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GRUPO WAGNER: A curiosa história dos mercenários que tentaram invadir Moscou

Entenda a cronologia da rebelião liderada por Yevgeny Prigozhin, que planejava sequestrar autoridades militares russas

Publicado em: 30.06.2023 às 03:00 Última atualização: 30.06.2023 às 09:04

A história daria um filme. Um misterioso exército de mercenários se revolta por falta de equipamento e o que alega serem más decisões dos gestores militares que estão causando muitas baixas. E aí, no meio de uma guerra já meio obscura, o grupo decide virar para o outro lado e marchar sobre o território do país que o havia contratado.

E tudo isso foi o noticiário da semana.

O perfil de Prigozhin

No sábado ganhou as manchetes do mundo inteiro o motim do Grupo Wagner, um exército privado de mercenários com sede em São Petersburgo, na Rússia. A força, estimada em cerca de 20 mil homens ao menos, integrou a invasão russa à Ucrânia, onde inclusive teria obtido a única vitória significativa das tropas russas nos últimos meses, a ocupação da cidade ucraniana de Bakhmut.


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Ameaças

Durante o sábado foi divulgado que a força mercenária, liderada por Yevgeny Prigozhin, 62 anos, havia se rebelado e marchava sobre território russo, ameaçando invadir Moscou. O grupo chegou a fazer uma ocupação simbólica da cidade de Rostov, no sul da Rússia, com direito a imagens de soldados armados ostensivamente nas ruas centrais e, até, curiosas selfies de moradores nos tanques que apareceram na cidade.

Ainda no sábado o presidente russo Vladimir Putin negociou com o grupo e anunciou uma anistia, desde que os mercenários se retirassem de território russo. O líder Prigozhin também deveria se exilar em Belarus, a Bielorrússia, onde se encontra atualmente.

Putin alegou que foi preciso negociar para evitar um banho de sangue, mas criticou a ação do grupo, que afirmou ter sido manipulada. No fim de semana, a polícia russa revistou a sede do Grupo Concord, de Prigozhin, em São Petersburgo.

Ao longo da semana, a imprensa internacional noticiou que Prigozhin planejava a captura do ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e do general do Exército Valeri Gerasimov, chefe do Estado-Maior da Rússia, durante uma visita planejada pelos dois a uma região ao sul que faz fronteira com a Ucrânia. Porém, a FSB, o Serviço Federal de Segurança russo, teria descoberto o plano dois dias antes de sua execução, o que precipitou o motim no sábado.

Linha do tempo
  • Sexta-feira, 23 - Depois de serviços de inteligência apontarem uma conspiração em andamento no Grupo Wagner, forças russas teriam começado ações contra o acampamento mercenário na Ucrânia. O líder Yevgeny Prigozhin alega que houve um ataque que produziu baixas.
  • Sábado, 24 - O Grupo Wagner anuncia um motim e inicia marcha em território russo, ocupando ostensivamente a cidade de Rostov, no sul da Rússia.
  • Sábado, 24 - Vladimir Putin negocia o fim da rebelião, mediante a promessa de não processar os insurgentes.
  • Domingo, 25 - Após o anúncio de que o motim do Grupo Wagner havia terminado, foram retiradas tropas russas das ruas de Moscou, onde haviam começado presença ostensiva prevenindo eventual invasão.
  • Segunda-feira, 26 - Putin faz declarações públicas criticando o motim e elogiando a decisão de interrompê-lo, para evitar "um banho de sangue".
  • Quinta-feira, 29 - A agência estatal russa TASS informou que o Grupo Wagner não lutará mais na Ucrânia. Já havia sido informado que estava sendo negociada a entrega dos armamentos ao exército russo.
Agências de inteligência descobriram

À mídia estatal russa, o comandante da Guarda Nacional da Rússia, general Viktor Zolotov, afirmou que as autoridades russas sabiam das intenções de Prigozhin. "Informações específicas sobre os preparativos para uma rebelião que começaria entre 22 e 25 de junho vazaram do acampamento de Prigozhin", disse na terça-feira (27).

O jornal norte-americano The Wall Street Journal noticiou que as agências de inteligência ocidentais também descobriram os planos do líder do Grupo Wagner com base em interceptações de comunicações eletrônicas e imagens de satélite.

Autoridades ocidentais disseram acreditar que a trama original tinha muita chance de sucesso, mas falhou depois que a conspiração vazou, forçando Prigozhin a improvisar um plano alternativo. A insurreição de curta duração no fim de semana foi apontada como o maior desafio ao governo de Vladimir Putin em mais de duas décadas no poder, mostrando as instabilidades dentro da Rússia.

(Com agência AE)

Outros problemas prévios com atuação de exércitos privados

A rebelião do Grupo Wagner é o mais recente incidente internacional envolvendo atuação de mercenários, mas outras polêmicas já aconteceram antes. Tanto Rússia quanto Estados Unidos adotam a prática de contratar forças militares privadas, que muitas vezes suscitam discussões sobre a quem cabe a responsabilidade em caso, por exemplo, de denúncias contra violações de direitos humanos ou crimes.

O Grupo Wagner é acusado de estupros coletivos em cidades ocupadas, execuções sumárias e tortura, entre outros crimes.

Nos Estados Unidos, onde a atividade chega a ser regulamentada na legislação, a atuação de mercenários - descritos como consultores - já motivou um incidente internacional de grande repercussão.

Em 16 de setembro de 2007, um grupo de segurança privado norte-americano chamado Black Water, que atuava no Iraque, se envolveu em tiroteio depois que houve uma emboscada contra o comboio diplomático que escoltava, na Praça Nisour, em Bagdá. Houve 17 mortes civis.

Integrantes do grupo foram processados por homicídio. Houve investigações da Justiça e do Congresso dos EUA.

André Moraes

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