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GOLPE DOS NUDES: Quadrilha simulava suicídio de adolescente e exigia dinheiro para pagar enterro

Grupo alvo da Polícia Civil chegou a tirar R$ 50 mil de vítima; operação envolveu agentes de São Paulo e Canoas

Publicado em: 04.05.2023 às 10:06 Última atualização: 10.05.2023 às 10:50

O que começou como mais um caso de extorsão envolvendo o popular "golpes dos nudes" terminou em uma operação, na manhã desta quinta-feira (4), envolvendo policiais civis de São Paulo e Canoas, em uma caçada a um grupo de criminosos de Porto Alegre que até simulava o suicídio de jovens visando arrancar dinheiro das vítimas. Foram três presos.

Ofensiva na manhã desta quinta-feira (4) levou à cadeia grupo de criminosos na Capital
Ofensiva na manhã desta quinta-feira (4) levou à cadeia grupo de criminosos na Capital Foto: POLÍCIA CIVIL/DIVULGAÇÃO

A investigação começou em janeiro, em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, após um trabalhador procurar a Polícia Civil e informar que gastou as economias de uma vida para tentar se livrar de criminosos que estavam exigindo valores cada vez mais elevados.

"Este cidadão conheceu uma adolescente pelo Facebook", esclarece o delegado Jorge Mazzi. "Então ele começou a trocar fotografias íntimas com ela. Só que de repente apareceu a mãe dela para contar que a filha tinha se suicidado porque estava em depressão, exigindo valores da vítima para ajudar com o enterro".

O que era um pedido de auxílio rapidamente tornou-se chantagem envolvendo as fotos íntimas da vítima. O dinheiro começou a ser repassado a três contas diferentes abertas pelos criminosos. A vítima chegou a depositar R$ 20 mil em um só dia e chegou a totalizar a quantia de R$ 50 mil após ter contraído um empréstimo no banco.

"Ele relatou que usou o dinheiro que reuniu trabalhando ao longo de toda uma vida", apontou o delegado. "Começamos a investigar e chegamos a um grupo que fez dezenas de vítimas em São Paulo. Quase sempre atuando no mesmo modus operandi, exigindo valores na casa dos R$ 3 mil, mas este caso em especial garantiu uma soma maior".

Durante o cumprimento dos mandados, a Polícia Civil garantiu a prisão de três envolvidos. Uma era a mulher responsável por todo o contato com as vítimas em São Paulo. Ela inclusive tinha como foto de perfil do WhatsApp uma imagem de uma adolescente sem relação nenhuma com sua aparência na realidade.

"Ela não tinha nenhuma passagem anterior pela polícia e acredito que a fotografia no perfil do WhatsApp dela seja de uma jovem que existe em um perfil aleatório na internet. É uma isca usada contra as vítimas", explica. "A partir da apreensão do celular, vamos conseguir descobrir outras vítimas que estava coagindo".

Já os outros dois alvos presos em Porto Alegre tratavam-se de um homem e uma mulher – ambos criminosos fichados – e com experiência na aplicação de golpes. A mulher inclusive seria esposa de um apenado que a Polícia Civil suspeita estar por trás da rede de criminosos responsáveis por extorquir pessoas em todo o Brasil.

"Não dá para mensurar a quantidade de vítimas que já fizeram agindo a partir de contatos a distância. Em São Paulo ou no Rio Grande do Sul. É algo que acreditamos que o final do inquérito possa ajudar a esclarecer", conclui o delegado.

Crime de pedofilia

O "golpe dos nudes" consiste em um primeiro contato ou por uma rede social, ou pelo aplicativo Whatsap, em que uma pessoa jovem e bonita instiga uma vítima a trocar mensagens de cunho sexual e fotos intimas. Na sequência, outra pessoa se apresenta como pai ou mãe da jovem, dizendo que a filha é menor de idade e a conduta da vítima se amolda ao crime de pedofilia. Para não denunciar à polícia, o suposto responsável exige depósitos em dinheiro.

"Na maioria das vezes, após o recebimento de valores, o extorsionário continua exigindo dinheiro dizendo que haverá a necessidade de submeter sua filha a tratamento psicológico ou, ainda, exigindo o depósito de valores, como em um dos casos analisados nessa investigação, para o enterro da adolescente que, em razão dos graves danos psicológicos sofridos, atentou contra a própria vida, praticando suicídio", explica a delegada Luciane Bertoletti.

É bastante comum também, segundo a delegada, a presença de uma quarta pessoa envolvida, que se apresenta como policial, muitas vezes com fotos e nomes reais retirados das redes sociais, dizendo que está sendo registrada uma ocorrência, e que será expedido mandado de prisão contra a vítima, a deixando desesperada e fazendo com que deposite mais dinheiro aos golpistas.

"Nesse caso, surgiu a figura de um delegado de polícia que estaria colaborando com os parentes", aponta a delegada. "O próprio envolvimento do policial garante aos criminosos um elemento extra de receio em não pagar. Tudo parte de um teatro para constranger a vítima".

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