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Notícias | País Brasília

Na íntegra: leia os pronunciamentos do presidente Jair Bolsonaro e do ex-ministro Sergio Moro

Pronunciamentos do ex-ministro e de Bolsonaro ocorreram nesta sexta-feira

Publicado em: 24.04.2020 às 20:41 Última atualização: 24.04.2020 às 20:48

O então ministro da Justiça e Segurança Publica, Sergio Moro, pediu demissão nesta sexta-feira (24) após a exoneração do Diretor Geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo. Leia a íntegra das falas do presidente Jair Bolsonaro e do ex-ministro Sergio Moro após o episódio. 

Jair Bolsonaro


Senhores, senhoras, boa tarde. Meus ministros, imprensa, povo brasileiro que me assiste. Sabia que não seria fácil. Uma coisa é você admirar uma pessoa. A outra é conviver com ela, trabalhar com ela. Hoje pela manhã, por coincidência, tomando café com alguns parlamentares, eu lhes disse: "Hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem um compromisso consigo próprio, com seu ego, e não com o Brasil". O que eu tenho ao meu lado, e sempre tive, foi o povo brasileiro. Hoje, essa pessoa vai buscar uma maneira de botar uma cunha entre eu e o povo brasileiro. Isso aconteceu há poucas horas.

Um breve histórico: todos nós conhecemos o senhor Sergio Moro de suas decisões lá da Vara Federal de Curitiba. A Lava Jato já existia, mas ninguém nega seu brilhante trabalho. Pessoalmente, tive o primeiro contato com o senhor Sergio Moro no dia 30 de março de 2017, no aeroporto de Brasília, onde ele estava parado em uma lanchonete e eu fui cumprimentá-lo. Ele praticamente me ignorou. A imprensa toda noticiou isso, dando descrédito à minha pessoa.

Confesso que fiquei triste, porque ele era um ídolo para mim. Eu era apenas um deputado, humilde deputado, como é ou como são a maioria dos que estão no parlamento brasileiro. Não vou dizer que chorei porque estaria mentindo, mas fiquei muito triste. Para minha surpresa, alguns dias depois, eu estava em Parnamirim e recebi um telefonema dele, onde, obviamente, sua consciência tocou e ele conversou comigo sobre o episodio. Dei por encerrado o assunto. Me senti de certa forma reconfortado.

O tempo passou. Eu, em pré-campanha, e ele com suas sentenças em Curitiba. Com o passar do tempo, entrei em campanha e como, no meu entendimento, não tinham como me deter, tentaram me assassinar. Obviamente, isso marca a historia de uma nação - muito mais a minha vida, da minha família, em especial da minha filha Laura, de 9 anos de idade.

Acabou o primeiro turno. Passei para o 2º turno com o senhor Fernando Haddad, do PT. Nesse interim, eu baixado no Einstein, em São Paulo, recebi uma ligação de uma pessoa que queria fazer com que o senhor Sergio Moro fosse me visitar. Eu fiquei feliz, mas declinei. Ele não esteve comigo durante a campanha. Eu não sei em quem ele votou no 1º turno, e nem quero saber. O voto é sagrado e secreto.

Mas eu exatamente evitei conversar com ele naquele momento, entre o primeiro e segundo turnos, porque com toda certeza essa visita se tornaria pública. Eu não queria aproveitar o prestígio dele para conseguir a vitória no segundo turno.

Após, então, a nossa vitória, a vitória da democracia, da liberdade, das eleições livres, eu recebi o senhor Sergio Moro na minha casa na Barra da Tijuca. Presente ao meu lado o senhor Paulo Guedes, o homem que já havia escolhido para ser ministro da Economia. Aí traçamos alguma coisa de como ele seria tratado caso aceitasse nosso convite para ser ministro da Justiça. Obviamente, repito, ele não participou da minha campanha.

Acertamos, como fiz com todos os ministros: vai ter autonomia no seu ministério. Autonomia não é sinônimo de soberania, Falei também do meu poder de veto: os cargos-chaves teriam que passar pelas minhas mãos e eu daria sinal verde ou não. Para todos os ministros, foi feito dessa maneira. Mais de 90% dos cargos que passaram pelas minhas mãos, eu dei sinal verde.

Assim foi também com o senhor Valeixo, até ontem diretor-geral da nossa gloriosa e honrada Polícia Federal. A indicação foi do senhor Sergio Moro, apesar de a lei de 2014 dizer que a indicação para esse cargo e a nomeação é exclusiva do senhor presidente da República. Abri mão disso, porque confiava no senhor Sergio Moro, e ele levou a sua equipe, ou trouxe a sua equipe, aqui para Brasília.

Todos os cargos chave são de Curitiba, inclusive a Polícia Rodoviária Federal. Lógico, me surpreendeu. Será que os melhores quadros da PF todos estava em Curitiba? Mas vamos confiar, vamos dar um crédito. E assim nós começamos a trabalhar.

Os senhores da imprensa bem sabem que eu não conto com a isenção, na maioria das vezes, por parte de vocês nas matérias publicadas. Desde o começo, já se começou a falar que eu estava dificultando operações de combate à corrupção, porque as operações, com muito menos intensidade, apareciam. Mas é óbvio que isso ia acontecer: se as nossas indicações para ministérios, bancos oficiais e estatais não passavam por indicações partidárias, tá na cara que a fonte da corrupção não era tão abundante como antigamente.

Isso começou a bater sobre mim como se eu estivesse contrário à Lava Jato. Isso não é verdade. As grandes operações da PF no passado foram em cima de estatais ou de empreiteiros que faziam obras e arrancavam recursos via bancos oficiais, em especial o BNDES. Nós botamos um ponto final nisso. Isso foi muito caro para mim. Poderosos se levantaram contra mim, e é uma realidade. É uma verdade. Eu estou lutando contra um sistema, contra o establishment. Coisas que aconteciam no Brasil, praticamente não acontecem mais. E me desculpe a modéstia: em grande parte, pela minha coragem de indicar um time de ministros comprometido com o futuro do Brasil.

Continua não sendo fácil. Mas pode ter certeza: hoje em dia, eu conto com muitos parlamentares dentro do Congresso Nacional que já comungam dessa tese. De vários partidos, exceto da extrema-esquerda, porque o que eles querem, no final das contas, é roubar nossa liberdade. No que depender de mim, não medirei esforços para que isso não aconteça.

Dizer ao prezado ex-ministro Sergio Moro: como o senhor disse hoje na sua coletiva por três vezes. O senhor disse que tinha uma biografia a zelar, eu digo a vossa senhoria que tenho um Brasil a zelar. Não apenas fiz um juramento, como sentei na praça nos idos 1973, na Escola Preparatória de Cadetes, em Campinas, em dar à vida pela minha pátria se preciso fosse. Mais que a vida, para minha pátria, eu tenho dado. Eu tenho dado o desconforto da minha família. As acusações mais torpes possíveis. Não só contra minha família, bem como aqueles que estão ao meu lado.

Falava-se em interferência minha na Polícia Federal. Oras bolas: se eu posso trocar um ministro, por que eu não posso, de acordo com a lei, trocar o diretor da Polícia Federal? Eu não tenho que pedir autorização a ninguém para trocar o diretor ou qualquer um outro que esteja na pirâmide hierárquica do poder executivo.

Será que é interferir na Polícia Federal quase que exigir, implorar a Sergio Moro, que apure, quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe supremo. Cobrei muito deles isso daí. Não interferi. Acho que todas as pessoas de bem no Brasil querem saber. Entendo, me desculpe senhor ex-ministro: entre meu caso e o da Marielle, o meu está muito menos difícil de solucionar. Afinal ,o autor foi preso em flagrante de delito, mais pessoas testemunharam, telefones foram apreendidos.

Três renomados advogados, em menos de 24 horas, estavam lá para defender o assassino. Isso é interferir na Polícia Federal? Será que pedir à Policia Federal, quase implorar, via ministros, que fosse apurado o caso Marielle, no caso porteiro da minha casa 58, na avenida Lucio Costa, 3100?

Quase que por acaso descobrimos. Pedi para meu filho ir à portaria e filmar a secretária eletrônica. Talvez ficasse a dúvida para todos que eu poderia estar envolvido nisso. Isso foi numa quarta-feira, em março de 2018, onde entre a ligação do porteiro para a minha casa e as minhas digitais nos painéis de presença da Câmara, tinha um espaço de menos de uma hora. E eu não estava lá.

Depois, a perícia da Policia Civil do Rio ainda chega à conclusão que aquela voz não é a voz do porteiro em questão. Será que é interferir na Polícia Federal exigir uma investigação sobre esse porteiro, o que aconteceu com ele? Ele foi subornado? Ele foi ameaçado? Ele sofre das faculdades mentais? O que aconteceu para ele falar com tanta propriedade um fato que existiu há praticamente um ano atras? É exigir da Polícia Federal muito, via senhor ministro, para que esse porteiro fosse investigado?

Com todo o respeito a todas as vidas do Brasil, acredito que a vida do presidente da República tem um significado. Afinal de contas, é um chefe de Estado. Isso é interferir na Policia Federal? Cobrar isso da sua Polícia Federal?

Confesso que, ao longo do tempo, como bem vos lhes disse, uma coisa é ter uma imagem, conhecer uma pessoa. A outra é conviver com ela.

Nunca pedi para ele para que a PF me blindasse onde quer que fosse. Quando se fala em corrupção, eu falo da minha vida particular. Nos últimos dois anos de parlamentar, gastei menos da metade do que poderia gastar da cota parlamentar com passagem aérea, com despesa de combustível, com alimentação, com alugueis. Na vida de presidente da Republica, tenho três cartões corporativos. Dois são usados para despesas, as mais variadas possíveis. Afinal de contas, mais de 100 pessoas estão na minha segurança diariamente. Despesa de casa, normal. E um terceiro cartão, que eu posso sacar R$ 24 mil por mês sem prestar conta. Eu posso sacar R$ 24 mil e gastar onde bem entender, sem prestação de contas. Quanto usei dessa verba desde janeiro do ano passado? Zero. Isso é obrigação. Desliguei o aquecedor da piscina olímpica do Alvorada. Modificamos o cardápio. Mas isso não tem nada a ver, é obrigação da minha parte. Mas só para lembrar que eu tenho preocupação com a coisa pública e busco dar exemplo.

Quando se fala interferência - tem aqui um ministro meu tão importante quanto os demais, que nós somos uma corrente, nenhum elo é mais importante que a própria corrente. O Paulo Guedes. Quando eu vi que o Inmetro, que é um órgão parecido até, logicamente, cada um na sua função, com a Polícia Federal, com a PRF, com a Secretaria da Cultura do Marcelo Alvaro Antonio, entre tantas outras. Eu falei: "Paulo Guedes, eu vou implodir o Inmetro, porque o que eu descobri lá, nós não podemos deixar o povo sofrer dessa maneira". Queriam trocar 1,6 milhões de tacógrafos de motoristas, cada tacógrafo custando R$ 1,9 mil.

Quem ia pagar a conta era o motorista de caminhão, o motorista de van, de ônibus. Queriam trocar todos os taxímetros do Brasil. Só no estado do RJ, 40 mil taxistas teriam que comprar um novo taxímetro. Queriam um chip em cada bomba de combustível, onde nos ficamos sabendo que não teria sua devida eficácia. Essa conta não foi para o povo pagar. A obrigação do Inmetro é, obviamente, atestar a qualidade de muita coisa e, de preferência, evitar onerar nosso já sofrido povo brasileiro - que, apesar da carga de impostos que tem... Implodimos o Inmetro.

E a Polícia Federal? Como publicado por vocês no dia de ontem, mas esqueçam a imprensa. Ontem, numa videoconferência, o senhor Valeixo se dirigiu a todos os seus 27 superintendentes e disse que, desde janeiro, vinha falando ao senhor Sergio Moro que iria deixar a Polícia Federal. Os superintendentes são prova disso. Eu algumas vezes falei com o Sergio Moro sobre a Polícia Federal. Quando eu me elegi, havia uma ideia por parte de policiais - muitos trabalhavam comigo, em torno de 60 em rodizio, eu tinha direito a isso pela legislação, até a um maior efetivo por ser o candidato com maior chance. E mesmo assim, apesar de todo o trabalho, a Polícia Federal não conseguiu evitar a tentativa de homicídio.

Mas eu digo: foi a Polícia Federal, com seu trabalho técnico, preventivo, que também foi um elo na salvação da minha vida. Porque a cada ponto, a cada esquina que eu passava, eles tinham um plano da minha evacuação caso eu sofresse alguma coisa. Então a Policia Federal, em primeiro lugar, eu devo minha vida a esses homens, bem como alguns policiais militares de Brasília e do Rio que voluntariamente estavam lá em Juiz de Fora.

O que eu quero, que nós queremos da Polícia Federal: que ela seja usada em sua plenitude. Que as suas operações sejam no mínimo mantidas, [e] no que depender de mim, potencializadas, que é com o trabalho dela que nós damos esperança em um primeiro momento à população brasileira. O combate à corrupção, o combate ao crime organizado.

E, como o mesmo senhor Valeixo disse que está cansado, eu comecei a fazer gestões junto ao ministro para trocarmos o diretor-geral da Polícia Federal. Era intenção dele, como ele declarou ontem, que desde janeiro queria sair. Nós cansamos, não somos máquinas. No dia de ontem, eu conversei com o senhor Sergio Moro, só eu e ele, como na maioria das vezes [nas] nossas conversas. Onde nós - eu sempre abri o coração para ele, eu já duvido se ele sempre abriu o coração para mim. Eu sempre disse aos meus ministros: "A confiança tem que ter dupla mão".

Ministro quer que eu confie nele, quer e tem razão. Mas eu também quero que o ministro confie em mim. Sempre falei para ele: "Moro, não tenho informações da Polícia Federal. Eu tenho que todo dia ter um relatório do que aconteceu, em especial nas ultimas 24 horas, para poder bem decidir o futuro dessa nação". Eu nunca pedi para ele o andamento de qualquer processo, até porque a inteligência com ele perdeu espaço na Justiça. Quase que implorando informações.

E assim eu sempre cobrei informações dos demais órgãos de inteligência oficiais do governo, como a ABIN, que tem à frente um delegado da Polícia Federal. Uma pessoa que eu conheci durante a minha campanha, que tem um nome, que é respeitado por seus companheiros.

Conversando ontem com o Moro, entre muitas coisas, até que chegou na questão Valeixo. Eu falei: "Tá na hora de botar um ponto final nisso. Ele tá cansado, tá fazendo como pode seu trabalho. Pessoalmente, não tenho nada contra ele". Conversei poucas vezes com ele durante um ano e quatro meses. Sim, poucas vezes, mas conversei com ele. Na maioria das vezes, estava o Sergio Moro do lado. Eu falei que amanhã, no dia de hoje, o Diário Oficial da União publicaria a exoneração do senhor Valeixo. E ao que tudo indicava, a exoneração a pedido.

Bem, ele relutou, senhor Sergio Moro, e falou: "O nome tem que ser o meu". Eu falei: "Vamos conversar. Por que tem que ser o seu e não o meu?" Ou então vamos pegar, já que não tem interferência política, técnica ou humana, pegar os que têm condições e fazer um sorteio. Por que tem que ser o dele e não possivelmente o meu, ou um de consenso entre nós dois? E eu lembrei da lei de 2014, que a indicação é minha, é prerrogativa minha. E o dia que eu tiver que me submeter a qualquer subordinado meu, eu deixo de ser presidente da República.

Jamais pecarei por omissão. Falei pra ele: "Quero um delegado, que pode não ser o seu, pode não ser o meu, mas que eu sinta, além da competência óbvia, se bem que isso é uma coisa comum entre os delegados da Polícia Federal, que eu possa interagir com ele. Por que não? Eu interajo com os homens da inteligência das Forças Armadas, se preciso for. Eu interajo com a Abin. Interajo com qualquer um do governo.

Sempre procuro o ministro. Mas numa necessidade, falo diretamente com o primeiro escalão daquele ministro. Como ontem, anteontem, tinha que decidir uma coisa e tinha que ver com a Marinha. Como era exclusivamente com a Marinha, eu resolvi naquele momento não falar com o Ministério da Defesa, falei diretamente com a Marinha e foi resolvido de acordo com o interesse deles. Depois falei com o Ministério da Defesa. Isso não é quebra de hierarquia, é necessidade.

Não posso abrir mão disso, assim como o ministro da Defesa pode ligar diretamente para comandante de batalhão sem passar pelo comandante da brigada, se preciso for. Depois ele participa para evitarmos que venhamos a ferir o princípio da hierarquia.

E mais, já que ele falou em algumas particularidades. Mais de uma vez, o senhor Sergio Moro falou para mim: "Você pode trocar o Valeixo, sim, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal". Me desculpe, mas não é por aí. Reconheço as suas qualidades. Em chegando lá, se um dia chegar, pode fazer um bom trabalho, mas eu não troco.

Outra coisa: é desmoralizante para o presidente ouvir isso. Mais ainda externar. Ou não trocar, porque não foi trocado, sugerir a troca de dois superintendentes entre 27. O do Rio, [pela] questão do porteiro, a questão do meu filho 04, Renan, que agora tem 20, 21 anos de idade. Quando, no clamor da questão do porteiro, do caso Adélio, que os dois ex-policiais teriam ido falar comigo, também apareceu que o meu filho 04 teria namorado a filha desse ex-sargento.

Eu comecei a correr atrás. Primeiro chamei meu filho [e falei] abre o jogo. "Pai, eu saí com metade do condomínio, nem lembro quem é essa menina, se é que eu estive com ela". Hoje a vida é assim. A intenção de dizer que meu filho namorava a filha do ex-sargento era que nós tínhamos relacionamento familiar. Eu não me lembrei dele. Pode ser até que tenha tirado foto com ele - durante pré-campanha, campanha, era comum eu tirar em media 500 fotografias por dia, porque essa era minha imprensa.

E daí eu fiz um pedido à Polícia Federal, quase como por favor. Chegue em Mossoró e interrogue o ex-sargento. Foram lá, a PF fez o seu trabalho, interrogou e está comigo a cópia do interrogatório onde ele diz simplesmente o seguinte: "A minha filha nunca namorou o filho do presidente Jair Bolsonaro porque minha filha sempre morou nos Estados Unidos".

Mas eu é que tenho que correr atrás disso? Ou é o ministro, a Polícia Federal que têm que se interessar? Ou é pra me blindar porque eu não estou incurso em nenhum crime? A mídia, outras instituições, já me botaram de cabeça para baixo, chacoalharam tudo. Levantaram até que, com cinco anos de idade, [a] revista Época, eu chamava uma mulher de gorda em Eldorado Paulista.

Descobriram, e eu nem sabia, que a avó da minha esposa já foi presa por três anos por tráfico de drogas. Confesso que não sabia, e se soubesse teria casado com a senhora Michelle assim mesmo. Fiquei sabendo através de vocês também que a mãe da senhora Michelle cometeu crime de falsidade ideológica. Na sua inocência, em vez de fazer uma cirurgia plástica para ficar mais jovem, mais bonita, ela resolveu fazer uma cirurgia na certidão de nascimento diminuindo [em] dez anos a sua idade. Esse foi o crime dela. Se coloca em público isso daí para dizer que ela não tem caráter.

O caso Queiroz: eu conheço o Queiroz desde 1984, no oitavo grupo de campanha paraquedista. Foi para a Polícia Militar. Depois de um tempo, fizemos amizade, veio trabalhar comigo, com meu filho. O que porventura ele faz, ele responde por seus atos. Não foi por uma, foi por duas vezes que o Queiroz teve dívida comigo. Me pagou com cheque e não veio para a minha conta esse cheque porque simplesmente deixei no Rio de Janeiro. Senão estaria na minha conta. E não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil.

Desde o primeiro momento, não é porque uma pessoa porventura faz algo de errado e está do nosso lado, você tem que ser responsabilizado e o tempo todo ser cobrado por isso. Nunca pedi para blindar ninguém da minha família. Jamais faria isso.

Agora, eu lamento que aquela pessoa que mais tinha que defender dentro de uma legalidade não faz. Teve um clima, sim, pesado para o senhor ministro na última reunião de ministros, onde eu cobrei dele, na frente de todos os outros ministros, que ele tomasse uma posição sobre a prisão e algemas usadas contra mulheres na praia.

Mulheres em praça pública, como de Araraquara. Um pobre, um humilde trabalhador do comércio no Piauí entre tantos outros. Ele tinha que mostrar sua cara. Ele tem amparo na Lei do Abuso de Autoridade. Essa lei que, por ser lei, não tem que ser questionada, discutida; tem que ser cumprida. Quem é contra ela, que apresente uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) junto ao órgão competente para que ele ajuíze junto ao Supremo Tribunal Federal. A reposta dele foi o silêncio. Boas matérias, ele aparece. Mas se omite.

A minha vida, as minhas ações, muitas vezes, elas são um arrebento de explosão. Eu não posso admitir cercear o direito de ir e vir de quem quer que seja. E a lei que fala sobre isso, no caso de pandemias, é alguém comprovadamente infectado. A decisão dessas medidas coercitivas cabe aos respectivos governadores e prefeitos.

Assim decidiu o Supremo Tribunal Federal. E uma vez decidido, não cabe a mim questionar mais.

Prefeitos, alguns, alguns governadores, em cima disso, estão fazendo, cometendo tremendos absurdos. E o Governo Federal tem que se posicionar. Tem que peticionar o Supremo Tribunal Federal, entrar com ações. Quem tem que fazer isso? O presidente ou o ministro da pasta responsável? Isso incomodou ele.

É um ministro, lamentavelmente, desarmamentista. Dificuldades enormes com decretos para facilitar, para os CACs, ou para ajudar quem tem uma arma, ou para a compra de armamento, de munição.

Aquilo que eu defendi durante a campanha ou pré-campanha, os ministros têm obrigação de estar junto comigo. Caso contrário, não estão no governo certo.

Não tenho mágoa do senhor Sergio Moro. Hoje pela manhã, acredito que sete ou oito deputados, ou meia dúzia, tomaram café comigo. Eles estão à vontade se quiserem falar ou não. Eu lhes disse: "Hoje vocês vão conhecer quem realmente não me quer na cadeira presidencial. Esse alguém não está no Poder Judiciário, nem está no Parlamento brasileiro". Não lhes disse o nome. Falei: "Vocês vão conhecê-lo às 11h da manhã".

Repetindo a vocês: veio com a cunha. Se ele quer ter independência, como eu tenho, autoridade, ou se quisesse, poderia vir candidato em 2018. Agora, eu não posso conviver, ou fica difícil a convivência com uma pessoa que pensa bastante diferente de você.

Um fato que foi noticiado muito no início do ano passado: ele nomeou a senhora Ilona Szabó como suplente de um conselho, e nós sabemos que essa senhora ou senhorita tem publicações, as mais variadas possíveis, defendendo o aborto, ideologia de gênero, entre tantas outras coisas que estão em completo desacordo com as bandeiras que eu defendi, que os cristãos brasileiros defendiam, e que até ateus defendiam também.

Não foi fácil conseguir exoneração dessa pessoa, porque você me deu carta branca e porteira fechada. Mas quase sempre se lembrava do poder de veto.

Torci muito para dar certo, muito. Mas infelizmente, ou felizmente, no dia de hoje, após essa conversa no dia de ontem, eu até fui sinalizado que ele compareceria à Presidência — e seria bem recebido, como foi o senhor Mandetta há poucos dias — para comunicar seu afastamento, ou para tentar a última cartada. "Tem mais esses nomes aqui, você concorda com algum deles ou não?"; e daí tomar uma providência.

Eu sempre fui do diálogo. Vocês não vão encontrar nenhum ministro meu dizendo que eu impus qualquer coisa para ele. Ele resolveu, marcando uma coletiva, e fez acusações infundadas que eu lamento. Para muitos, vai deslustrar a sua tão defendida biografia.

Nós que estamos na linha de frente, nós, ministros, há algo mais importante que a sua biografia. É o bem-estar do seu povo, é o futuro dessa nação. Vamos levar, no sentido figurado, muito tiro na cara. Mas vamos cumprir a missão. Aqui tem ministro que apanha todo dia, como o Abraham Weintraub, por exemplo. Outros apanham também, mas esse é um exemplo. Luta contra uma doutrinação de décadas, onde vem demonstrando que a educação do Brasil nunca esteve tão mal. Não só as provas do Pisa demonstram que estamos em último em várias matérias na América do Sul, no mundo. Isso tem que ser mudado.

Ele tenta e vem demonstrando com muito trabalho que não vale, senhores pais, senhoras mães, que seu filho tem um pedaço de papel escrito "diploma". Ele tem que exercer aquele ofício. O diploma, hoje em dia, passou a ser apenas uma figura decorativa para alunos. Ele tem que ser um bom profissional, e não um bom militante.

Três páginas bem curtas apenas aqui eu vou ler e dar o encerramento a essa coletiva:

Meu compromisso é com o Brasil e com a democracia. Sempre dei plena liberdade a meus ministros, sem abrir mão do meu poder de veto e da minha autoridade como presidente da República. Sempre mantive diálogos republicanos com todos os meus ministros. Temos discordâncias e convergências, mas em qualquer situação, mantive o respeito à opinião de todos. Sempre fui leal a eles.

Ontem, mais uma vez, conversamos, com o ministro Sergio Moro, sobre a substituição na Polícia Federal. Esperava em conjunto com o senhor ministro definir um nome para dirigir a instituição, ainda que, pela lei, esta seja uma prerrogativa exclusiva do presidente da República.

Estou decepcionado e surpreso com o seu comportamento. Não se dignou a me procurar e preferiu uma coletiva de imprensa para comunicar sua decisão.

Meu compromisso é com a verdade, sem distorções. Não são verdadeiras as insinuações que eu desejaria saber sobre investigações em andamento. Nos quase 16 meses em que esteve à frente do Ministério da Justiça, o senhor Sergio Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas investigações que estavam sendo realizadas, a não ser aquelas não via interferência, mas quase como uma súplica, sobre Adélio, o porteiro e meu filho 04.

Sobre a exoneração do doutor Valeixo, diretor-geral da Policia Federal, pela lei 13047/2014, é prerrogativa do presidente da República a nomeação e a exoneração do diretor-geral, bem como de vários outros cargos da administração direta. A exoneração ocorreu após uma conversa minha com o ministro da Justiça pela manhã de ontem. À noite, eu e o doutor Valeixo conversamos por telefone e ele concordou com a exoneração a pedido.

Desculpe, senhor ministro, o senhor não vai me chamar de mentiroso. Não existe acusação mais grave para um homem como eu, militar, cristão, presidente da República, ser acusado disso.

Essa foi a minha conversa com o doutor Valeixo. E mais ainda: não só a imprensa publicou no dia de ontem, de hoje, bem como, entre aspas, o doutor Valeixo, em contato com a Superintêndencia do Brasil, comunicando que estava cansado, que desde janeiro queria sair. Não foi uma demissão que causasse surpresa a quem quer que fosse.

A PF é uma instituição do Estado, ela deve se conduzir de acordo com a Constituição Federal e as leis do país, não importa quem as conduza. Não abro mão disso. Não existe possibilidade de interferência na Polícia Federal. Sua própria estrutura e seus profissionais garantem autonomia de suas investigações. Essa autonomia é inerente à instituição, independente de governos.

Não posso aceitar minha autoridade confrontada por qualquer ministro. Assim como respeito a todos, espero o mesmo comportamento. Confiança é uma via de mão dupla.

Continuarei fiel a todos os brasileiros, seguirei no combate à corrupção, as organizações criminosas e no trabalho para a redução da criminalidade.

O governo continua. O governo não pode perder sua autoridade por questões pessoais de alguém que se antecipa a projetos outros.

Travo o bom combate. A minha preocupação é entregar o Brasil para quem vier me suceder no futuro bem melhor do que recebi em janeiro do ano passado. Confio nos meus ministros, nos servidores públicos que têm nos ajudado a vencer esses obstáculos. O Brasil é maior que qualquer um de nós.

Esse é o nosso compromisso, esse é o nosso dever de servir à pátria. A pátria vai ter de cada um de nós o seu empenho, o seu sacrifício. E se possível, se for necessário, o seu sangue para defender a democracia e a liberdade.

Meu muito obrigado a todos os senhores.

Sergio Moro

“Bom dia a todos. Quero cumprimentar não só os jornalistas, o pessoal da imprensa, mas especialmente o pessoal do Ministério da Justiça e Segurança Pública aqui presente, muitos também gostariam de estar aqui presente, mas nós buscamos ao máximo evitar aglomerações, não conseguimos totalmente, mas, enfim.

Primeiro eu queria lamentar a realização dessa — eu pediria silêncio para falar sem intervenção. Eu queria lamentar esse evento na data de hoje. Nós estamos passando por uma pandemia da covid-19. Ontem, uma informação lamentável de 407 óbitos, 3.313 óbitos no total. Então, durante essa pandemia, infelizmente tendo que realizar esse evento, busquei ao máximo evitar que isso acontecesse, mas foi inevitável. Então peço a compreensão de todos pela circunstância adversa, mas não foi por minha opção.


Antes de entrar no assunto específico, eu queria fazer só algumas reflexões gerais para poder justificar minhas decisões. Antes de assumir o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública eu fui juiz federal por 22 anos e tive diversos casos criminais relevantes. Desde 2014, em particular, nós tivemos a operação Lava Jato, que mudou o patamar de combate à corrupção no país. Claro que existe muito ainda a ser feito, mas aquela grande corrupção, que em geral era impune, esse cenário foi modificado. Isso foi um trabalho do Judiciário, do Ministério Público, de outros órgãos e na parte da investigação principalmente da Polícia Federal.


Durante esses anos, desde 2014 na Lava Jato, a gente sempre tinha uma preocupação constante de uma interferência do Executivo nos trabalhos de investigação e isso poderia ser feito de diversas formas. Troca do diretor-geral, assim que houvesse causa, troca do superintendente… Tivemos, no início da Lava Jato, o superintendente Rosalvo Ferreira. Convidei aqui para o Ministério, está fazendo um grande trabalho. Depois foi sucedido pelo superintendente Valeixo, também nomeado diretor-geral da Polícia Federal, fazendo também um grande trabalho. Houve essa substituição, mas na época foi pela aposentadoria do doutor Rosalvo e, enfim, foi garantida a autonomia da Polícia Federal durante esses trabalhos de investigação.
É certo que o governo da época tinha inúmeros defeitos, aqueles crimes gigantescos de corrupção que aconteceram naquela época, mas foi fundamental a manutenção da autonomia da PF para que fosse possível realizar esses trabalhos. Seja de bom grado ou seja pela pressão da sociedade, essa autonomia foi mantida e isso permitiu que os resultados fossem alcançados. Isso é até um ilustrativo da importância de garantir o Estado de Direito, o “run of law”, a autonomia das instituições de controle e de investigação. Lembrando aqui até um episódio que, em um domingo qualquer durante aquelas investigações, lembro que foi o superintendente Maurício Valeixo que recebeu uma ordem de soltura ilegal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então condenado por corrupção e preso. Essa ordem foi emitida por um juiz incompetente. Depois, isso foi reconhecido nas demais instâncias, foi graças à autonomia dele, e ao sentimento da necessidade de cumprimento de dever que ele comunicou às autoridades judiciárias e foi possível rever essa ordem ilegal, antes que ela fosse executada, demonstrando empenho dessas autoridades e a importância da autonomia das organizações de controle.


Final de 2018, essa história é um pouco repetida. Eu recebi o convite do então eleito presidente da República Jair Bolsonaro, e já falei diversas vezes, é fácil repetir essa história, porque é verdadeira. E fui convidado a ser ministro da Justiça e da Segurança Pública. O que foi conversado com o presidente, no dia 1º de novembro, foi que nós teríamos o compromisso com o combate à corrupção e ao crime organizado e à criminalidade violenta. Inclusive, me foi prometido na ocasião “carta branca” para nomear todos os assessores, inclusive desses órgãos policiais, como Polícia Rodoviária Federal e a própria Polícia Federal. Na ocasião, até aproveitando aqui um breve parêntese, para desmistificar um dado, foi divulgado equivocadamente por algumas pessoas que eu teria estabelecido como condição para assumir o Ministério da Justiça, uma nomeação ao Supremo Tribunal Federal.
Nunca houve essa condição, até porque seria algo de aceitar um cargo de ministro da Justiça pensando em outro, isso não é da minha natureza. Eu realmente assumi esse cargo, fui criticado. Eu entendo essas críticas. Mas a ideia era realmente buscar um nível de formulador de políticas públicas aqui numa alta posição do Executivo. De aprofundar o combate à corrupção e levar essa maior efetividade em relação ao crime violento e crime organizado.


Tem uma única condição que eu coloquei isso, eu não ia revelar, acho não faz mais sentido manter em segredo e pode confirmado tanto pelo presidente quanto pelo General Heleno. Como contribuí 22 anos para a previdência, entendia que saindo da magistratura eu perderia essa previdência. Pedi apenas, já que nós íamos ser firmes contra a criminalidade, especialmente contra o crime organizado, que é muito poderoso, se algo acontecesse comigo, pedi que a minha família não ficasse desamparada, sem uma pensão. Foi a única condição que eu coloquei para assumir essa posição específica do Ministério da Justiça.


Permito-me aqui dizer que o presidente concordou com todas, com esse compromisso, o combate à corrupção, à criminalidade violenta, à criminalidade organizada. Falou até publicamente que me daria carta branca. Eu já tinha uma expertise por trabalhar com polícia, como juiz, evidentemente em relação à criminalidade organizada, e aceitei novamente com a intenção de realmente fazer com que as coisas evoluíssem. Minha avaliação na época era que essa aceitação ao convite foi bem acolhida pela sociedade. E também vi que estando no governo, como também garantidor, claro que existem outras instituições importantes, Senado, Supremo Tribunal Federal, Ministério Público, mas entendia, pelo meu passado de juiz e pelo compromisso com Estado de Direito, eu também poderia ser um garantidor da lei, da imparcialidade e da autonomia dessas instituições.


Dentro do ministério, me permitam fazer algumas reflexões. A palavra mote tem sido “integração”. Nós atuamos muito próximos das forças de segurança estaduais, até mesmo municipais. Nós realmente trabalhamos duro contra a criminalidade organizada, ouso aqui dizer, claro que tudo isso é sujeito a críticas e segundas opiniões, mas que não houve um combate tão efetivo à criminalidade organizada como houve nessa gestão do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Trabalhando não contra, mas com os governos estaduais. Tivemos o caso, por exemplo, da transferência e isolamento das lideranças do PCC, tivemos recentemente a prisão da maior autoridade do PCC em liberdade, 20 anos foragido no exterior, graças a um trabalho de investigação eficiente da Polícia Federal. Tivemos recordes de apreensão de drogas, é importante tirar drogas das ruas. A cocaína, maconha. Isso feito pela Polícia Federal, isso feito pela Polícia Rodoviária Federal, também um belíssimo trabalho aqui desenvolvido. Pela Força Nacional, nos locais onde ela atuou. Tivemos recordes de destruição de maconha no Paraguai, que é nosso principal fornecedor. Números expressivos de apreensão de produto do crime, seja de droga, seja de corrupção, principalmente pela Polícia Federal. Buscamos fortalecer a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal nesse período, com ampliação de concursos existentes.


Levamos massivamente a Força Nacional a todo o território nacional. É uma instituição que, a meu ver, deveria ser fortalecida. Nós estamos, lá no Congresso Nacional uma emenda à Constituição para que possamos ter com o tempo um corpo próprio. Sem prejuízo dos mobilizados, sem prejuízo dos requisitados dos estados. Ela tem sido muito demandada e, às vezes, nós sentimos que não temos perna suficiente. E ela atendeu diversas emergências de segurança pública nesse período. No Ceará, por mais de uma vez, espalhada em terras indígenas, enfim… Nós criamos o Seop (Secretaria de Operações Integradas) nessa linha de fortalecer a investigação. A Seop desenvolveu um programa chamado “Olhos e Vigia”. Talvez um dos primeiros programas efetivos de controle de fronteiras e trabalha em conjunto com forças de segurança estaduais. Investimos em inteligência com centro de fusão. Várias outras áreas aqui do Ministério da Justiça tiveram, a meu ver, um bom ganho de efetividade: área do consumidor, área de imigração, área do Senajus. Aqui é só um retrato, queria fazer algumas justificativas. No momento, o Ministério da Justiça está voltado principalmente ao enfrentamento da pandemia. Isso prejudicou um pouco os planos em curso, embora continuassem, mas estamos cuidando principalmente de EPI, de vacinação, de coordenação das forças de segurança, com o plano nacional de segurança.


Enquanto o Coaf esteve no Ministério da Justiça, eu não pedi que o Coaf viesse, mas foi proposto que ele fosse colocado na estrutura do Ministério da Justiça. Nós o fortalecemos, depois ele acabou sendo transferido para outros órgãos, onde tem presente que a estrutura fortalecida se manteve, acho que isso é muito positivo, também é um órgão de inteligência importantíssimo, que nós devemos inclusive aumentar sua estrutura e melhorar o seu funcionamento. Tivemos o projeto de lei anticrime, que foi a principal mudança legislativa durante o nosso período de gestão. Várias alterações, facilitação de venda de drogas. O Depen fez também um trabalho fantástico, o Ministério Público, a Senad. Desculpe aqui, um pouco cansativo todas essas reflexões. O projeto de lei anticrime poderia ter avanços maiores, infelizmente não foi aprovado em sua totalidade, mas ainda assim na minha avaliação ele representou um grande avanço.
Eu lembro aqui, num dos primeiros projetos que nós fizemos, no Ministério da Justiça, logo no início, foi uma campanha motivacional para os servidores e o tema era “faça a coisa certa sempre”. Então, esse sempre foi o mote, sempre foi a palavra, frase de ordem do Ministério da Justiça e Segurança Pública, faça a coisa certa, não importam as circunstâncias, arque com as consequências, isso faz parte. Acho que com tudo isso, nós conseguimos resultados expressivos, alguns deles eu já mencionei, como as questões de combate ao crime organizado. Mas nós tivemos aqui, permito-me dizer, uma redução expressiva da criminalidade em 2019. Tudo bem, já tinha uma queda em 2018, mas em 2019 nós tivemos uma queda em percentuais sem precedentes históricos, menos 19% de assassinatos, outros crimes caíram percentualmente até mais, de maneira até mais significativa. Mais de 10 mil brasileiros deixaram de ser assassinados. Claro, é um resultado compartilhado com os estados, com os municípios, onde tem combate à violência, ninguém tem dúvida disso, ninguém quer invocar esse mérito específico de maneira exclusiva, até porque a proposta do Ministério da Justiça sempre foi integração. O que importa é o resultado, não quem leva a medalha no final. Mas é muito significativo, isso me deixa muito feliz, que nesse primeiro ano nós tivemos resultados assim tão positivos para queda de violência, que é uma grande aspiração da população brasileira. Claro que temos ainda que melhorar muito esse cenário, mas, enfim, esse é um trabalho que é permanente e duradouro.


Bem, em todo esse período tive apoio do presidente Jair Bolsonaro em vários desses projetos, outros nem tanto, mas a partir do segundo semestre do ano passado passou a haver uma insistência do presidente na troca do comando da Polícia Federal. Isso inclusive foi declarado publicamente pelo próprio presidente. Houve primeiro um desejo de trocar o desejo de trocar um superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro. Sinceramente não havia nenhum motivo para essa substituição, mas, conversando com o superintendente em questão, ele queria sair do cargo por questões exclusivamente pessoais. Então, nesse cenário, acabamos concordando, eu e o diretor-geral, em promover essa troca como uma substituição técnica, com uma substituição de um indicado pela polícia.


Agora tem que fazer uma referência bastante rápida. Eu não indico superintendente da Polícia Federal. Única pessoa que indiquei na Polícia Federal foi o diretor o Maurício Valeixo. Não é meu papel fazer indicações de superintendentes e assim tem sido no ministério como um todo. Eu sempre tenho solicitado, dado autonomia ao pessoal que trabalha comigo. A palavra certa não é subordinado, é equipe, para que eles façam as melhores escolhas. Assim se valorizam os subordinados, desculpe, a equipe, e as escolhas técnicas. Eu tinha notícia quando eu assumi aqui o Ministério da Justiça de que havia rumores de que a Polícia Rodoviária Federal tinha algumas superintendências com indicações políticas. Eu escolhi o diretor-geral, Adriano Furtado, aqui presente, ele pode testemunhar o que eu disse para ele na ocasião que eu falei ‘escolha tecnicamente’. O que não é aceitável de maneira nenhuma são essas indicações políticas. Claro que às vezes existem indicações positivas, mas quando se começa a preencher esses cargos técnicos, principalmente de polícia, por questões políticas partidárias, provavelmente o resultado não é bom para a corporação inclusive.


O presidente, no entanto, passou a insistir também na troca do diretor-geral. O que que eu sempre disse ao presidente: ‘Presidente, eu não tenho nenhum problema em trocar o diretor-geral da Polícia Federal, mas eu preciso de uma causa’. E uma causa normalmente relacionada a uma insuficiência de desempenho, um erro grave. E, no entanto, o que eu vi durante todo esse período, até pelo histórico do próprio diretor-geral, que é um trabalho bem feito. Várias dessas operações importantes de combate ao crime organizado. Operações também de combate à corrupção que foram relevantes. Poderiam até ter mais operações. Mas, normalmente, essas operações elas maturam durante algum tempo e ano passado em particular nós ficamos aí quatro meses sem poder movimentar inquéritos envolvendo lavagem de dinheiro, por uma decisão judicial. Isso também prejudicou um pouco os trabalhos. Mas o trabalho vinha sendo feito e até a queda dessas estatísticas criminais era um indicador relevante de que o trabalho estava sendo positivo.
E há uma questão do nome: tem outros bons nomes para assumir o cargo de diretor da Polícia Federal. Há outros delegados igualmente competentes. O grande problema de realizar essa troca, primeiro: haveria uma violação a uma promessa que me foi feita inicialmente, que eu teria carta branca. Em segundo lugar não havia um causa para essa substituição e estaria claro que estaria ali havendo uma interferência política na Polícia federal, o que gera um abalo na credibilidade, não minha, minha também, mas também do governo, desse compromisso maior que temos que ter com a lei, com o ‘run of law’. E ia também ter um impacto, na minha opinião, na própria efetividade da Polícia Federal. E ia gerar uma desorganização. Não aconteceu durante a Lava Jato, a despeito de todos os problemas de corrupção dos governos anteriores. Houve até um episódio em que foi nomeado um diretor no passado, com intuito de interferência política e não deu certo, ficou pouco mais de 3 meses. A própria instituição rejeitou essa possibilidade.


E o problema é que nas conversas com o presidente e isso ele me disse expressamente que não é só troca do diretor geral. Haveria também intenção de trocar superintendentes, novamente o superintendente do Rio de Janeiro, outros superintendentes provavelmente viriam em seguida. Superintendente da Polícia Federal de Pernambuco sem que fosse me apresentado uma razão, uma causa para realizar esses tipos de substituições que fossem aceitáveis. Dialoguei por muito tempo com o presidente. Busquei postergar essa decisão. Às vezes até sinalizando que poderia concordar no futuro com essa possibilidade e até num primeiro momento pensando não de repente pode ser feito pode ser alterado, mas cada vez mais me veio a sinalização de que seria um grande equívoco realizar essa substituição. Ontem, conversei com o presidente, houve essa insistência do presidente. Falei ao presidente que seria uma interferência política, e ele disse que seria mesmo. Falei que isso teria um impacto para todos, que seria negativo, mas para evitar uma crise durante uma pandemia, acho que o momento não é apropriado para isso, eu sinalizei, vamos substituir o Valeixo por alguém que daria continuidade aos trabalhos, alguém com perfil absolutamente técnico e que fosse uma sugestão minha também. Na verdade, nem minha, uma sugestão da própria Polícia Federal.
Eu sinalizei com o nome do atual diretor-executivo da Polícia Federal, Disney Rosseti, eu nem tenho uma grande familiaridade com Rosseti, mas é uma pessoa de carreira, de confiança e como eu disse, essas questões não são pessoais, não são preferências pessoais. São questões que tem que ser decididas tecnicamente. Fiz essa sinalização, mas não obtive resposta. O presidente tem a preferência por alguns nomes que seriam da indicação deles, não sei qual que vai ser exatamente a escolha, foi ventilado nome de um delegado que passou mais tempo no congresso do que na ativa na Polícia Federal. Foi indicado, sugerido o nome do atual diretor da Abin, que é até um bom nome dentro da Polícia Federal.


Mas o grande problema é que não é tanto essa questão de quem colocar o problema é por que trocar? E permitir que seja feita a interferência política no âmbito da Polícia Federal. O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher ai, relatórios de inteligência. Seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. As investigações têm que ser preservadas. Imaginem se, durante a Lava Jato, o ex-presidente Lula, a ex-presidente Dilma ficassem ligando para a Polícia Federal em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento. A autonomia da Polícia Federal, com respeito à aplicação da lei, seja a quem for, isso é um valor fundamental que temos que preservar dentro de um Estado de Direito. O presidente me disse isso expressamente, ele pode ou não confirmar, mas é algo que eu não entendi apropriado. Então, o problema não é quem entra, mas por que alguém entra? E se esse alguém, sendo da corporação, aceitando substituição do atual diretor-geral, o impacto que isso vai ter na corporação, não conseguir dizer não ao presidente a uma proposta dessa espécie, eu fico na dúvida se vai conseguir dizer não a outros temas. Há uma possibilidade que se afirma que o Maurício Valeixo gostaria de sair. Mas isso não é totalmente verdadeiro. O ápice da carreira de qualquer Policial Federal, de todo delegado federal, é a direção-geral da Polícia Federal. E ele entrou com uma missão. Claro que depois de tantas pressões para que ele saísse, ele de fato até manifestou a mim: ‘Talvez seja melhor eu sair para diminuir essa cisma e nós conseguirmos realizarmos uma substituição adequada’. Ele sairia para alguma adidância para outro cargo, mas nunca isso voluntariamente, mas decorrente dessa pressão que, a meu ver não é apropriada. E o grande problema, uma substituição que seja orientada por causas que possam ser sustentadas, não haveria nenhum problema específico. O presidente também me informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal, em que a troca também seria oportuna, da Polícia Federal, por esse motivo. Também não é uma razão que justifique a substituição, é até algo que gera uma grande preocupação.


Enfim, eu sinto que tenho o dever de tentar proteger a instituição, a Polícia Federal. E por todos esses motivos, ainda busquei uma solução alternativa, para tentar evitar uma crise política durante uma pandemia, acho que o foco deveria ser o combate a pandemia, mas entendi que eu não podia deixar de lado esse meu compromisso com o Estado de Direito. A exoneração, que foi publicada, eu fiquei sabendo pelo ‘Diário Oficial’, pela madrugada. Eu não assinei esse decreto. Em nenhum momento isso foi trazido. Em nenhum momento o diretor-geral da Polícia Federal apresentou um pedido formal de exoneração.
Depois ele me comunicou que ontem à noite recebeu uma ligação dizendo que ia sair a exoneração a pedido e se ele concordava. Ele disse, como é que eu vou concordar com algo, uma coisa, eu vou fazer o quê? Se ele já está sujeito a exoneração a pedido. Mas o fato é que não existe nenhum pedido que foi feito de maneira formal. Sinceramente fui surpreendido, achei que isso foi ofensivo, vi que depois a Secom confirmou que houve essa exoneração a pedido, mas isso de fato não é verdadeiro. Para mim, esse último ato também é uma sinalização de que o presidente me quer realmente fora do cargo, não me quer presente aqui dentro do cargo. Essa precipitação de realização da exoneração, não vejo muita justificativa. Eu tenho até outras divergências, tive outras divergências com o presidente da República durante essa permanência aqui. Tive muitas convergências, recebi apoio do presidente em diversas ocasiões importantes, assim como dei apoio ao presidente da República em várias circunstâncias, tive pontuais divergências mas eu acho que como ministro estou numa relação que eu tenho que preservar também a questão da hierarquia. Mas não vou aqui falar dessas outras divergências, isso fica para uma outra ocasião.


De todo modo, o meu entendimento foi que eu não tinha como aceitar essa substituição. Há uma questão envolvida também da minha biografia como juiz, respeito a lei, o Estado de Direito, a impessoalidade no trato das coisas com o governo. E eu vivenciei isso durante a Lava Jato. Seria ali um tiro na Lava Jato se houvesse substituição de delegado, de superintendente naquela ocasião, então eu não me senti confortável. Tenho que preservar a minha biografia, mas acima de tudo eu tenho que preservar o compromisso que foi o compromisso que eu assumi inicialmente com o próprio presidente que nós seríamos firmes no combate à corrupção, crime organizado e criminalidade violenta. Um pressuposto necessário para isso é que nós temos que garantir a lei o respeito a lei própria autonomia da Polícia Federal contra interferências políticas. Certo o presidente indica ele tem essa competência ele indica o diretor-geral, mas ele assumiu um compromisso comigo inicial de que seria uma escolha técnica que eu faria essa escolha e o trabalho vem sendo realizado. Poderia ser alterado o diretor geral, desde que tivesse uma causa consistente não tem uma causa consistente e percebendo que essa interferência política pode levar a relações impróprias entre o diretor-geral, entre os superintendentes, com o presidente da República é algo que realmente não posso concordar.
Um pouco sobre o futuro. De todo modo eu agradeço. Agradeço ao presidente da República, a nomeação que foi feita lá atrás. Acho que nós tínhamos um compromisso e eu fui fiel a esse compromisso. Acho que estou sendo fiel a esse compromisso num momento em que eu me encontro aqui dentro do Ministério da Justiça. No futuro, eu vou começar a empacotar minhas coisas e vou providenciar que o meu encaminhamento, a minha carta de demissão. Eu infelizmente não tenho como persistir com o compromisso que eu assumi sem que eu tenha condições de trabalho e de preservar a autonomia da Polícia Federal para realizar seus trabalhos. Ou sendo forçado a sinalizar um concordância com uma interferência política na Polícia Federal, cujos resultados são imprevisíveis.


Espero que, independente da minha saída, seja feita a escolha de um ou até a própria manutenção do diretor-geral atual, já que o pedido de exoneração não existe. Mas não havendo essa possibilidade que seja feita uma escolha técnica, sem preferências pessoais. Que também, a instituição, dá para se confiar na PF, a PF tem um histórico. Ela vai também resistir a qualquer espécie de interferência política. Tenho crença nisso. Que seja indicado alguém que possa realizar um trabalho autônomo, independente, alguém que não concorde em trocar superintendentes ou delegados por motivos não justificados. O meu futuro pessoal, após disso, eu abandonei esses 22 anos de magistratura. Infelizmente é um caminho sem volta. Mas quando eu assumi, eu sabia dos riscos, vou descansar um pouco.


Esses 22 anos foram de muito trabalho. Em especial, durante todo esse período da Lava Jato, praticamente não tive descanso e nem durante o exercício do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública. Vou procurar mais adiante um emprego. Não enriqueci no serviço público, nem como magistrado nem como ministro. E quero dizer que independentemente de onde eu esteja eu sempre vou estar à disposição do país para ajudar o que quer que seja, se eu puder ajudar nesse período da pandemia com outras atitudes. Mas, enfim, sempre respeitando o mandamento do ministério da Justiça e Segurança Pública nessa gestão que é fazer a coisa certa sempre. Muito obrigado”.

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