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Notícias | Mundo Música

Tudo se divide, todos se separam: a tour dos Engenheiros pela URSS

Banda gaúcha Engenheiros do Hawaii fez série de dez shows em Moscou e Leningrado

Por J. Karnal
Publicado em: 09.11.2019 às 10:00 Última atualização: 10.11.2019 às 15:10

Engenheiros do Hawaii em Moscou

"Duas Alemanhas, duas Coreias. Tudo se divide, todos se separam." Trecho de "Alívio Imediato", uma das inéditas do disco ao vivo gravado pelos Engenheiros do Hawaii na casa de espetáculos Canecão (RJ), em julho de 1989. Quatro meses depois, o guitarrista Augusto Licks, o baterista Carlos Maltz e o baixista e vocalista Humberto Gessinger voariam para a mítica União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) para uma tour de dez shows, em Moscou e Leningrado. Na foto acima, o trio gaúcho enfrenta os rigores do clima eslavo, com o relógio do Kremlin ao fundo. O muro de Berlim estava ruindo. A crise da URSS desencadearia a queda. Licks deixaria o Enghaws em 1993.

Muro intransponível?

Avesso aos holofotes, Licks lançou a biografia "Contrapontos", escrita por Fabricio Mazocco e Silvia Remaso. Com o irmão criou o LICKS Blues. Para o ABC, relembra o que viu na URSS há 30 anos e fala dos muros intransponíveis, entre eles, a volta dos Enghaws.

Na URSS, o choque cultural foi muito grande?

O Alexandre "Sasha" Cavalcante, que é um gaúcho que residiu muitos anos na Rússia, vivenciou intensamente o período soviético até as aberturas político-culturais produzidas por Mikhail Gorbatchov, chamadas "Perestroyka" e "Glasnost". Sasha foi o intérprete da banda. É importante observar a diferença entre o pensar de agora e o pensar da época, 30 anos passados. Numa época em que não existia internet nem celular, quando se aproximava minha primeira oportunidade de votar para presidente no Brasil, existia um fascínio natural por conhecer um "outro lado da história". Não era só a política que fazia diferença, a cultura russa tem muitos aspectos próprios, jeito de as pessoas se comportarem, seus valores morais. Era como se estivéssemos visitando uma época diferente. Ao mesmo tempo, por trás dessa diferença cultural, era possível perceber aspectos humanos que são iguais aos de qualquer outro lugar.

A queda do muro já era visível?

A queda do muro de Berlim teve o aspecto simbólico inicial e crucial para o dominó que foi desmanchando o domínio soviético no leste europeu, mas na própria Rússia a Perestroyka já produzia alguns ventos de mudança, aliás, Winds of Change da banda alemã Scorpions era uma música que tocava muito na época. Pude testemunhar um pouco de como as pessoas viviam naquela sociedade. Não havia nada de pobreza, embora sem qualquer luxo, mas havia uma grande distância de hábitos de consumo como conhecíamos no Brasil, sem falar nos EUA. Hoje é fácil entender que o socialismo do leste europeu ruiu porque se estagnou, não conseguiu fazer a sociedade evoluir, contentando-se por manter as coisas como estavam, e chegou a hora em que o dinheiro acabou. "Comunismo", como profetizava Marx, sabemos que nunca existiu nem existirá, utopia.

Que muros ainda precisam ser derrubados?

Muitos muros persistem a nosso redor: o muro da intolerância, o muro do ciúme e da inveja, o da pregação em vez de educação, o de gritar em vez de conversar, o da internet que acaba segregando as pessoas em vez de aproximá-las, o muro das manipulações cotidianas, o muro da desinformação. São muitos os muros.

A volta da formação clássica do Engenheiros seria um muro intransponível?

Acho que uma banda desfeita em 93 não teria como voltar a existir. Estou falando de "banda", que não se resume a músicos tocando instrumentos em cima de um palco. Tecnicamente falando, poderia acontecer alguma reunião, pra algum show tipo "matar as saudades", mas há 26 anos essa opção é propriedade de um só indivíduo, que nunca se propôs a reunir.

A Cortina de Ferro se abre

Num cenário de crise, em 1985, Mikhail Gorbatchov assume a URSS. Em 1986 institui a Perestroika, a reestruturação política/econômica. Dois anos depois, a Glasnost (transparência). A URSS se desmembra e se liberaliza.

Licks visita a Alemanha Ocidental

Após a URSS, Licks visitou o irmão, José Rogério, residente na Alemanha há mais de 40 anos. "Só conheci o lado ocidental, privilegiado pela pujança econômica e cultural", recorda. "Experimente assistir a uma meia dúzia de filmes alemães, depois compare: 'A Vida dos Outros', 'Labirinto de Mentiras', só pra citar dois."

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