Um dia após tomar a vacina, o fisioterapeuta cardiorrespiratório Fabio Isaias Rodrigues, líder na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Respiratória do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Incor-FMUSP), foi entrevistado durante o programa Ponto e Contraponto da Rádio ABC 103.3 FM. De forma didática, ele explica a rotina da UTI, a doença e os seus sintomas e, também, fala sobre a vacinação.
"O fato de estarmos iniciando a vacinação, não significa carta branca, a vacina não bloqueia a doença. Você está sendo imunizado para, caso pegar o coronavírus, tenha sintomas mais leves. Uso de máscara segue, evitar aglomeraçoes, cuidados adequados. É como outra vacina, ela ameniza a gravidade", afirma.
Ele, que atua desde março na linha de frente de combate à doença, explica que o cenário pandêmico incorporou na rotina uma vivência, até então, desconhecida. Quando a pandemia desencadeou no Brasil, o Estado de São Paulo se mobilizou, prevendo a alta demanda de atendimentos. "Não era uma vivência diária de UTI. Pacientes que chegam na UTI, com corisa, tosse, falta de ar, a tendência é que se confunda esses sintomas com gripe, por conta das semelhanças. Mas, com a queda de oxigênio, que não é como na gripe, e a evolução no processo de internação para a ventilação mecânica, dimensiona a gravidade da Covid-19", conta Rodrigues.
O Incor conta com 1,5 mil leitos. "Em uma UTI, cuidamos de toda a parte respiratoria do paciente, desde o oxigênio, paredes de ventilação mecânica. ligamos o paciente no ventilador mecânico, passa por meio do fisioterapeuta, desde a limpeza até o controle da pressão do paciente, cuidando, inclusive, da movimentação e funções motoras do paciente", explica.
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— Fábio R (@fabioirodrigues) January 19, 2021
Rodrigues enfatiza a importância do lado humano, tanto do paciente quanto do profissional da saúde. O fato dos pacientes não receberem visita dos familiares é uma das partes que lhe deixa mais chocado. "Ver o paciente internado sem poder receber a visita de um familiar me choca muito. Por isso, disponibilizamos o uso de tablet para o paciente se comunicar com o familiar". complementa, lembrando que muitos acabam falecendo sem se despedir de familiares.
"Teve uma paciente que chegou razoavelmente bem e, após o oitavo dia, os sintomas ficaram mais latentes. Ela era bem esclarecida e precisamos fazer a entubação dela. Segurando minha mão, ela olhou para a médica e disse: 'E se eu não voltar?'. A médica, que estava ali, foi sincera e disse: 'A senhora pode não voltar'. Com isso, ela pediu para falar com o filho, foi uma conversa bem afetiva e emocionante. Ela se recuperou e, felizmente, está bem".
Embora chegamos ao décimo mês de impactos da pandemia sobre nossas vidas, Rodrigues lembra a importância do diagnóstico da doença, por meio dos sintomas. "O pico da doença é entre o oitavo e o décimo dia de sintomas. As pessoas precisam ficar atentas a isso", explica.
De acordo com ele, os pacientes na UTI Respiratória ficam, no mínimo, 15 dias internados. "É o tempo de internação que trabalhamos. Além disso, são mais 10 dias posteriores de observação e cuidados adequados". O fisioterapeuta deixa claro que o respeito ao paciente deve prevalecer, independentemente do quadro, respeitando a vida. "Por vezes precisamos abdicar da técnica e priorizar o lado humanizado. Somos acostumados para a vida e não para a morte. Embora profissionais, não queremos lidar com a abreviação das vidas", pontua.
A situação vivida por pacientes internados na capital do Amazonas impacta o País. Para Rodrigues, aconteceram falhas graves que ainda precisam ser apuradas. "Para se ter noção, o oxigênio em UTI, chegam em forma líquida. Eles vem por canulação, o que torna mais complexo. Acho que deve ser angustiante estar no lugar do paciente que tem falta de ar. Inclusive, fiquei sabendo do envio de morfina para pacientes da capital do Amazonas, para que não sentissem tanto o impacto da falta de ar".
Ouça a entrevista na íntegra
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