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Notícias | Canoas NA AVENIDA INCONFIDÊNCIA

O que se sabe até agora sobre a investigação do caso de tortura em mercado de Canoas

Seguranças de empresa terceirizada flagraram dupla tentando furtar picanha; suspeitos foram levados para o depósito e torturados por cerca de 45 minutos

Por Leandro Domingos
Publicado em: 05.12.2022 às 17:17 Última atualização: 05.12.2022 às 17:30

A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Canoas investiga um caso de tortura e extorsão mediante sequestro contra dois homens que foram flagrados tentando furtar dois pacotes de picanha em um supermercado localizado na Avenida Inconfidência. O crime foi em 12 de outubro no depósito do estabelecimento, mas o caso só veio a público agora, depois de ter sido tema de reportagem do programa Fantástico deste domingo.

Imagem da câmera de segurança mostra cinco seguranças e dois funcionários do mercado cercando os dois suspeitos de furto
Imagem da câmera de segurança mostra cinco seguranças e dois funcionários do mercado cercando os dois suspeitos de furto Foto: Reprodução
Após perceberem pelas câmeras do supermercado que um homem escondeu dois pacotes de carne na calça, seguranças de uma empresa terceirizada o abordaram na saída da loja e o levaram para um depósito. Registradas por câmeras, as agressões começam assim que o homem entrega os pacotes que tentava furtar. Ele é agredido com socos, chutes e pedaços de pau, além de ser ameaçado com um martelo.

Um comparsa que o aguardava no estacionamento foi buscado pelos seguranças e também passou a ser agredido no depósito. Classificadas pelo delegado da DHPP de Canoas, Robertho Peternelli, como sessão de tortura, as agressões duraram cerca de 45 minutos e foram testemunhadas pelo gerente e pelo subgerente do supermercado. Imagens do circuito interno que foram recuperadas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) mostram que, ao final, os suspeitos são liberados e os cinco seguranças posam para foto tirada pelo gerente.

Pedágio para conseguirem ir embora

O que não aparece de forma tão nítida das imagens e foi apurado pela investigação é que, para conseguirem sair do depósito, os suspeitos tiveram que pagar um "pedágio" de aproximadamente 600 reais. Segundo a Polícia, a dupla foi ameaçada de morte caso não pagasse o valor, o que pode configurar também crime de extorsão mediante sequestro. O filho de um dos homens foi até o mercado levar o dinheiro.

De acordo com o delegado, como foram ameaçados de morte pelos seguranças, os homens não procuraram a Polícia de imediato. O caso chegou ao conhecimento das autoridades a partir do atendimento prestado a um deles no Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre. Internado com fraturas de espancamento pelo corpo, o homem relatou o caso a policiais. "Só ficamos sabendo porque é protocolo hospitalar avisar a Polícia Civil do ingresso de pessoas lesionadas com indício de crime", resume.

Funcionários tentaram apagar as imagens do crime

O caso chama atenção para a relevância e o nível de sofisticação do trabalho dos peritos do IGP. De acordo com o delegado Robertho Peternelli, tão logo receberam a denúncia do crime os policiais foram até o supermercado para recolher o equipamento onde são gravadas as imagens do circuito interno. No entanto, os arquivos tinham sido deletados, possivelmente pelos dois funcionários envolvidos. "Não havia nada o que pudesse ser visto nas câmeras", resume o delegado.

Imagem de câmera de segurança mostra quando o primeiro suspeito de furto entrega dois pacotes de picanha aos seguranças; em seguida começa a ser agredido
Imagem de câmera de segurança mostra quando o primeiro suspeito de furto entrega dois pacotes de picanha aos seguranças; em seguida começa a ser agredido Foto: Reprodução
Os agentes então apreenderam o gravador do sistema de monitoramento e o levaram para perícia. Coube ao IGP recuperar as gravações originais e garantir a prova do crime. "Após um trabalho qualificado dos peritos, as imagens vieram à tona. Foi quando descobrimos que a finalidade das agressões era, inicialmente, identificar comparsas que estivessem circulando pelo mercado. Então um segundo suspeito do crime foi levado ao mesmo local. Foi quando as agressões se tornaram mais graves e acabaram sendo usados até instrumentos contundentes para golpear os dois", resume Peternelli.

Polícia já identificou quatro envolvidos

Até o momento, segundo o titular da DHPP de Canoas, foram identificadas quatro pessoas envolvidas no crime. Elas contaram versões conflitantes do que aconteceu naquele 12 de outubro dentro do depósito do supermercado. Resta ainda, de acordo com o policial, a identificação de outros três envolvidos. Eles estariam sendo "blindados" pelos outros investigados. O delegado pede que quem tiver informação sobre a identificação dos suspeitos deve fazer denúncia anônima pelo telefone 0800 64 20 121.

Segundo o delegado, os dois suspeitos de furtarem carne no supermercado deveriam ter sido imediatamente levados para a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) pelos seguranças. Eles também poderiam ter acionado a Brigada Militar. "Existe todo um regramento jurídico que deveria ter sido seguido logo que os seguranças perceberam a tentativa de furto. O sistema de justiça criminal precisa ser acionado, sempre, para coibir todos os tipos de crimes", adverte.

O delegado frisa que o artigo 5º da Constituição Federal é claro: "Ninguém será submetido a tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes". "O crime está ligado a violação de direitos básicos", conclui.

UniSuper diz que colabora com a investigação

A direção da rede de supermercados UniSuper divulgou nota nesta segunda-feira sobre o caso. A empresa destaca que repudia "veementemente qualquer ato de violência ou de violação dos Direitos Humanos, os quais reconhecem e protegem a dignidade de todas as pessoas e são pilares essenciais para a construção de uma sociedade mais justa" e que está colaborando com as investigações. "Somos os maiores interessados em que todos os fatos sejam esclarecidos", diz a nota.

Procurada pela reportagem do Grupo Sinos, a empresa Glock Segurança, citada pelo UniSuper como responsável pela vigilância do supermercado na época do crime, não deu retorno e não emitiu qualquer tipo de comunicado até a publicação deste conteúdo. O gerente e o subgerente do supermercado na época do crime também não foram localizados para comentar o assunto.

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