O presidente norte-americano, Donald Trump, acendeu o pavio. Autorizou um ataque ao aeroporto de Bagdá, no Iraque, na noite de quinta-feira (2), matando o general Qassim Soleimani, comandante das Forças Quds, uma unidade especial da Guarda Revolucionária do Irã. O episódio eleva a tensão entre os dois países e as consequências são incertas e muito perigosas. O mundo vislumbra, mais uma vez, o fantasma de uma guerra.
Em nota, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos justificou o ataque nesta sexta (3), alegando que as forças armadas norte-americanas agiram "defensivamente". O Pentágono garantiu que o general vinha "desenvolvendo ativamente planos para atacar diplomatas americanos e membros do serviço no Iraque e em toda região".
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, afirmou que Soleimani tramava ação que ameaçava a vida de centenas de americanos. O próprio presidente Trump declarou que Soleimani deveria ter sido assassinado "há muitos anos". Disse ainda que agiu "para parar uma guerra, não para começar". Mesmo assim foi determinado o envio de mais 3 mil soldados norte-americanos ao Oriente Médio. A embaixada dos EUA em Bagdá, atacada na terça-feira por pró-iranianos, apelou aos seus cidadãos que deixem o Iraque "imediatamente".
Retaliação deve vir
O general morto era um herói nacional e sua morte é considerada uma afronta sem precedentes ao Irã. O governo iraniano já declarou que a vingança virá "no momento e lugar apropriados". A frase pode indicar uma estratégia diferente de uma batalha convencional aos Estados Unidos. E não faltam meios para isso. O general Soleimani, ao longo de duas décadas, construiu uma rede de aliados estratégicos no exterior. A retaliação, por exemplo, poderá vir do Hezbollah, no Líbano; do Hamas, na Faixa de Gaza; dos houthis, no Iêmen; ou das forças lideradas por Bashar Assad, na Síria.
Vários grupos pró-Irã na região têm a capacidade de realizar ataques contra bases americanas nos Estados do Golfo, bem como contra navios-tanque e navios de carga no Estreito de Ormuz.
Eles também podem atacar tropas e bases dos Estados Unidos no Iraque, na Síria e outras embaixadas na região, assim como atacar os aliados de Washington - Israel, Arábia Saudita e países da Europa. Segundo o analista Kim Ghattas, do Carnegie Endowment for International Peace, é difícil avaliar o que acontecerá a seguir.
(com AFP e ABr)
A morte do general preocupa lideranças de todo o mundo e vão muito além do preço do barril de petróleo, que teve aumento de 3% nesta sexta-feira (3). O primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdel Mahdi, estima que o episódio "iniciaria uma guerra devastadora no Iraque". Para o presidente da Rússia Vladimir Putin, o assassinato ameaça "seriamente agravar a situação" no Oriente Médio.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, estimou que "o mundo não pode permitir uma nova guerra no Golfo". Inglaterra e Paris defendem uma solução pacífica, enquanto a China pede calma. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, por sua vez, apoiou os ataques. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro disse que poderá "tomar providência" se o preço do petróleo disparar. Evitou opinar sobre o conflito. "Eu não tenho o poderio bélico que o americano tem para opinar nesse momento. Se tivesse, opinaria", disse.