Na garrafa deles, chuva vira água potável

A água potável é um dos bens mais vitais e escassos do planeta. Cientistas em todo o mundo se debruçam sobre pesquisas e mais pesquisas para desenvolver fórmulas que garantam o abastecimento de H2O, essencial à sobrevivência. Aqui bem pertinho, no Colégio La Salle, um grupo de jovens empreendedores criou um produto capaz de surpreender muitos pesquisadores: uma garrafa que transforma chuva em água potável. Isso mesmo. Basta captar as gotas que caem do céu e beber. O filtro feito de carvão ativado, cloro e polímeros de plástico reciclado se encarregam de eliminar substâncias tóxicas e poluentes que poderiam prejudicar a saúde. Quando decidiram participar da segunda edição do projeto EduEmprèn Brasil do Colégio La Salle, os estudantes Eduardo Benelli de Barcelos, Gabriela Santos da Rosa, Luiza Rolim Braun e Nathália Santos da Rosa, todos com 17 anos, tinham como meta desenvolver um produto que beneficiasse o maior número possível de pessoas. E o que poderia ser mais universal e vital do que a água potável? "Queríamos ajudar o máximo de gente. E aí chegamos à Aquacup, uma garrafa que é para todos", define Luiza.

Novos desafios

Depois do protótipo pronto, o slogan veio para anunciar e não deixar dúvidas: "Aquacup. A garrafa que nunca facilitou tanto a sua vida". O produto exigiu cinco meses de desenvolvimento e foi o vencedor da segunda edição do EduEmprèn Brasil - Observar, Propor e Transformar, no final do ano passado. Agora, o grupo Starthunder se prepara para novas experiências e desafios. Um deles é a apresentação do projeto no EduEmprèn que acontece no próximo dia 13 de junho em Barcelona, na Espanha. Mas antes disso, já no mês de abril, eles participam de uma competição com a qual nunca haviam sonhado: a final do Programa Amazônia Up. Eles foram a única startup gaúcha selecionada para o programa, também no final de 2019. O Amazônia Up promove a aceleração de iniciativas nacionais de empreendedorismo sustentável. "Não esperávamos por tudo isso. Aqui no La Salle desenvolvemos um projeto, no Amazônia Up desenvolvemos um negócio", afirmam Gabriela e Nathália, que são irmãs gêmeas.

Certificado

A professora de História Beatriz Schardler, responsável pelo EduEmprèn Brasil no Colégio La Salle, acompanhou o grupo durante os cinco meses de desenvolvimento do projeto e diz que o grupo se destacou pela proatividade. "Eles foram atrás, buscaram apoio e profissionais das áreas de química e engenharia para validar a ideia foi comprovado que era viável. Dois dias antes da grande final, conseguiram o certificado do laboratório atestando que a água do filtro deles era boa para consumo", vibra Beatriz.

Para viabilizar na prática as ideias dos estudantes, o Colégio e a Universidade La Salle atuam em parceria. O coordenador da Área de Gestão de Negócios e responsável pelo projeto EduEmprèn Brasil na UniLasalle, Silvio Denicol Junior, destaca que a iniciativa tem um grande potencial transformador da realidade a partir da criatividade e energia dessa nova geração. "É tudo realizado com muito carinho. Em 2018, nossa primeira vez no EduEmprèn, já tinha sido um desafio. E em 2019 nós conseguimos novamente ver muito forte o traço lassalista nos projetos", comenta.

"Vimos que tocar uma empresa não é nada fácil"

O estudante Eduardo Benelli de Barcelos, 17, diz que participar do EduEmprèn Brasil contribuiu muito para o amadurecimento do grupo. "A gente viu que tocar uma empresa não é nada fácil e que há muitos aspectos fundamentais que a gente achou que não seriam necessários", destaca Benelli. Essa descoberta ficou ainda mais evidente depois que participaram do Amazônia Up. "Desenvolver um plano de negócios para a Aquacup ajudou a clarear muita coisa".

Ajudar o mundo

"Sempre fomos muito empolgados em querer fazer algo que pudesse ajudar a mudar o mundo", declara Nathália Santos da Rosa, 17. Ela conta que uma das coisas fundamentais durante o processo foi o apoio dos pais. "A confiança deles durante todo o tempo nos ajudou muito e também nos fez crescer", declara. Ela lembra que no dia da premiação, em novembro do ano passado, quando o grupo foi anunciado vencedor, o pai se agarrou nela e na irmã e "não parava de gritar de alegria".

Experiência transformadora

Para Gabriela Santos da Rosa, 17, a experiência foi tão transformadora que ela até mudou de ideia sobre a graduação que vai cursar. A Arquitetura foi trocada por administração de startups. "A experiência no EduEmprèn e no Amazônia Up foram fantásticas. Agora em abril, na final em Manaus, vamos apresentar o projeto para mais de 40 mil pessoas. Estou muito empolgada e também muito nervosa", revela. Caso seja selecionado, o grupo terá investimento para transformar o protótipo em negócio.

Entre tapas e beijos

Luiza Rolim Braun, 17, diz que conhece as gêmeas Nathália e Gabriela "desde a barriga da mãe". São quase trigêmeas, brinca. A proximidade e a amizade ajudou no desenvolvimento do projeto, mas também rendeu umas boas de umas brigas, confessa. Um aprendizado e tanto sobre trabalho em equipe. "Eu e a Gabriela brigávamos o tempo todo por bobagem, até para decidir um slogan", recorda bem-humorada. "Minutos depois já estávamos de bem novamente e concentradas no trabalho".

Passaportes carimbados para evento em Barcelona

O EduEmprèn foi criado na La Salle Ramon Lull em Barcelona na Espanha e tem o objetivo de incentivar o empreendedorismo social a alunos da Educação Básica. As propostas das equipes da segunda edição do projeto chegaram aos especialistas primeiro por meio de vídeos, que foram analisados por profissionais da área, por pôsteres avaliados por jurados educacionais e no palco nos pitchs dos comunicadores de cada grupo cuja banca foi formada por jurados mercadológicos. Foram cerca de 40 grupos concorrendo, de escolas Lassalistas de Canoas, Porto Alegre, Caxias do Sul, Esteio e Xanxerê (SC).

De acordo com o reitor Paulo Fossatti, todos os grupos são vencedores. Principalmente porque cada um deles se dedicou a trazer alguma melhoria para a comunidade. "Os estudantes observaram a realidade e estão propondo soluções. Os trabalhos são de uma riqueza muito grande. Temos muito o que aprender com esta geração que tenho certeza, deixará um legado muito bonito", ressalta o reitor.

A final da segunda edição do EduEmprèn Brasil - Observar, Propor e Transformar ocorreu no dia 9 de novembro de 2019, no Salão de Atos da Universidade La Salle. Ao todo 13 equipes finalistas puderam exercitar o espírito empreendedor com o olhar totalmente voltado para a transformação social. Participaram aproximadamente 160 estudantes das escolas da Rede La Salle e a grande campeã desta edição foi a equipe Starthunder do La Salle Canoas. O projeto "Aquacup" teve o melhor desempenho, segundo os avaliadores e carimbou os passaportes dos ganhadores para o EduEmprèn que ocorre este ano em Barcelona, na Espanha.

Ideia é evoluir para limpar também água de rios e de poços

O grupo não perde tempo e já pensa na evolução da Aquacup, para que além da chuva ela limpe também a água de poços e rios. Aí será preciso investir em tecnologia, de preferência sustentável. O carvão ativado, por exemplo, que não é uma substância renovável, eles já estudam substituir por caroço de açaí. A patente do produto eles já encaminharam e estão preparados para tocar uma empresa.