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Vacinação contra Covid-19: relatos de gaúchos que vivem no exterior

Mundo já aplicou mais de 730 milhões de doses. Brasil é o quinto, em números absolutos, mas tem apenas 2,6% da população totalmente imunizada

Reportagem: Joyce Heurich

Desde a identificação do novo coronavírus em dezembro de 2019, em Wuhan, na China, pesquisadores do mundo todo trabalham no desenvolvimento de imunizantes que possam ajudar a conter a escalada de mortes pela Covid-19 - já são 345 mil vítimas no Brasil. A soma de esforços permitiu a aprovação de vacinas em tempo recorde. Em 8 de dezembro de 2020, apenas nove meses após a declaração de pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Reino Unido fez história, tornando-se o primeiro país do Ocidente a vacinar sua população.

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De lá para cá, mais de 730 milhões de doses foram administradas no mundo, de acordo com os dados mais recentes do Our World in Data (OWID), da Universidade Oxford, atualizados nesta sexta-feira (9).

No Brasil, a vacinação começou somente em janeiro de 2021. Por aqui, 24,9 milhões de vacinas já foram aplicadas, mas, até agora, apenas 5,6 milhões de pessoas receberam as duas doses - o equivalente a 2,6% da população brasileira. É como se apenas metade da população gaúcha estivesse imunizada em todo o país. Confira o ranking mundial no fim da reportagem.

O ritmo de vacinação varia conforme as estratégias adotadas pelos governos. No Chile, por exemplo, já tem brasileiro de 30 anos vacinado. Enquanto isso, na Alemanha, brasileiros da mesma faixa etária não fazem ideia de quando a vacina estará disponível. O Jornal NH conversou com gaúchos que moram no exterior sobre suas percepções em relação à vacinação e o combate à pandemia em direfentes partes do mundo. Confira os relatos a seguir.

San Pedro de Atacama, Chile

Aos 30 anos, o gaúcho Igor Grossmann já recebeu a primeira dose da Coronavac. Foi no fim do mês de março. Em San Pedro de Atacama, onde mora há dois meses, a vacinação foi ampliada para adultos com 18 anos ou mais (com ou sem comorbidades).

"Meu sentimento é o melhor possível, porque a luz no fim da pandemia é a vacinação. Quando eu vim para cá, eu senti que eu seria vacinado muito antes do que se eu tivesse continuado no Brasil, era um sentimento de que 'estou pulando a fila', não 'furando a fila' porque eu não furei fila, mas 'pulando' em relação ao Brasil", conta.

Para se ter uma ideia, o jornalista, que trabalha com turismo no Chile, foi vacinado um dia depois do pai, de 70 anos, que vive em Porto Alegre, e no mesmo dia da mãe, de 79, que mora em Torres. Atualmente, a vacinação no Brasil está na faixa dos 60 anos.

San Pedro de Atacamana, no Chile, é um povoado com uma população de aproximadamente 5 mil pessoas Foto: Arquivo Pessoal

San Pedro de Atacama fica a 2.500 quilômetros da capital Santiago. Igor conta que o povoado, que vive do turismo, fica ao pé da montanha e abriga aproximadamente 5 mil pessoas. A situação da cidade, portanto, não reflete a realidade de todo o país, cujo calendário de vacinação contempla atualmente a faixa dos 50 anos. Mesmo assim, o Chile é o segundo país com a maior parcela da população totalmente imunizada no ranking mundial.

A imunização em ritmo acelerado, no entanto, parece estar contribuindo para o relaxamento dos protocolos, o que tem prejudicado o controle da pandemia no país. Pelo menos essa é a percepção do jornalista. Ele explica que, assim como no Rio Grande do Sul, o governo do Chile adotou níveis de classificação de risco, sendo a fase 1 a mais restritiva e a fase 3 a menos restritiva. A maior parte do país está em fase 1 ou 2, ou seja, a vacinação sozinha é insuficiente para conter o aumento de casos.

"Agora rolou um rebote, porque as pessoas tomam a primeira dose e acham que acabou a pandemia. E se verifica isso, as pessoas se cumprimentam mais, acham que podem sair abraçando e beijando. E é difícil porque a gente está há mais de um ano nessa situação, estão todos cansados", observa.

Sydney, Austrália

Longe da terra natal, a gaúcha Andreia Alves de Oliveira, de 30 anos, acompanha as notícias do Brasil com apreensão. A professora de Novo Hamburgo vive sozinha em Sydney, na Austrália, desde fevereiro de 2019. "Vendo a situação do Brasil, me dá uma agonia. Parece que estou assistindo a um filme de terror de camarote. Muito triste", define a hamburguense.

Enquanto os brasileiros enfrentam um dos piores momentos da pandemia, em Sydney, a situação é outra. A cidade já pôde abrir mão de protocolos como distanciamento e uso de máscaras de proteção. Mesmo assim, alguns cidadãos adotam o acessório de forma espontânea.

"Agora, tudo está voltando ao normal. Bares, boates e restaurantes já podem ter a capacidade máxima de pessoas. As fronteiras estão fechadas, mas a partir da segunda quinzena de abril irão abrir para a Nova Zelândia, que também está com a situação controlada", detalha.

A normalidade, entretanto, não foi alcançada sem medidas rígidas. Andreia conta que, assim que a pandemia começou, em março de 2020, o governo decretou lockdown por mais de duas semanas, com o fechamento do comércio, das escolas e das fronteiras. A multa para quem deixasse de usar máscara de proteção de 200 dólares. Cidadãos e estudantes estrangeiros receberam auxílio financeiro do governo.

"Foi muito respeitado pela população. O governo aplicou multas e outras penalidades para quem não cumprisse as regras, também deu auxílio financeiro para a população. O povo respeitou e deu certo", conclui.

Com a situação controlada, a ansiedade pela vacina acaba sendo amenizada. "Eles estão vacinando seguindo um cronograma como no Brasil (idosos, pessoas com problemas de saúde), mas a expectativa é, até o meio do ano, estar todo mundo vacinado", adianta a gaúcha.

Hamburgo, Alemanha

A hamburguense Adriane Dienstmann Armani, de 33 anos, vive com o marido, Anderson Augusto Armani, de 35, em Hamburgo, na Alemanha, desde 2017. Por lá, a vacinação começou em dezembro, logo após o Natal. Os dois ainda não foram vacinados, nem têm previsão de quando isso deve ocorrer. 

"A ideia era que até o fim do verão, início de setembro, todo mundo já estivesse vacinado ou tivesse a oportunidade de se vacinar, mas não sei se isso será possível", relata a gerente de comunicação digital. Atualmente, a cidade europeia está vacinando pessoas com idade acima de 75 anos e grupos prioritários (de risco), independentemente da faixa etária, como profissionais de saúde e funcionários de escolas primárias. 

"Aqui a gente está usando a vacina da Pfizer, tem outras, mas essa é a principal. As pessoas que podem ser vacinadas recebem uma carta pelo correio em casa, com um código. Pela internet faz o cadastro e marca a consulta para receber a vacina. A vacina está sendo feita em um centro de eventos aqui em Hamburgo. Quando tu chega, tu recebe a vacina, depois espera 30 minutos para saber se houve ou não reação alérgica e vai embora", descreve Adriane.

Adriane conta que tem amigos que fazem parte do grupo de risco e que receberam a carta de vacinação há um mês, mas ainda não conseguiram horário para se vacinar. "É liberado um lote de vacinação e, instantaneamente, já acabou espaço para se vacinar, não tem mais como se cadastrar", explica. 

Restaurantes fechados na Alemanha por conta da pandemia da Covid-19 Foto: Arquivo pessoal

Em números absolutos, o Brasil já aplicou mais doses do que a Alemanha, mas proporcionalmente, o país europeu leva vantagem. É preciso considerar, porém, que os brasileiros começaram a ser vacinados de duas a três semanas mais tarde. 

"Honestamente, eu estou muito feliz com a vacinação no Brasil, está sendo um exemplo para muitos países. A gente até brinca, os brasileiros aqui, a gente brinca que vai agendar nossas passagens para tomar a vacina aí porque acho que vai ser mais rápido. Minha família está toda no Brasil, meus pais já foram vacinados, minha irmã já foi vacinada, a gente vê as coisas acontecendo", comemora Adriane.

Recentemente, médicos de família foram autorizados a aplicar vacinas em seus consultórios, na Alemanha, começando pelos grupos prioritários definidos pelo governo federal. A medida tende a acelerar o processo de imunização na Alemanha. Por enquanto, o país tem 5,8% da sua população totalmente vacinada (parcela que recebeu todas as doses).

Restrições 

A Alemanha tem lutado para combater a terceira onda da pandemia, adotando medidas mais restritivas. Em Hamburgo, apenas o comércio essencial está autorizado a abrir, os demais estabelecimentos podem vender apenas pela internet. 

"No verão passado, houve uma boa melhorada nos números de casos, porém, desde dezembro, estamos com as restrições ainda mais severas. O comércio está fechado desde antes do Natal. O que está aberto são lojas de mantimentos e necessidades diárias. Nós abrimos o comércio por duas semanas, porém como os números subiram drasticamente, o comércio foi fechado novamente", justifica.

Outras medidas começaram a valer no dia 2 de abril e seguem, pelo menos, até o dia 18 no município. Em caso de descumprimento, os cidadãos podem ser multados.

"Estamos com toque de recolher entre 21 horas e 5 horas da manhã. Escolas e hotéis também estão fechados, viagens são permitidas somente com PCR e quarentena de 14 dias. Encontros não são permitidos. Uma família está autorizada a receber ou encontrar somente uma pessoa de outra casa. Na Páscoa, as famílias não tiveram a possibilidade de se encontrar. Aqui a multa para quem descumpre a lei é altíssima", conclui. 

Nova York, Estados Unidos

Luisa: duas dose da Pfizer Foto: Arquivo Pessoal

Moradora de Nova York, nos Estados Unidos, a gaúcha Luisa Dalla Roza, de 28 anos, já está totalmente imunizada com as duas doses da vacina da Pfizer. A vacinação ocorreu ainda no mês de março, por agendamento. Enquanto isso, no Brasil, o pai dela, de 59 anos, ainda não entrou na faixa etária contemplada. A mãe, de 58, por ser psicóloga, já recebeu a primeira dose. Os dois moram em São Leopoldo.

"É muito triste ver que tem muita gente pra se vacinar, que a velocidade aí é bem mais lenta. Minha mãe não sai de casa há um ano, nem minha vó. Meu irmão é transplantado e não tem nem previsão. Já meu pai, segue com o trabalho voluntário dele, que exige estar em contato com as pessoas", afirma Luisa.

Morando fora desde 2016, a estudante diz que é "muito boa" a sensação de estar vacinada, mas que precisou de uma semana para "voltar à realidade". "Quando a gente recebe a vacina, vem aquela sensação: 'não vou morrer de Covid', mas depois tu começa a pensar nas outras pessoas, no longo caminho que se tem. Então, é preciso seguir com todos os cuidados ainda", lembra.

A partir desta semana, segundo Luisa, os moradores do estado de Nova York com mais de 16 anos já começam a ser vacinados contra a Covid-19. Os Estados Unidos são o país campeão em número de doses aplicadas (mais de 174 milhoes) e o quinto país do mundo a aplicar a maior quantidade de doses a cada 100 habitantes (52,29 doses). Veja o ranking mundial no fim da reportagem.

Vancouver, Canadá

O Canadá está à frente do Brasil em número de doses aplicadas com relação ao tamanho da população. Mas o Brasil tem uma parcela maior da população que já recebeu as duas doses, ou seja, que está totalmente protegida pela vacina. No país da América do Norte, o processo de imunização contra a Covid-19 começou no dia 13 de dezembro.

Em Vancouver há dois anos, a jornalista Bruna Weber, de 33 anos, conta que a vacinação no país, assim como no Brasil, focou primeiramente nas pessoas mais velhas e nos grupos de risco. A população mais jovem deveria ser vacinada até setembro deste ano. Mas, com o aparecimento de variantes do novo coronavírus, essa previsão pode ser antecipada. 

"Especialmente onde eu estou, na Costa Oeste, em Vancouver, na província de British Columbia, o número de variantes está aumentando muito rápido. E aí eles estão tentando adiantar essa primeira dose para a população mais jovem. Segundo especialistas e ministros aqui do Canadá, se existir essa terceira onda de pandemia, o risco vão ser as pessoas mais jovens, que não vão estar vacinadas", justifica. 

Bruna Weber, 33 anos, mora desde 2019 em Vancouver Foto: Arquivo Pessoal
Cinco vacinas COVID-19 estão atualmente aprovadas para uso no Canadá. A vacina é feita por agendamento. Bruna ainda não se vacinou, mas já recebeu o link necessário para se cadastrar de forma online.

"Eu recebi ontem o link, o governo tem um novo sistema, e a gente tem que fazer um cadastro para se vacinar dentro desse site. Aí, eu vou ser contatada através de uma mensagem de texto quando estiver dísponivel a primeira dose", esclarece.

Restaurantes e comércio não essencial fechados

Por conta da chegada de uma nova variante, Vancouver determinou o fechamento de restaurantes e do comércio não essencial nesta semana. Estabelecimentos que tiverem áreas abertas podem atender nesses espaços. Os demais podem funcionar somente por tele-entrega e pague e leve. O lockdown na cidade vale, pelo menos, até o dia 20 de abril, quando haverá nova análise.

Encontros sociais estão permitidos, mas podem incluir, no máximo, 10 pessoas que já costumam se reunir em casa ou no trabalho. O uso de máscara em espaços públicos é obrigatório. “Tem multa para quem não andar de máscara, todo mundo anda”, garante Bruna.

Em março de 2020, no início da pandemia, Vancouver já tinha vivido um lockdown parecido. Na época, Bruna perdeu os dois empregos que tinha, porque os estabelecimentos fecharam. Chegou a ficar desesperada, mas o alívio veio com a ajuda do governo canadense.

"O governo deu auxílio mensal de 2 mil dólares, durante dois meses, e auxílio para pagamento de aluguel, no valor de 600 dólares", relata.

Uso de máscara é obrigatório em Vancouver Foto: Arquivo Pessoal

Ranking mundial

No ranking mudial de vacinação que olha para a quantidade total de doses aplicadas em números absolutos, o Brasil é o quinto colocado. Esse ranking desconsidera o tamanho da população. Os Estados Unidos aparecem em primeiro lugar, com 174,88 milhões de doses aplicadas (sete vezes mais do que o Brasil), seguidos por China, Índia e Reino Unido. Veja no gráfico a seguir.

Ranking mundial de vacinação que considera doses aplicadas em números absolutos Foto: Reprodução

No ranking proporcional, que leva em conta a população e o número total de doses aplicadas a cada 100 pessoas, o Brasil aparece no 18º lugar (com 11,75 doses para cada 100 pessoas). Israel, Emirados Árabes e Chile ocupam as melhores posições. Veja abaixo.

Ranking proporcional conforme número de doses aplicadas para cada 100 habitantes Foto: Reprodução

Já no ranking mundial que considera a parcela da população totalmente imunizada, ou seja, aquela que já recebeu todas as doses necessárias, o Brasil está na 16ª posição, com 2,6% dos brasileiros imunizados. A lista é liderada por Israel, que já concluiu a vacinação de mais da metade dos israelenses (56,8%). Na sequência, aparece o Chile, com 22,2% da população totalmente vacinada. Veja abaixo os detalhes.

Os dados são do Our World in Data, organização sem fins lucrativos que compila informações fornecidas pelos próprios países participantes do levantamento (no total, são consideradas mais de 170 localidades). Os números correspondem à atualização feita nesta sexta-feira. 

Ranking proporcional que considera parcela da população totalmente imunizada Foto: Reprodução

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