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Notícias | Especial Coronavírus Onde a proteção já chegou

Conheça a primeira cidade que já foi totalmente vacinada contra Covid-19 no Brasil

Toda a população acima de 18 anos de cidade do interior paulista já recebeu as duas doses da Coronavac. Iniciativa partiu do Instituto Butantan, que quer descobrir o resultado de vacinação em massa em uma localidade

Por Matheus Beck
Publicado em: 17.04.2021 às 07:00

Aplicação das vacinas Coronavac na cidade de Serrana ocorreu com a divisão territorial do município em quatro regiões. No dia 11 de abril, as imunizações foram finalizadas Foto: Divulgação/Instituto Butantan
As vacinas contra a Covid-19 estão sendo aplicadas em todo o Brasil. A eficácia delas é comprovada, mas o grau varia de acordo com o laboratório e de pessoa para pessoa. Ao mesmo tempo que avaliações são feitas com base nas respostas individuais, incertezas se aplicam quanto à resolução da pandemia após a vacinação em massa. Afinal, após a imunização completa da população, a pandemia estará resolvida?

O projeto S, realizado pelo Instituto Butantan, foi efetuado em Serrana, cidade do interior paulista. Com a Coronavac, vacina aplicada pelo laboratório brasileiro através de parceria com o fabricante Sinovac, ele visa antecipar a vacinação em massa naquela localidade.

O objetivo da pesquisa é justamente responder o que acontece com a pandemia após o processo. No 11 de abril, os últimos moradores da cidade foram imunizados, concluindo 97,9% do público-alvo, que era toda a população com mais de 18 anos, ou seja, 27,1 mil pessoas. Daqui a duas ou três semanas, portanto, os resultados serão oficialmente colhidos.

O trabalho se trata de um ensaio clínico para avaliar a efetividade da vacina CoronaVac na população. A estratégia foi oferecer a vacina para a população adulta de uma cidade, com o objetivo de analisar a sua capacidade de modificar a epidemia.

O estudo foi desenvolvido pelo Instituto Butantan, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, avaliado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e realizado em parceria com a Secretaria de Saúde e a prefeitura de Serrana.

"A contribuição do Projeto S vai ficar na história, na história do Butantan, na história do Brasil e na história da ciência mundial", afirmou o diretor-presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas.

Além das imunizações, trabalho prevê a análise de diversas questões. A adesão da população às vacinas, possíveis reações adversas, efeitos indiretos na economia e circulação das pessoas. O impacto na redução da carga da doença, que acarreta em economia da saúde, ocupações hospitalares, número de consultas e liberações dos hospitais para outras doenças também integrarão a série de respostas que serão divulgadas a partir de maio.

O prefeito de Serrana (SP), Leonardo Capitelli, ressalta que mesmo com as vacinas, é possível contrair e contaminar outra pessoa. No entanto, a imunização já garantiria que não ocorram casos graves ou internações. "Os primeiros resultados têm nos trazido um otimismo e uma esperança muito grande. Nos últimos 15 dias, o fluxo da nossa UPA e da nossa Santa Casa diminuiu significativamente. E isso nos traz a esperança de um 2021 de cura. A esperança de um 2021 de volta ao novo normal", declarou o gestor.


Por que o município paulista foi escolhido?

Para entender o motivo da escolha, é preciso voltar a 3 de abril de 2020, quando os casos se intensificaram em São Paulo, chegando à cidade. Naquele mês, funcionários e idosos testaram positivo em asilo de Serrana. Foi então que testes RT-PCR passaram a ser intensos no local de acolhimento para um mapeamento da situação. Assim, se constatou em julho que 8,75% da população havia tido contato com o vírus e 5% estavam com ele ativo.

A partir deste momento, o Instituto Butantan passou a acompanhar de maneira mais próxima a evolução da pandemia no município. Pequena, com alta taxa de infecção e próxima do centro de pesquisa, a cidade acabou se encaixando na busca do instituto após a aprovação da vacina pela Anvisa. 

Pesquisadora vê resultados parciais com otimismo

Biomédica, doutora em neurociências pela Ufrgs, atuando na Rede Análise Covid-19, equipe Halo da ONU, grupo InfoVid, Todos Pelas Vacinas e União Pró-Vacina, Mellanie Fontes-Dutra, que reside em Canoas, comentou sobre o assunto. "A ideia é ver a efetividade da Coronavac, ou seja, o quanto ela protege uma sociedade."

De acordo com a biomédica, que acompanha o estudo, resultados preliminares apontam que não havia nenhum caso de intubação quando 66% dos 28 mil serraneses com mais de 18 anos já haviam recebido a segunda dose.

Mellanie, no entanto, faz questão de ressaltar que ainda é cedo e não é possível afirmar que a ocorrência é por consequência da vacinação em massa. A doutora em neurociências citou resultados semelhantes que estão sendo colhidos em Israel, que até o fim de março tinha quase 60% da população vacinada. "Serrana foi um estudo planejado. A cidade foi eleita para a investigação do Butantan. Israel fez lockdown com vacinação em massa. Como a vacina do laboratório Pfizer foi a principal ali, se obteve dados dela nessa condição", pondera.

"Serrana é um local que também teve predominância da P.1 (variante brasileira da doença). Se a vacina mostrar uma proteção significativa nesses moradores, é um indicativo positivo para nós", concluiu a pesquisadora.

Saiba mais sobre a cidade e o projeto

Serrana tem atividades econômicas que se destacam pela a lavoura de cana-de-açúcar, destacando-se como um polo industrial e de logística do interior de São Paulo, especialmente pela usina de açúcar e álcool. O município conta ainda com o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), forte na formação de professores. 

A população estimada pelo IBGE no ano passado era de 45,6 mil pessoas. A cidade está localizada na região metropolitana de Ribeirão Preto, numa área de 125,744 km2.

Você pode saber mais sobre o projeto S acessando o site projeto-s.butantan.gov.br

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