Publicidade
Notícias | Mundo PROBLEMA FUTURISTA

Trabalhos escolares feitos por robôs são desafio aos professores; entenda

Popularização das ferramentas de inteligência artificial está criando uma nova modalidade de plágio

Publicado em: 08.09.2023 às 03:00 Última atualização: 08.09.2023 às 09:18

A situação tem se tornado cada vez mais comum para professores. Alguns trabalhos, bem escritos e, aparentemente, feitos sob medida para o exercício solicitado, não são dos alunos. Trata-se de textos produzidos por inteligência artificial. Em outras palavras, foram escritos por um robô. O problema já ocorre bastante por aqui, mas é global.


Concepção artística mostra um homem de lata, mas os robôs que estão fazendo textos usados por alguns alunos são só software | Jornal NH
Concepção artística mostra um homem de lata, mas os robôs que estão fazendo textos usados por alguns alunos são só software Foto: Adobe Stock

Quando o professor de filosofia Darren Hick se deparou com mais um caso de plágio em sua sala de aula na Universidade Furman no semestre passado, nos Estados Unidos, postou uma atualização para seus seguidores nas redes sociais: "Eeeeeeeee, peguei meu segundo plagiador do ChatGPT".

Amigos e colegas responderam, alguns com emojis de olhos arregalados. Outros manifestaram surpresa.

"Apenas 2?! Já peguei dezenas", disse Timothy Main, professor de redação da Conestoga College, no Canadá. "Estamos em plena crise."

Praticamente da noite para o dia, o ChatGPT e outros chatbots de inteligência artificial se tornaram a principal fonte de plágio na universidade.

Agora, os educadores estão repensando como dar suas aulas, desde Introdução à Redação até Ciência da Computação. Os educadores dizem que querem aproveitar o potencial da tecnologia em novas formas de ensinar e aprender, mas quando se trata de avaliar os alunos, enxergam a necessidade de elaborar provas e trabalhos "à prova de ChatGPT".

Para alguns professores, isso significa voltar às provas em papel, depois de anos usando apenas o formato digital. Outros exigirão que os alunos apresentem o histórico de edição e os rascunhos para comprovar o processo de raciocínio. Há professores, porém, que estão menos preocupados. Alguns alunos sempre encontraram formas de colar, dizem, e esta é apenas a opção mais recente.

Uma explosão de chatbots gerados por IA, incluindo o ChatGPT, lançado em novembro, trouxe novas questões para os acadêmicos dedicados a garantir que os estudantes compreendam como fazer o trabalho.

*Com informações da Agência Estado

Não adianta lançar no ChatGPT

Uma das táticas intuitivas para tentar identificar se um texto foi gerado por inteligência artificial, na verdade, não funciona. Há professores copiando o texto suspeito, largando dentro do ChatGPT ou outro bot de IA e perguntando se aquele texto foi criado pelo robô. A resposta não é confiável.

O problema é que o ChatGPT, por exemplo, não guarda um arquivo de todos os textos que gera. Ao ser perguntado se pode identificar se um texto é seu, o bot examina algumas características que é programado para inserir nos textos. Se o texto atendê-las, ele vai dizer que é seu. E o problema é que entre esses parâmetros está a simplicidade.

O ChatGPT e outros bots de IA são programados para imitar a linguagem humana e fugir da possibilidade de que o texto seja rejeitado ou não compreendido. Eles evitam palavras complicadas e construções exóticas. Um texto que cumpra essa regra pode ser apontado pelo bot como de sua autoria, sem ser o caso. O teste já foi feito nos EUA. O bot disse que era dele, mas era texto humano.

O problema é que não há maneira simples de detectar

Há uma categoria de aplicativos chamados detectores de inteligência artificial. Trata-se de sites ou apps que avaliam um texto e indicam se ele tem ou não chance de ter sido criado por IA. Mas eles são confiáveis?

Ainda não, diz Stephanie Laggini Fiore, vice-pró-reitora associada da Temple University, nos EUA. No meio do ano, Fiore participou de uma equipe da universidade que testou o detector usado pelo Turnitin, um conhecido serviço de detecção de plágio, e descobriu que é "incrivelmente impreciso". Ele funcionou melhor na confirmação do que é trabalho humano, segundo ela, mas foi irregular na identificação de texto gerado por chatbots, e menos confiável em relação aos trabalhos híbridos. Com isso, há risco de que estudantes até sejam falsamente acusados de usar plataformas de inteligência artificial para colar. Em um caso ocorrido no semestre passado, um professor da universidade Texas A&M acusou injustamente uma turma inteira de usar o ChatGPT nos trabalhos finais. A maioria dos alunos foi posteriormente inocentada.

Então, como os educadores podem ter certeza de que um aluno usou desonestamente um chatbot com tecnologia de IA? É quase impossível, a não ser que o estudante confesse. Diferentemente do plágio tradicional, em que o texto corresponde à fonte de onde foi retirado, o texto gerado por inteligência artificial é sempre único.

Algumas vezes o copia e cola se torna bem óbvio

Em certos casos, a trapaça é óbvia, diz Timothy Main, professor de redação que já recebeu trabalhos de alunos que eram claramente produto de recortar e colar. "Já recebi respostas que diziam 'Sou apenas um modelo de linguagem IA, não tenho opinião sobre isso'", conta.

Em sua aula de redação obrigatória do primeiro ano, no semestre passado, Main registrou 57 problemas de integridade acadêmica, uma explosão de desonestidade acadêmica em comparação a cerca de oito casos em cada um dos dois semestres anteriores. O uso de IA foi responsável por cerca de metade deles.

No segundo semestre, Main e seus colegas estão reformulando a matéria de redação obrigatória para os calouros da instituição. As tarefas de redação serão mais personalizadas, para encorajar os alunos a escreverem sobre suas próprias experiências, opiniões e perspectivas. Trabalhos e programas terão regras rígidas.

Possíveis soluções

Muitas instituições vêm deixando a cargo dos professores a decisão de usar ou não os chatbots, diz Hiroano Okahana, chefe do Laboratório de Futuros Educacionais no Conselho Americano de Educação.

Na Universidade Estadual do Michigan (MSU), o corpo docente vem recebendo "um pequeno acervo" para selecionar e modificar como acharem adequado em seus programas de estudos, explica Bill Hart-Davidson, diretor da Faculdade de Artes e Letras da MSU, que está conduzindo oficinas para ajudar os professores a formularem as novas tarefas e políticas.

"Fazer perguntas aos alunos como 'Descreva em três frases: o que é o ciclo de Krebs na química' não vai mais funcionar, porque o ChatGPT fornecerá uma resposta perfeitamente adequada para isso", diz Hart-Davidson, que sugere formas diferentes de fazer perguntas. Por exemplo, dar uma descrição que contenha erros e pedir aos alunos que os indiquem.

André Moraes

Entre em contato com
André Moraes

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Encontrou erro? Avise a redação.
Publicidade
Matérias relacionadas
Botão de Assistente virtual