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Notícias | Novo Hamburgo Tentativa de feminicídio

Comerciante é preso por balear a ex-mulher e o atual marido dela em Novo Hamburgo

Segundo a vítima, ameaças e agressões ocorriam no casamento e continuaram após separação, há mais de sete anos, no bairro Canudos.

Por Silvio Milani
Publicado em: 23.11.2020 às 21:01 Última atualização: 23.11.2020 às 21:11

Um comerciante de 29 anos foi preso na manhã desta segunda-feira (23), em Novo Hamburgo, por balear a ex-mulher, uma cuidadora de idosos de 26 anos, e o atual marido dela, de 30. O irmão do acusado, de 27, também foi capturado, como co-autor. Os dois devem ser indiciados por duas tentativas de homicídio e ir a júri. “É o nosso entendimento no momento, mas ainda estamos com o inquérito em andamento”, declara o delegado Ivair Matos Santos, que responde pela Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Novo Hamburgo. O preso nega. Diz que atirou para o chão após discussão.

O caso aponta para o tradicional sentimento de posse sobre a mulher, que costuma desencadear feminicídios. O comerciante está separado há mais de sete anos da cuidadora, com quem tem uma filha de 9 anos. “Pedi medida protetiva no meio do relacionamento e depois, mas nunca pensei que fosse chegar ao ponto de atirar em mim e no meu atual marido”, conta a mulher. Ela foi atingida no braço direito e de raspão na orelha. O companheiro levou um tiro no pé. “Imagina se não atirou para nos matar. Descarregou uma arma. Foram 13 tiros”, observa o atual marido.

Os 13 tiros

O ataque aconteceu por volta das 23h30 de 14 de novembro, um sábado, na Rua Potiguara, bairro Canudos. “Eu estava com meu marido e amigos. Quando encostou o carro, eu paralisei. Meu esposo ficou parado. Meu ex desceu e mostrou uma arma. ‘Não faz besteira’, disse meu esposo. E meu ex começou a atirar sem parar. Estava visivelmente sob efeito de bebida alcoólica ou droga. Não senti o tiro no braço. Só o de raspão na orelha”, relata a cuidadora. Os amigos se jogaram no chão em meio a sete disparos. “Meu esposo, com o pé perfurado, viu meu braço ensanguentado e fomos à UPA. No caminho, segundo ela, o carro onde estava o ex se aproximou e ele, sentado na janela, deu mais seis tiros contra o veículo das vítimas. O casal recebeu atendimento médico e foi à delegacia. A mulher requereu medida protetiva urgente.

Arma do crime não foi encontrada

Segundo o delegado, a arma do crime não foi encontrada durante as buscas e prisões da manhã de ontem no bairro Canudos. “Fomos atrás e não a encontramos. O próprio acusado disse que a jogou fora.” Santos frisa que o irmão foi preso porque usou o carro dele, um Honda Civic, para levar o comerciante ao local do crime. “Havia mais dois no banco traseiro.” No interrogatório, o atirador relatou que houve briga em julho por causa da visitação da filha. “E declarou que, na noite do fato, avistou a ex-esposa e o atual marido perto da casa dele. Disse que houve discussão, que sofreu ameaça e que deu tiros para o chão. Também alegou que não percebeu que atingiu as vítimas.

O chefe de Investigação da Deam, comissário Everton Bach, frisa a importância de ir ao local do crime logo após os fatos. “Já no domingo apreendemos os tênis da vítima com sangue e perfuração. Procuramos a arma, que foi dispensada em um matagal. Ouvimos as vítimas e juntamos elementos que possibilitaram a representação pela prisão preventiva. Também falamos com a defensora, que se encarregou de apresentá-los aqui na delegacia.”

"Tive que fugir de casa com nossa a filha"

A cuidadora de idosos recorda a tensão que foi viver ao lado do comerciante. “Os cinco anos de relacionamento foram bem tumultuados. Fui parar no hospital por causa das agressões. Tive que fugir de casa com a nossa filha.” Ela salienta que a violência não acabou com a separação. “Ele passou a enviar mensagens e recados de ameaças. As coisas pioraram quando entrei em outro relacionamento. Um dia, na rua, ele veio para cima de mim e passou a me agredir. Meu atual marido foi me defender e entraram em luta. Outro dia, ele invadiu minha casa e só não me agrediu porque o dono do imóvel apareceu. Estava insuportável. Os tiros foram o extremo e espero que pague por isso.” Ele observa que o marido ficou com dificuldade de locomoção, pois o tiro perfurou o pé. “Minha maior preocupação é como vai ficar a cabeça da minha filha, passando por tudo isso. O pai a visitava. Eu nunca proibi.”

Pena de até 40 anos

Pela dupla tentativa de homicídio, o ex-marido pode pegar de 12 a 40 anos de prisão. O irmão, como co-autor, deve ter pena menor. Os dois já tinha antecedentes criminais. O principal acusado já tinha sido preso, em 2015, com antecedentes por roubo de veículo, receptação, ameaças, furto e arrombamento a estabelecimento comercial, posse de entorpecentes, lesão corporal, direção perigosa e dirigir sem habilitação.

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