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Notícias | Canoas RECICLAGEM

Encerra prazo para troca de cavalo por triciclo para reciclagem em Canoas

A Prefeitura retirou 93 cavalos e carroças das ruas da cidade, o que representa 71,5% dos casos

Por Raquel Kothe
Publicado em: 01.12.2022 às 09:15

Não foram vistas carroças puxadas por cavalos nesta quarta-feira (30) em Canoas. Algumas carroças sem cavalos e alguns animais pastando em áreas foram avistados em locais em que costumam ser encontrados, como a Rua da Barca e o Prata. A exploração animal e o uso de carroças em Canoas está definitivamente proibida por legislação municipal.

Ivone cata resíduos em uma bicicleta com carrinho
Ivone cata resíduos em uma bicicleta com carrinho Foto: PAULO PIRES/GES

A catadora Ivone da Silva, 47 anos, trabalha há cerca de quatro anos na função, no Prata. Acompanhada do marido, que faz alguns bicos de pedreiro, garante o sustento da família recolhendo resíduos pelo próprio bairro. Eles utilizam dois carrinhos puxados por bicicletas. “A minha tá até sem freio, gostaria de ter uma daquelas bonitas e boas da Prefeitura”, diz.

Tarefas árduas

A vida de Ivone sempre foi dura. Começou a trabalhar ainda criança, aos oito anos de idade, com o pai, na cidade de Dom Feliciano. O trabalho árduo nas lavouras de fumo, milho e feijão, detonou a coluna. “Tenho cinco hérnias. O bom de trabalhar com a reciclagem é que a gente vai fazendo como pode”, argumenta. O dia começa cedo. Às seis começa a coleta, que segue até as 10 horas.

Depois, a rotina é de separar e depois vender ali nas proximidades. Para ela, os animais não devem ser usados para puxar carroças em cidades. Ivone tem pena. Nunca utilizou. “Prefiro eu mesma pedalar. Sempre na força física, pois sou contra judiar dos animais”, ressalta. “Espero que não tirem da gente o direito de catar. Ninguém me dá outro serviço. O que vai ser dos pobres se não tiver essa opção?, questiona ansiosa. Ivone conta que junta qualquer garrafinha, pois de pouquinho em pouquinho, “a galinha enche o papo”.

Na outra ponta da cidade, na Rua da Barca, é possível encontrar várias pessoas que atuam como catadoras de resíduos. No calor do sol, duas jovens de 17 e de 28 anos puxavam carrinhos abarrotados da coleta do dia. Elas preferem não se identificar e salientam que a catação garante o alimento para as famílias. “Ainda vamos caminhar mais duas horas até chegar em casa”, relatam. Em relação ao peso, declaram que não é a pior parte. Para uma senhora que acompanhava as jovens, não é vantajoso ter cavalos para puxar carroças. “Acaba sendo mais caro. Porque se a gente tivesse teria que alimentar e cuidar dele”, define.

Encerrou na terça-feira (29) o prazo para interessados participarem do programa Canoas do Bem, no qual os beneficiados recebiam um triciclo para reciclagem, cesta básica mensal, ajuda financeira de R$ 300, vale transporte de R$ 96 e cursos de qualificação. A Lei 6.164, de 2018, estabeleceu um prazo de dois anos para que os veículos de tração animal fossem proibidos de circular na cidade. De acordo com informações da Prefeitura, a legislação sozinha não foi suficiente para garantir a libertação dos cavalos e a proteção social dos condutores.

Canoas do Bem

“A nova legislação, que institui o programa Canoas do Bem, foi aprovada pela Câmara de Vereadores em 28 de outubro de 2021, garantindo benefícios para aqueles que entregassem os animais e as carroças. O condutor de carroças que descumprir a lei poderá levar multa e ter o animal e a carroça apreendidos”, explica Cristiane Fagundes, titular da Secretaria Especial de Bem-Estar Animal (Sebea).

Conforme a secretária, o Canoas do Bem beneficiou mais de 90 famílias, retirando 93 cavalos e carroças das ruas da cidade, o que representa 71,5% do total de veículos de tração animal que existiam no município – 130, segundo levantamento da Sebea. “Vamos garantir o cumprimento da Lei 6.164/18. Demos tempo e oportunidade para que todos participassem. Conseguimos recolher a maioria dos cavalos que estavam submetidos à exploração através do programa. Agora, contamos com o apoio da comunidade para denunciar os veículos de tração animal que ainda estejam nas ruas de Canoas para darmos um fim aos maus-tratos”, afirma a secretária adjunta da Sebea, Fabiane Borba.

Para denunciar casos em Canoas basta ligar para o número 153 da Guarda Municipal e informar o máximo de dados para que o veículo seja apreendido e o animal protegido conforme exige a lei.

Novos cursos de qualificação

No próximo mês serão ofertados novos cursos profissionalizantes, que iniciarão suas turmas em janeiro de 2023. “O caminho para a dignidade dos humanos e dos cavalos foi entregue e podemos, orgulhosamente, dizer que moramos em uma cidade que respeita a vida de todos os seres: os animais não são explorados e as pessoas possuem a oportunidade de recomeçar através de cursos profissionalizantes em diversas áreas”, destaca Fabiane. Mais detalhes sobre os cursos serão divulgados ainda nesta semana pela Sebea.

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