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'Falta liderança ao Brasil para enfrentar a Covid-19', diz Luiz Henrique Mandetta

Ex-ministro da Saúde falou com exclusividade à Rádio ABC, debateu a condução da pandemia, política e, também, fez ressalvas importantes quanto aos cuidados que os gaúchos devem ter com o inverno e as doenças respiratórias

Por Jauri Belmonte
Publicado em: 25.03.2021 às 11:08

Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil

"Falta liderança ao Brasil para enfrentar a Covid-19". Com jeito calmo e ponderado, essa foi uma das falas mais emblemáticas do médico sul-matogrossense e ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, 56 anos. 

No programa NH 10 da Rádio ABC 103.3 FM desta quinta-feira (25), ele foi entrevistado pelos jornalistas Cláudio Brito e Guilherme Trescastro. Ontem, o número de mortes no Brasil por conta da pandemia ultrapassou os 300 mil, enquanto o Rio Grande do Sul chegou a 17.748 óbitos. 

Mandetta esteve à frente da pasta entre 1º de janeiro de 2019 e 16 de abril de 2020, quando foi demitido após divergências com o presidente Jair Bolsonaro quanto à política de isolamento social adotada na época em que a pandemia iniciou no Brasil. Ao ser questionado como recebeu a notícia, ele foi claro e disse que lidou com a situação com respeito. "Deixei claro para ele que, mesmo eu saindo, ele enquanto presidente deveria ter cuidados. Falei que ele poderia trocar o ministro, mas não a equipe, senão perderia a linha.".

"O exército é ótimo para as funções militares, mas não para a área da Saúde neste momento. Se o governo não colocar o sapato no pé, chegaremos a 400 ou 500 mil mortes por conta da pandemia", ponderou"


Atraso na imunização é extremamente prejudicial

Sobre o atraso no processo de vacinação no Brasil, desde a aquisição de vacinas, por exemplo, Mandetta disse que todos serão prejudicados, inclusive quem preza mais pela economia do que pela saúde. 

"Se tivéssemos gente séria e entendida do assunto, já teríamos comprado vacinas e iniciado a imunização em novembro. Por conta da desorganização, perdemos tempo. Vamos continuar pagando esse pato por mais seis ou oito meses, por conta de um erro primário de condução. Falta liderança ao Brasil para enfrentar a Covid. Países que se prepararam melhor que nós, planejam a retomada da economia para daqui a um ou dois meses."

"O vírus é nosso inimigo. O problema não é individual,mas, sim,coletivo. É uma doença nova, infecciosa. A maneira de enfrentarmos é usando máscara, higienizando as mãos."

 

Pandemia e chegada do inverno no RS

"Não temos direito sequer a luto. Vamos refletir sobre a família, mas aí alguém vem e diz: chega de 'mimimi', parem de chorar. Neste momento, penso nas famílias."

Mandetta acredita que no cenário da pandemia no Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite está conduzindo bem a situação. 

 

"O Rio Grande está lutando. Tenho conversado com o governador. O Estado de vocês tem pontos fortes e fracos. O ponto forte é que o RS tem um sistema de saúde consolidado e uma academia forte, que pensa e propõe estudos como a Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Mas o ponto fraco, é que vocês tem o maior número de idosos no Brasil e isso faz com que se tenha um cuidado triplicado."

Ele também acredita que entre a primeira e a segunda onda, o Rio Grande do Sul sofreu uma fragilização. "Na primeira passou bem, mas justamente por isso a população gaúcha relaxou e a segunda onda tem sido devastadora. Leite é consciente da sua responsabilidade. Ele está tomando a decisão que ele vê a melhor no momento, para achar um porto seguro para cada cidadão, mesmo com muita força contrária. E no Rio Grande do Sul existe uma politização muita aguda, que faz com que a demonstração de apoio político passe por fazer boicote de medidas preventivas em uma pandemia", salientou.

Ao ser questionado por Cláudio Brito sobre a chegada do inverno, e as crises respiratórias da época, além do risco de saturar o sistema de saúde, Mandetta ressaltou que deve haver um distanciamento entre os tipos de vacina a serem aplicadas.

"As pessoas estão se vacinando de maneira lenta. É um ritmo conta-gotas. E precisa se ter uma distância para a vacinação para a da gripe. O necessário seria ter uma distância e a ciência estar junto. Ainda mais levando em conta o período mais rigoroso do inverno gaúcho, que ocorre em junho/julho. O Ministério da Saúde deveria estar organizando isso, mas não está". explica.

 


 

Testagem parou

Quanto as testagens no país, que se encontram estagnadas, Mandetta criticou. "Pararam de testar. O Brasil regrediu neste ponto. Tanto que a nova variante foi diagnosticada no Japão quando seis japoneses vieram para a Amazônia. Nosso país simplesmente não testa mais ninguém".

 

Chance de entrar na política

Ao ser questionado por Guilherme Trescastro sobre as chances de ingressar na política como candidato à presidência em 2022, Mandetta não confirmou, mas também não descartou. "Partidos são necessidades que as pessoas têm para manifestar suas convicções. Falar de Bolsonaro e Lula é pensar em algo que atrasou demais o país. O próprio governador gaúcho é uma pessoa que tem um bom diálogo e pensa antes de falar. As pessoas estão cansadas de quem opta por radical A ou B", completou. 

 Por fim, o ex-ministro disse que enquanto esteve à frente da pasta tentou ser transparente e pediu para o povo se cuidar. "Não vamos entrar nessa fila mórbida. Malandro agora é o cara que não pega e não transmite. Oriente seus familiares, cuide-se. Meu respeito às milhares de vítimas do Rio Grande do Sul e do Brasil como um todo."

"Hoje temos dois polos radicais. E acho que está na hora das pessoas criarem um polo radical pelo País. Temos que pensar em igualdade, sem briga, indústria, meio ambiente, saúde. Ninguém pode sentar numa mesa e falar 'eu sou o caminho"


 


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