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Notícias | Novo Hamburgo Atropelamento no Pátria Nova

'Fiz o que gostaria que tivessem feito com meus filhos', diz mulher que socorreu irmãs

Desconhecida que passava pelo local testemunhou atropelamento de irmãs e parou para ajudar. Ao perceber que a mais nova não respirava, decidiu aplicar conhecimentos de primeiros socorros

Por Joyce Heurich
Publicado em: 12.04.2021 às 13:12

Luana Freitas Peteffi, 2 anos, com a irmã, Helena, de 3 anos Foto: Arquivo Pessoal

Um "anjo da guarda". Foi assim que o pai das duas irmãs atropeladas há pouco mais de uma semana em Novo Hamburgo definiu a mulher que socorreu as meninas e, possivelmente, mudou o desfecho da história. Desconhecida da família até então, a motorista, de 39 anos, passava pelo local, no Bairro Pátria Nova, quando testemunhou o atropelamento. Imediatamente, ela parou o carro e correu para ajudar.

"Eu sou mãe, só fiz o que gostaria que tivessem feito com meus filhos. Quando enxerguei as meninas, pensava nas minhas gêmeas, eu só quis ajudar", conta a mulher, que preferiu não ser identificada nesta reportagem.

Foi ela que massageou o peito da mais nova e tomou a decisão de colocar as meninas no carro particular que as levou ao hospital. O conhecimento de primeiros socorros foi fundamental para que ela pudesse intervir. A supervisora de varejo conta que realizou cursos em duas oportunidades. “É algo que nunca imaginamos que vamos precisar", reconhece.

"Eu sempre fiz questão de participar dos cursos [de primeiros socorros]. Também tenho filhas gêmeas que nasceram muito prematuras, ficaram muito tempo internadas e, quando foram para casa, eu tinha medo de acontecer algo e eu não saber lidar para socorrê-las, então, procurei saber o que fazer. Mas na hora é difícil pensar no que é melhor a ser feito”, admite. Veja abaixo como agir nesses casos.

'Deus estava ali'

O atropelamento foi na Avenida Primeira de Março, perto da Rua Itú. A mulher conta que, excepcionalmente na tarde daquela quinta-feira (1), resolveu deixar o marido no trabalho, em uma academia da região. Na volta para casa, fez um trajeto atípico, que raramente costumava fazer. Ela aguardava para dobrar na Av. Primeiro de Março, quando viu as meninas, acompanhadas da avó, serem atingidas.

"Em um primeiro momento, eu só pensei em ajudar para elas não se moverem até o socorro chegar. Mas quando vi que uma delas não estava respirando, tive que tentar fazer algo para ela reagir, mesmo com medo. Ela estava muito roxa. Quando ela voltou a respirar bem fraquinho, pensei: 'não vai dar tempo de esperar', e pedi ajuda para levá-las ao hospital", relata.

A ação toda que envolveu o socorro durou menos de 10 minutos. As meninas e a avó foram colocadas no carro de outra pessoa que havia parado para ajudar. O veículo partiu para o Hospital Municipal. Em seguida, a mulher precisou sentar na calçada para assimilar a situação, antes de seguir para o hospital e para a delegacia. "Eu primeiro tive que respirar, porque as pernas não funcionaram, ali que caiu a ficha", lembra.

“A gente foi só um instrumento ali, não tenho dúvidas disso. Não fui nem eu, tinha 'alguém' comigo. Na minha visão, Deus estava ali, olhou, e eu abracei a missão para mim”, conclui a mulher.

Como testemunha, ela conta que o motorista do Audi que atropelou as meninas chegou a parar e olhar as vítimas, para em seguida deixar o local sem prestar socorro. A defesa de Jonas Martinelli, de 27 anos, que está preso, alega que ele se sentiu ameaçado.

A mulher contesta a versão: "Ele teve que forçar para sair, porque as pessoas não queriam deixar. Mas ele não foi ameaçado. E por mais que se sentisse com receio, eram duas crianças, e ele foi pro trabalho dele, não foi à delegacia."

Mais nova segue na UTI

A irmã mais velha, Helena Freitas Peteffi, de 3 anos, ficou dois dias no hospital e recebeu alta. Já a mais nova, Luana Freitas Peteffi, de 2, segue internada na UTI do Hospital Regina para onde foi transferida. De acordo com a família, ela segue em estado grave, porém, estável.

A mulher que ajudou no socorro diz que ainda se recupera do baque e que torce pela plena recuperação das duas: "Só o que eu quero, depois que elas ficarem bem, e eu sei que vão ficar, quero ver elas, dar um abraço, ver elas brincando, que aí eu vou ter uma imagem diferente da que eu tenho hoje."

Como proceder nesses casos

Coordenador da Emergência no Hospital Municipal de Novo Hamburgo, o médico Thiago Dal Bosco acompanhou o caso das irmãs. Ele ressalta que o primeiro atendimento é sempre crucial e deve ser prestado de forma adequada.

“A primeira conduta é imobilizar. A questão de ela [a menina mais nova] não estar respirando, a gente tem algumas manobras que a gente pode fazer e que ajudam a pessoa a respirar. Uma atitude tomada dentro de uma consciência, de que a pessoa sabia o que estava fazendo, sempre ajuda. Foi uma situação que, na questão das crianças, a atitude de atender, trazer ao hospital, foi uma atitude que salvou aquela vida”, ressalta Thiago.

O médico emergencista explica que existe o socorro ideal e o possível de acordo com as circunstâncias. O ideal seria imobilizar as vítimas, chamar a ambulância e aguardar ajuda profissional. Como nesse caso específico foi observado que a criança já não respirava e a mulher que estava socorrendo possuía conhecimentos de primeiros socorros, a intervenção foi bem-vinda e teve um desfecho positivo. Porém, ela não se aplica a todos os casos e exige conhecimento prévio.

“É importante o fato de ela ter um conhecimento do que fazer, por não ser qualquer um, sem conhecimento, sem ter feito curso. O ideal seria que todos nós tivéssemos conhecimento sobre”, pontua o médico. “Teria que ser um assunto mais disseminado no Brasil”, defende.

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