o linfoma não Hodgkin B primário do mediastino", explica o médico hematologista Cláudio Baungarten, que é o responsável técnico do serviço de transplante de medula óssea do Hospital Regina. Foi ele quem diagnosticou e está comandando o tratamento de Lucas Engel. "Ele tinha uma lesão muito grande, de 22 centímetros, uma massa gigantesca, mas a resposta do Lucas é boa. Ele ainda tem uma massa residual, mas não tem mais nenhuma célula tumoral viva. Com isso, as chances de cura dele aumentam bastante. Ainda tem mais dois ciclos (de quimioterapia), mas está no caminho para ficar curado", destaca o médico.

Falta de ar

"Há um tempo eu sentia fadiga, desgaste. Dava aula e não conseguia correr, parecia que tinha corrido uma maratona em questão de cinco minutos. Não conseguia respirar, não conseguia dormir de lado. Isso ficou um tempo, achei que era tireóide", lembra Lucas Engel. "Até que em Garopaba fomos pescar e subindo uma duna de dez metros eu parei no meio porque não aguentava mais, achei que iria morrer. Meu pescoço e olhos vinham inchando. Só depois descobri que o linfoma pressionava a veia cava, se esperasse mais um mês eu morreria. No dia 26 de fevereiro procurei um médico que já me encaminhou pro hospital. Aí foi constatado o que era e dois dias depois já comecei a quimioterapia."

Como é o tratamento

Lucas Engel passa duas semanas no hospital fazendo a quimioterapia e duas semanas em casa. "São duas semanas no hospital para cada ciclo. Começo a quimio na segunda-feira e termino na sexta de noite. Cinco dias direto de quimioterapia na veia. Depois fico mais uma semana no hospital, em recuperação, porque baixa imunidade", relata. Ele tem tido poucas reações adversas em relação à quimioterapia. "Estou bem, não sinto nada. Até perguntei pro médico se era normal. Tive perda de cabelo e sinto formigamento nos dedos, mas nada vômito e náusea. Só agora nessa semana que estou com um pouco de dificuldade para comer e um pouco de dor de cabeça e cansaço, que é o que mais pega pra mim, fadiga nas pernas, mas isso é normal." No hospital, ele também faz fisioterapia e tem acompanhamento psicológico. Lucas deve terminar o último ciclo de quimioterapia na metade de julho.

Apoio da esposa é fundamental

Esposa Thassya e filhas Antônnia e Aurora Foto: Arquivo pessoal
Mesmo com todo o apoio dos familiares e amigos, uma pessoa em especial tem sido fundamental para Lucas durante o tratamento: a esposa Thassya. "Minha esposa não existe igual. Ela está todos os dias comigo, gratidão total e muito mais. Desde o início, não tenho nem palavras. Nos primeiros ciclos ela ficou direto comigo no hospital. Depois, quando a coisa estava mais tranquila eu disse pra ela ficar em casa com as meninas", conta Lucas. Ele e Thassya são pais de duas meninas: Antônnia, de 3 anos, e Aurora, de 7 meses. "Quando sair daqui quero curtir a vida, tu não sabe se vai morrer amanhã. Quero curtir as filhas, a família. É nessas horas que a gente vê como a vida é curta. Mas meu lema tem sido 'firme e forte', inclusive vou tatuar essas palavras quando estiver recuperado", projeta.

 

Forma física ajuda na recuperação

Conforme o médico Cláudio Baungarten, o caso de Lucas Engel era grave pelo tamanho da lesão e por já estar comprimindo alguns órgãos, principalmente os vasos do mediastino (entre o coração e os pulmões). "Ele estava caminhando e correndo porque é atleta. Se fosse outra pessoa... Imagina no seu peito uma massa de 22 centímetros, o que sobra de espaço para o pulmão? A condição dele de atleta ajuda muito na recuperação, até para suportar melhor a quimioterapia. Ele está indo muito bem", destacou o médico, salientando que não há uma causa específica para o desenvolvimento da doença. "Entre os linfomas não é dos mais comuns, mas não é raro. Por ano, tratamos entre 20 e 30 pacientes com linfoma." Lucas terá que realizar exames periódicos ao longo de dois anos.

Lembrou do irmão

Em 2001, o irmão de Lucas, Thomás Engel, de 16 anos, foi morto por engano em uma abordagem policial. Ele também era tenista. Lucas estava disputando um torneio no Peru, quando recebeu a notícia sobre o irmão mais novo. A lembrança do sofrimento da família o assombrou ao receber o diagnóstico. "Pensei: 'meu pai (Henrique) e minha mãe (Andrea) já perderam um filho. Eu perdi um irmão, eles perderam um filho, agora vão perder mais um', isso me veio na cabeça", revela Lucas. "Meu pai, minha mãe e minha irmã (Crystal) mandam mensagem todo dia. Todo mundo mandando força, pessoal do clube, alunos, amigos do tênis. O pessoal aqui do hospital também, são sensacionais."

História dentro das quadras

Em ação nos tempos de circuito profissional Foto: Luiz Candido/Luzpress
Lucas Engel foi um dos tenistas hamburguenses de maior sucesso no circuito profissional de tênis, ao lado de nomes como Ivan Kley, Fernando Roese, Tomás Behrend, André Ghem e Paulo Taicher. Ele esteve próximo do top 200 nas duplas, chegando à posição de número 207 do ranking. Em simples, chegou ao posto de 297º do mundo. Nas duplas, principalmente ao lado de André Ghem, superou nomes de destaque como o argentino Juan Martín del Potro, que chegou a ser o número 3 do mundo em simples, além do italiano Fabio Fognini, do francês Gaël Monfils, e do brasileiro Marcelo Melo, ex-número 1 do mundo em duplas. Em simples ele também venceu alguns top 50 do mundo. "Tem alguns caras fortes que superei, mais em duplas, em simples não tanto", fala, com humildade, como se bater um top 50 do mundo em simples não fosse uma tarefa duríssima. Entre os nomes de destaque que ele venceu em simples estão Flávio Saretta, Ricardo Melo, Marcos Daniel, e o italiano Daniele Bracciali. "Estou sentindo muita falta do tênis. A primeira coisa que perguntei para os médicos foi quando eu poderia voltar a jogar e dar aula", lembra Lucas. A Sociedade Aliança já prepara, para setembro, um torneio em homenagem à recuperação do técnico.

 

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