Paralelamente às necessárias ações para barrar o avanço da pandemia, o coronavírus deixa um efeito colateral que afeta a vida de todos: o agravamento da crise econômica. Nesse contexto, a questão principal é: quem vai pagar a conta dos impactos desencadeados pela suspensão temporária da indústria, comércio e serviços? A resposta é: todos. "Estamos vivendo um cenário de 'guerra' e, em momentos como este, todos perdem e cada um terá que contribuir para sua mínima proteção, uma questão de sobrevivência. Porém, na crise somente o governo federal é o agente que pode minimizar os efeitos na população como um todo, sociedade, empresas e também no caixa de Estados e municípios, gastando para sustentar a demanda agregada, a economia", avalia o economista e professor da Universidade Feevale José Antônio Ribeiro de Moura.
É quase unanimidade entre os especialistas que a crise que está começando deverá ser uma das maiores da História brasileira, pois também atinge a saúde e a confiança dos investidores. "Neste momento, o governo não pode ter receio de gastar. A dívida não é um problema, mas uma consequência controlável para salvar vidas e as gerações futuras. A questão é humanitária. A boa notícia, se é que podemos tratar assim, é que o problema é mundial, ou seja todas as nações estão sofrendo, não é uma questão isolada do Brasil", diz.
CONTEÚDO ABERTO | Leia todas as matérias sobre coronavírus
Conforme o economista, a estimativa para o Brasil é um gasto que deve chegar a 5% do Produto Interno Bruto (PIB). "A título de comparação, obviamente que levando em consideração as condições de cada país, a Alemanha está investindo 37% do PIB, Reino Unido e Espanha, 17% e Estados Unidos, 6,5%", compara. O conjunto de medidas de liberação de liquidez (recursos disponíveis no mercado) anunciadas até agora pelo Banco Central chega a R$ 1,2 trilhão.
Luz no fim do túnel
Mas para quando os brasileiros podem vislumbrar uma melhora na economia, um renascimento? "Quanto maior a demora dos recursos chegarem à população, mais aumenta o risco de mortes e a recuperação da economia no futuro. Como um ciclo, vivemos a pandemia, que após seu término, tem-se o início o ciclo da economia. Portanto, quanto mais rápido for o primeiro, mais rápida a retomada da economia, um horizonte para o segundo semestre", pondera.
Ainda não há como precisar as perdas econômicas, mas muitas delas, dependendo da continuidade do isolamento, serão irrecuperáveis no curto prazo, avalia a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo. "Grande parte dos epidemiologistas diz que, apesar do vírus continuar circulando no segundo semestre, o seu controle no Brasil deve se dar ainda no primeiro semestre. No segundo já estaríamos com a economia a pleno funcionamento. A questão é como será esse novo normal", pondera ela.
Antes da pandemia, os negócios iam de vento em popa e a ideia era mais do que dobrar o tamanho da equipe, totalizando 180 pessoas. Agora, o cenário é outro. "Vamos tentar não demitir ninguém, mas diante das incertezas futuras, ninguém pode prometer nada", confessa.