Era noite de sexta-feira, 8 de março. Em um primeiro momento, o barulho da chuva batendo no telhado vinha com a impressão de que eram realmente "as águas de março fechando o verão". Mas a instabilidade se intensificou e até as 9 horas do sábado a precipitação chegou a 113 milímetros, de acordo com a MetSul Meteorologia. Durante algumas horas, choveu mais do que a média histórica do mês inteiro, de 91 milímetros. A enxurrada lavou Novo Hamburgo.
Ruas alagadas nos bairros Canudos, Guarani, Industrial, Santo Afonso, Ideal, Rincão, Roselândia, Centro. Algumas famílias desabrigadas e outras que perderam tudo dentro de casa. Atendimento interrompido no Pronto Atendimento e Hospital Dia da Unimed Vale do Sinos.
Estabelecimentos comerciais calculando prejuízos. Uma cratera que apareceu na Avenida Sete de Setembro. E a queda de parte do muro do Colégio Estadual Wolfram Metzler. Agora, um ano depois, como ficaram os estragos que permanecem na memória dos hamburguenses?
O trecho do muro que desabou segue igual, 370 dias depois: aguardando a reconstrução. A nova expectativa é que o conserto se inicie na próxima semana.
"Não vamos arrumar apenas a parte que caiu. Se fosse isso, já teríamos feito no mesmo mês. O muro está condenado e precisa ser reformado em todo o contorno", explica a diretora, Soedi Azeredo.
Para isso, será feita a demolição de 233 metros, com posterior drenagem, instalação de painéis pré-moldados e telas. Um portão que fica ao longo do muro também será reformado. O investimento é de R$ 343.040,14, do governo do Estado, por licitação.
A ata de início das obras foi assinada em 18 de fevereiro e a previsão é de que a conclusão ocorra em até 120 dias. "Eles começaram pela reforma de seis salas, que estavam incluídas no projeto. São nossas salas mais antigas, que receberão novo telhado, forro e fiação elétrica", sublinha. Ela espera que os aditivos não atrasem as obras.
Em diversos bairros, o problema era o mesmo: a falta de vazão em arroios hamburguenses. Nesse sentido, outro trabalho realizado foi a limpeza e desassoreamento dos arroios Luiz Rau, Pampa, Gauchinho e Wiesenthal.
Para executar o serviço, a Prefeitura solicitou ao Estado o envio de dragas, promessa que não se cumpriu. "Não podíamos esperar para continuar o serviço. Temos um contrato dentro da secretaria que contempla a opção de diversas máquinas e usamos o orçamento para contratar uma escavadeira de braço longo", pontua Ferreira.
Assim, desde a segunda quinzena de junho do ano passado, está ocorrendo a desobstrução dos quatro principais arroios e de outros 20, menores, interligados aos demais.
Cinquenta minutos foi o período de maior intensidade da chuva naquela madrugada. A cena de motoristas ilhados dentro dos próprios carros se repetiu em locais como os bairros Centro e Ideal. Além disso, a água que entrou dentro de residências fez famílias perderem todos os móveis.
Para a Prefeitura, o trabalho de reconstrução também foi intenso. De acordo com a prefeita, Fatima Daudt, o plano de contingência já estava pronto e auxiliou no atendimento às demandas que podiam ser rastreadas.
Mas, além dele, a enxurrada trouxe transtornos que não poderiam ser previstos e a possibilidade de contorná-los.
"Nós conseguimos mapear toda a cidade, todos os casos de alagamento que ocorreram naquele dia. Este mapa serviu para buscarmos as soluções, entender por que aconteciam e foi aí que a gente viu problemas como os de canos em que chegavam cinco metros cúbicos de água e viravam um cano de um metro", exemplifica.
Um dos casos inesperados foi o da cratera aberta na Avenida Sete de Setembro. "Nós chegamos para a prefeita e apresentamos as duas opções que a gente tinha. A primeira delas era aterrar a cabeceira da ponte e manter reduzido o fluxo de águas ali.
A outra opção seria fazer a gestão dos contratos e investir no alargamento da passagem de água, instalando galerias", descreve o secretário de Obras Públicas, Serviços Urbanos e Viários, Raizer Ferreira.
A segunda possibilidade foi a escolhida e um extravasor com dois metros de altura, um de comprimento e três de largura foi colocado no local, junto ao Arroio Luiz Rau. A obra foi feita com R$ 500 mil, de recursos próprios e liberada em pouco mais de três meses.
"E a prefeita perguntou, na época: como nós estamos adiante? Eu respondi que adiante nós temos uma ponte com limitação, com passagem inferior, que é a ponte da Rua Manágua", frisa, sobre uma obra que foi realizada posteriormente, de outubro do ano passado a março deste ano, também com investimento aproximado de R$ 500 mil.