Com seis meses de vacinação contra Covid-19 completados nesta sexta-feira (18), muita gente já sabe de cor e salteado o nome das vacinas. Mas até você sentir a picada no braço seguida daquela sensação de alívio, muita gente se envolveu para que a vacina estivesse ali.
Além da fabricação ou importação do produto, há ainda a distribuição feita pelo governo federal e pelos estados. Aqui no RS isso cabe às 18 coordenadorias regionais de Saúde. E depois de chegarem aos municípios, as doses precisam ser levadas a postos de saúde e drives para garantir a imunização. Para assegurar a eficácia desta última etapa, organização e recursos humanos são indispensáveis.
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Só na maior cidade da região, Novo Hamburgo, 190 pessoas atuam na campanha de vacinação contra a Covid-19. Mais de um terço deste contingente é utilizado nos eventos de drive-thru na Fenac, que têm sido diários. "São enfermeiros, técnicos de enfermagem, pessoal do administrativo, motoristas, estagiários, equipe de sanitização, guardas municipais", enumera o diretor administrativo da Secretaria da Saúde de Novo Hamburgo, Marcelo André Reidel.
"O governo federal disponibilizando vacina e tendo demanda, este número pode ser ampliado. Mas, atualmente, nossa capacidade de aplicação é subutilizada", admite. Em média, duas mil doses estão sendo aplicadas na cidade diariamente.
Para garantir celeridade na imunização, 18 estagiários cedidos pela Universidade Feevale e escolas técnicas, além de dez contratados pela secretaria, atuam nos drives. "Os da área da saúde cumprem o estágio curricular obrigatório e não têm custo ao Município. Os outros dez foram contratados para fazer o recadastramento da população, o que será uma exigência futura para o financiamento da saúde básica. Só que, com a pandemia, eles atuam no pré-cadastro da fila, o que reduz o tempo de aplicação de cinco minutos para um", explica.
Com três décadas atuando em campanhas de vacinação, o responsável pelo setor de imunizações da Vigilância Sanitária de Novo Hamburgo, enfermeiro Edson da Silva, admite que este é o maior desafio enfrentado. "Utilizamos este contingente de pessoas em Dias D, quando o intuito é vacinar o maior número de pessoas. Agora todo dia é Dia D."
Além de um pequeno exército, a aplicação das doses depende de estrutura. Atualmente, todas as 26 unidades de saúde da cidade contam com câmaras frias específicas para guardar vacinas, o que é fundamental para mantê-las entre 2 e 8 graus, temperatura necessária para que não percam a eficácia.
"Não se usa mais geladeira, como acontecia uns dez anos atrás. Estes equipamentos têm controle rígido de temperatura e contam com uma bateria, que garante o funcionamento por até 48 horas, em caso de falta de energia", detalha Silva.
enfermeiro frisa que, além dos postos, o Centro de Distribuição da Vigilância Sanitária de Novo Hamburgo conta com estas câmaras. Também há equipamentos reservas de reposição, caso ocorra algum problema.
"Só aqui, no centro de distribuição, temos capacidade para armazenar dois mil litros de vacina. Considerando que cada ampola conta com uma média de 5 mililitros, cabe muita vacina."
Organização também é fundamental para garantir vacina no braço. Novo Hamburgo conta com um sistema próprio, além do fornecido pelo Ministério da Saúde, que permite acompanhar em tempo real quantas doses foram aplicadas. "Isso é importante para nosso planejamento e distribuição das doses", observa Silva.
Reidel afirma que a organização das aplicações busca o desperdício zero de doses. Como as vacinas costumam ser envasadas em frascos onde cabe mais de uma dose, é preciso celeridade para que não se extrapole o tempo máximo da administração da ampola aberta em temperatura ambiente. "Cada vacina tem um prazo, mas que gira entre seis e oito horas, com possibilidade de chegar a 48 horas da ampola aberta sob refrigeração, isso no caso da AstraZeneca fabricada pela Fiocruz. Então, o desafio é sempre usar todas as doses do frasco aberto no prazo determinado."
A própria organização do drive-thru na Fenac foi pensada para vencer este obstáculo. O local conta com dez guichês, que vão sendo fechados à medida que a vacinação avança. "A lógica é sempre ter apenas um frasco aberto por volta das 16 horas, quando termina o drive, com dois guichês funcionando. Isso para que sobre vacina em apenas uma ampola", justifica Reidel.
E quando sobra imunizante, não tem xepa. A prática de aplicar o excedente na ampola aberta de maneira aleatória não é seguida em Novo Hamburgo. "Quando vemos que vai sobrar dose no drive acionamos a Casa de Vacinas, que fecha às 17 horas, para ligar para a lista de espera dos usuários que são atendidos por agendamento nos postos e antecipar a imunização destas pessoas que integram aquele grupo", explica Reidel.
Se alguém que agendou não aparecer nos postos, o mesmo procedimento é adotado. "Acionamos motoristas que fazem a logística de pegar e levar o frasco para onde tem pessoa do grupo que está sendo vacinado. Considerando que não há doses para todos até o momento, é uma prática mais justa. Com planejamento não precisa de xepa", defende Reidel.
A Secretaria Municipal da Saúde só estende a vacinação para determinado grupo ou faixa etária se tiver imunizante suficiente para todo o público. "Queremos evitar da pessoa ir para a fila do drive e chegar na hora e não ter vacina. Se mil pessoas têm 55 anos na cidade, só vamos liberar para a faixa etária quando tivermos mil doses em estoque", diz Reidel
Paralelamente à vacinação contra a Covid-19, ocorre a campanha da gripe nos postos de saúde. "Em termos de logística não nos atrapalha porque já tem a equipe dos postos", afirma Reidel. "Mas percebemos que muitos preterem a vacina da Influenza neste ano esperando chegar a vez da contra a Covid, já que se deve respeitar 14 dias entre uma e outra."