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Notícias | Novo Hamburgo Vidas perdidas

Marias, Joões, Hugos, Maris, Sandras, Éricas... Conheça algumas das vítimas da Covid-19

Novo Hamburgo chegou a 66 mortes pelo coronavírus, e, por trás de cada número desde o início da pandemia, histórias de vida interrompidas

Por Débora Ertel
Publicado em: 20.07.2020 às 05:00 Última atualização: 20.07.2020 às 08:48

João Valderi dos Santos, Maria Arnecke, Hugo Italiano, Mari Silva e Sandra Silva Foto: Reprodução
O bairro Primavera ficou mais triste na semana passada. Depois que os moradores acompanharam a partida repentina da técnica de enfermagem Mari Silva em 6 de julho, onze dias depois morreu Sandra Dias, mãe de Mari. As duas não resistiram às complicações do novo vírus e entraram para as estatísticas das vítimas, que chegaram a 66 em Novo Hamburgo. Mas quem são essas pessoas? O Jornal NH conta hoje as histórias de seis moradores que perderam a batalha para a Covid-19, que antes de se tornarem um número, tinham família e sonhos.

Segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde computados até a manhã de sábado, no Município quem mais morreu por causa do novo vírus foram homens, com 57,57% dos óbitos. Além disso, 77,19% eram brancos e 84,22% tinham alguma doença preexistente. Julho tem sido o mês mais crítico, com 28 mortes registradas até dia 17. O número é superior ao total de junho, quando foram 26 mortes de moradores de Novo Hamburgo. Já Canudos é o bairro com mais vítimas, somando 27,27% do total. A falta de ar foi o sintoma sentido por 86,37% dos pacientes, seguido da febre, 57,57%.

Empreendedor, pai, avô e líder comunitário

João Valderi dos Santos, 61 anos, sempre manteve os cuidados em relação ao coronavírus Foto: Reprodução/Facebook
João Valderi dos Santos, 61 anos, era empresário em Canudos. Envolvido com as questões comunitárias no maior bairro do Município, era uma figura conhecida por todos. Ele foi a 18ª vítima de Covid-19 na cidade, no dia 27 de junho, depois de ficar internado na UTI do Hospital Municipal. Ele era casado, tinha cinco filhos, quatro netos e gostava de ficar entre os amigos, principalmente para uma boa conversa. Foi líder estudantil na Juventude Socialista e da União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas, além de militância política e envolvimento com a causa sindical. Em 2007, criou um semanário no bairro Canudos, onde atuava como diretor. Segundo Jéssica Santos, 24 anos, o pai sempre batalhou para os filhos estudarem, além de ter se esforçado para ser um empreendedor. "O xodó deles eram os netos, que são todos pequenos ainda", conta. De acordo com ela, Santos sempre manteve os cuidados para não ser contaminado. "Infelizmente, chega a um momento da pandemia que não tem muito como esperar de onde vem o vírus", diz.

Um pezinho no baile e outro na igreja

Maria Arnecke, 79, tinha uma vida bastante ativa Foto: arquivo pessoal
Viúva, três filhos e sete netos, a alegria e a disposição eram marca registrada da aposentada Maria Arnecke, 79 anos. Hoje faz uma semana que ela morreu. Moradora do bairro Rincão, era presença confirmada nos bailes do Clube Atlântico, de Estância Velha, e nas missas da comunidade católica, onde também participava da oração do terço. "Ela podia se queixar de dores, mas chegava terça-feira, batia o ponto no baile. Isso era sagrado para ela", lembra a professora Bruna Steffen, 36, neta de Maria. Segundo ela, para a avó foi dolorido o período de isolamento, justamente por ter uma vida ativa, repleta de amigos. "Sempre gostava de ter a casa cheia. Então foi difícil para ela ficar em casa e precisar conversar no telefone", conta. Bruna conta que no dia 7 de junho foi o aniversário de Maria, momento que a família deu um jeitinho de passar para vê-la. "No fim das contas foi a última vez que todo mundo conseguiu ver ela", lamenta. Conforme Bruna, depois que avó internou, a família não conseguiu mais vê-la para explicar que precisaria ficar sozinha e tiveram que confiar nos médicos.

 

Gentil com os clientes e alegre com a família

Hugo Italiano, 74, adorava fazer um churrasco Foto: arquivo pessoal
Nascido em Montevidéu, Uruguai, Hugo Italiano, 74 anos, veio para Novo Hamburgo em 1974. Foi piloto de rali e autocross, integrando a Federação Gaúcha de Automobilismo, ficando famoso na cidade. Em 1990, fundou a Hugo Italiano Veículos, localizada no bairro Rio Branco, onde trabalhou até o dia 17 de março, quando se afastou para obedecer as orientações do distanciamento social. Era casado, tinha três filhos e quatro netos. Adorava ficar com a família, fazer um churrasco e ser gentil com os clientes, inclusive, fazia questão de deixá-los em casa quando o carro precisava ficar na oficina. Segundo o filho Fabian Raul Italiano, 49, que trabalhava com Hugo, o pai era muito ativo e recentemente viajou de moto para o Chile. Com frequência visitava os familiares no Uruguai. "A gente nunca pensou que isso aconteceria, pois ele se cuidava, tinha receio", conta Fabian, lamentando que o pai morreu no mesmo dia que Mari Silva, em 6 de julho, conhecida de infância da família. Segundo ele, até hoje chegam mensagens lamentando a partida de seu pai.

Mãe e filha sempre dispostas a ajudar

Sandra, 72, morreu nesta sexta-feira, dia 17, e Mari, 51, no último dia 6 Foto: Arquivo Pessoal
A técnica em enfermagem Mari Silva, de 51 anos, foi a primeira profissional da saúde a morrer em decorrência de complicações provocadas pelo novo vírus. Ela trabalhava no Hospital Municipal e tinha um filho de 17 anos. Mari é irmã do ex-diretor da Guarda Municipal de Novo Hamburgo Ulisses José da Silva e do titular da Delegacia de Polícia Civil de Campo Bom, Clóvis Nei da Silva. Ela estava internada na UTI Covid do Hospital Municipal desde o final de junho e morreu em 6 de julho. Colegas e amigos descrevem ela como uma pessoa alegre e sempre disposta a ajudar, com um sorriso fácil. Moradora do bairro Primavera, era apaixonada por carnaval e, enquanto os plantões não faziam parte da sua vida, participava com frequência das atividades da Cruzeirinho. Antes de trabalhar no Hospital Municipal, tinha um salão de beleza.

Sandra Silva, 72 anos, é mãe de Mari Silva, tinha outros quatro filhos, entre eles Ulisses e Clóvis Nei, e quando a filha morreu já estava internada na UTI com diagnóstico da doença. Ao morrer nesta sexta-feira, tornou-se a 66ª vítima no Município. Moradora do bairro Primavera há cerca de 40 anos, ficou conhecida por seu trabalho junto à Pastoral da Criança.

A tia da merenda da Escola Tiradentes

Érica Scherer, 84 anos, moradora do bairro Lomba Grande, foi a primeira vítima de Covid-19 de Novo Hamburgo. A hamburguense morreu em 28 de março. Ela residia na localidade de Morro Bois e foi nesta comunidade que construiu sua história. Casada e mãe de quatro filhas, completaria 85 anos em 12 de abril. Ela teve sua vida marcada pelo trabalho na extinta Escola Municipal Tiradentes, local onde se aposentou. O colégio foi construído em terras doadas por seu esposo. Segundo a filha Marta Inês Scherer Tavares, 57 anos, na escola a mãe ajudava em tudo, desde a merenda, muito apreciada pelas crianças, até na limpeza do espaço. Além disso, Érica tinha gosto em ajudar a Comunidade Católica Santo Antônio, na qual era vizinha. "Sempre que tinha festas, ela estava lá", lembra. Atualmente, a aposentada estava acamada e se locomovia com uma cadeira de rodas depois de complicações causadas por uma fratura no fêmur. "A gente nem imagina como ela pegou o vírus, pois não saía de casa", comenta Marta.

 

Faixa etária

Do total de homens, 78,94% têm a partir de 60 anos e a faixa etária mais vitimada é entre 60 e 69 anos. Do total de mulheres, 82,14% têm a partir de 60 anos, com média de óbitos semelhantes nas três faixas etárias (60-69, 70-79 ea partir de 80).

 

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