Considerado funcionário exemplar e pai dedicado, ele nunca tinha faltado ao trabalho. Nem deixado a família sem notícias. Parentes e amigos temem que o desaparecimento do pedreiro Rogério Rubilar Lima dos Santos, 47 anos, no último dia 14, tenha relação com o homicídio que ele testemunhou perto de casa, no bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo. A vizinha Carmem Marilena Pedroso, 38, foi assassinada em casa com oito tiros três dias antes. Rogério não viu a execução, mas foi o primeiro a deparar com o corpo, atraído pelos gritos de socorro, e chamou a Brigada Militar.
Como todas as manhãs, o pedreiro pegou a bicicleta e foi para o trabalho, às 6h30 da quinta-feira passada. Mas, desta vez, não completou o trajeto de casa, na Rua da Divisa, até a construtora no bairro Scharlau, em São Leopoldo. Colegas estranharam a ausência no trabalho. O telefone estava desligado. Orientada pela Polícia, a família aguardou 24 horas para fazer a ocorrência de desaparecimento.
No início da tarde da sexta, parentes e amigos se mobilizaram para buscas. Encontraram a bicicleta do pedreiro. “Estava fora do caminho que ele fazia, com as rodas escondidas na água e uma macega por cima pra ninguém ver, no valo perto do dique. Encontrei na intuição”, conta um amigo, assustado com a situação. “É um pai de família, com esposa e quatro filhos, dois deles menores. Não dá pra entender. Sempre foi amigo de todo mundo.”
O pedreiro se tornou testemunha do homicídio da vizinha pela vontade de ajudar. Foi por volta das 5 horas do dia 11 deste mês, quando o companheiro da vítima bateu na casa de Rogério e implorou por socorro. Contou que conseguiu escapar de tiros, mas que achava que a mulher tinha sido atingida. Pediu para alguém ir ver como ela estava. E foi embora. As casas são separadas por outras quatro na Rua da Divisa. O pedreiro foi lá e avistou a mulher morta a tiros. “Ele me contou sobre o susto de ver a vizinha morta daquele jeito. Só não disse se viu algo a mais, como suspeitos ou carros em fuga”, declara um amigo.
A delegada Isadora Galian, que responde pela Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo, não falou sobre o desaparecimento do pedreiro. O homicídio da vizinha, segundo ela, foi motivado por tráfico de drogas. O companheiro dela, que pediu ajuda ao pedreiro, chegou a ficar desaparecido. “Ele já se apresentou e ficou na condição de testemunha”, revela a delegada, que preferiu não dar detalhes sobre o depoimento.
Há 11 meses, Carmem Marilena Pedroso tinha vivido o drama de perder o filho, William Samuel Pedroso Nascimento, 22, e a nora, Débora Caroline Lima dos Santos, 25. O casal foi sequestrado no bairro Santo Afonso por homens armados, que deixaram os corpos à margem da Avenida dos Municípios, no bairro Rio dos Sinos, em São Leopoldo, na madrugada de 16 de fevereiro de 2020. Eles levaram vários tiros. Os policiais apreenderam 12 estojos de munição 9 milímetros. Carmen foi arrolada como testemunha. “Ela foi ouvida no inquérito, mas nos deu informações relevantes sobre o fato”, expõe Isadora, que é titular da Delegacia de Homicídios de São Leopoldo.
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