Publicidade
Notícias | Especial Coronavírus Vidas perdidas

Como lidar com o luto estendido em meio à pandemia

Em entrevista, psicóloga Lidiane Klein fala sobre como a quebra de rituais importantes tem prolongado a elaboração do luto

Por Joyce Heurich
Publicado em: 25.03.2021 às 15:21

A pandemia da Covid-19 já fez mais de 300 mil vítimas no Brasil. Somente no Estado, mais de 18 mil pessoas perderam a vida para a doença. Familiares e amigos das vítimas podem estar vivendo um luto estendido, segundo a neuropsicológa Lidiane Klein. Em entrevista, transmitida ao vivo pelas redes sociais do jornais NH, VS, DC e JG, na manhã desta quinta-feira (25), Lidiane explicou como a quebra de rituais importantes para assimilarmos a perda pode tornar esse processo ainda mais prolongado. Veja a entrevista na íntegra no vídeo acima. 

A impossibilidade de visitar o familiar no hospital ou de realizar um velório tradicional com o caixão aberto tende a tornar esse momento da despedida ainda mais difícil e demorado.
 
Os protocolos necessários, impostos pela pandemia, modificaram também a forma de acolhimento de quem precisa. Os abraços estão vedados, mas nem por isso essa vivência precisa ser totalmente solitária. Para a psicóloga, uma ligação, ou um gesto de carinho, mesmo a distância, pode fazer a diferença. 

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista, que teve patrocínio do Grupo Krause
O que é o luto e por que ele é importante?

"Nesse momento, a gente vai falar do luto relacionado à morte. Tem outros lutos que a gente vai viver ao longo da vida. A gente tem muitas mortes por Covid, mas a gente também não pode esquecer que a gente vive "A era Covid", muitas pessoas estão também perdendo familiares, não por Covid, mas acabam também sendo transpassadas por essa questão da Covid também. O luto é um processo, não é de um dia para o outro que isso vai passar, que a pessoa vai ficar bem. Não, é um processo, e ele é individual. Ele é muito relacionado àquilo que cada pessoa consegue lidar, ou não, em determinada situação, depende dos recursos de enfrentamento que cada um tem. A gente precisa viver o luto. Onde tem luto é porque existiu amor. É um processo que a gente tem que aceitar e tentar vivenciar de uma forma mais saudável. Porque se a gente não vive o luto, a gente vai passar a viver em luto. Então, é importante que a gente se entregue a esse tipo de dor, a esse vazio, experiencie esse momento para que consiga lidar melhor  lá na frente. E depois toda essa dor passa a se tornar uma saudade."

A quebra de rituais dificulta o processo do luto?

"Todo esse panorama que a gente está vivendo dificulta o processo de luto. Nos casos de Covid, o familiar vai para o hospital, o corpo vai para a UTI, tu ficas um bom período de tempo sem poder estar com essa pessoa, tu não sabes se ela está tendo todos os recursos necessários ou como que está a situação, então, existe esse momento de ausência, em que tu não sabes o que está acontecendo com a pessoa. Depois, recebeu a notícia de que a pessoa faleceu, tu não vais ter a oportunidade de se despedir da pessoa, dignamente, com o caixão aberto, para que tu possas concretizar aquele momento. O velório é para nós um processo de assimilação do que aconteceu. A partir do momento que eu tenho o caixão fechado, isso vai fazer falta no meu processo de elaboração do luto. Eu posso ter sintomas maiores e se estender por mais tempo.  E não só a questão da assimilação do momento, mas também do apoio que a gente recebe no momento do velório ou do sepultamento. As pessoas que vão ali, se solidarizam, que compartilham o momento com a gente, isso também faz uma falta muito grande. Então, não tem como isso não repercutir a longo prazo."

A fé pode ajudar nesse processo?

"Com certeza. Nas minhas experiências em atendimentos, a gente vê que quando a pessoa tem uma crença, e aí não importa a crença que a pessoa tem, acaba passando por esse processo de uma forma mais tranquila. Porque busca também na espiritualidade um sentido para o que aconteceu."

Quando o luto deixa de ser normal e vira uma patologia?

"A gente fala assim, que teria esse processo de luto, que seria de seis meses a um ano. Agora, com toda essa questão da Covid, a gente não sabe se vai se estender um pouquinho mais. O luto não é uma doença, é algo que é esperado porque houve um rompimento de um vínculo. Havia alguém que amava e agora não está mais aqui, e eu tenho que aprender a lidar com essa situação. Passados mais ou menos seis meses a um ano, se esse luto não passar, a gente fala que ele começa a se tornar um luto patológico, e aí é muito importante que a pessoa busque uma ajuda profissional. Mas cada caso é um caso, se a gente pegar uma pessoa que já tem alguma patologia mental, depressão, algo assim, daqui a pouco ela precisa olhar para isso mais rapidamente, não deixar que isso se torne patológico." 

O papel das cerimônias de despedida no processo do luto

"O processo de luto é sempre marcado por muita dor, mas existem maneiras de torná-lo mais leve. Há, por exemplo, um serviço chamado Cerimônias de Despedidas, que ajuda muito nesse momento. Esse serviço proporciona uma homenagem personalizada, realizada por cerimonialistas profissionais, que reforçam o legado da pessoa que partiu. Especialmente nesta época de pandemia, é uma opção que traz conforto e amparo para as famílias nas poucas horas disponíveis para os velórios. Uma opção sensível e única para, em meio às dificuldades, lembrarmos de dar espaço ao amor", afirma Deise Aita, coordenadora da Funerária Krause.


Quer receber notícias como esta e muitas outras diretamente em seu e-mail? Clique aqui e inscreva-se gratuitamente na nossa newsletter.

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Encontrou erro? Avise a redação.
Publicidade
Matérias relacionadas

Olá leitor, tudo bem?

Use os ícones abaixo para compartilhar o conteúdo.
Todo o nosso material editorial (textos, fotos, vídeos e artes) está protegido pela legislação brasileira sobre direitos autorais. Não é legal reproduzir o conteúdo em qualquer meio de comunicação, impresso ou eletrônico.