A médica Ludhmila Hajjar recusou, nesta segunda-feira (15), um convite feito pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Saúde no lugar de Eduardo Pazuello. Ela seria a quarta a chefiar a pasta desde o início da pandemia. A cardiologista alegou motivações "técnicas" e disse ter "divergências" com o presidente.
Hajjar é contrária ao "kit covid", defendido por Bolsonaro, e favorável à adoção de medidas mais restritivas ou lockdown para reduzir a circulação do novo coronavírus. No domingo (14), ela esteve reunida com o presidente e, hoje, comunicou a decisão em novo encontro no Palácio do Planalto.
"Assuntos como cloroquina, como se acredito em lockdown, são secundários, não deveriam estar sendo discutidos. Lockdown é demonstrado, cientificamente, que salva vidas", afirmou Hajjar à CNN. "Até o momento, o Brasil errou no combate à pandemia. Precisa de uma virada de entendimento, de ações", acrescentou a médica.
Auxiliares do presidente viram a nomeação da cardiologista como uma chance de mudar a narrativa sobre a pandemia. O governo federal está sob pressão pela alta de mortes, explosão de internações e atrasos na campanha de vacinação.
As conversas sobre a substituição de Pazuello ganharam força no último fim de semana. Ainda são cotados para o cargo o deputado Dr. Luizinho (PP-RJ), aliado do presidente da Câmara, e o médico Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
A leitura de uma autoridade que acompanha as discussões é que ambos devem receber apoio do Congresso e de auxiliares do presidente, mas podem parar no filtro de Bolsonaro, já que também têm opiniões distintas às do mandatário sobre o combate à pandemia.
A saída de Pazuello da Saúde foi um dos pontos tratados em reunião de Bolsonaro com o próprio general, além dos ministros Braga Neto, da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e Fernando Azevedo, da Defesa, no sábado (13).
Para além da pressão do Congresso, a inviabilidade de Pazuello no cargo passa, ainda, pelas investigações do Supremo Tribunal Federal, que apura eventuais responsabilidades pela crise generalizada no sistema de saúde. Ao deixar de ser ministro, Pazuello perde, inclusive, o foro privilegiado e o caso deverá ser encaminhado para a primeira instância da Justiça Federal.
Oficialmente, o governo deve alegar que Pazuello está cansado e que pediu para ser substituído. Em nota no fim da tarde de ontem, porém, o general disse que segue ministro e que não está doente, como chegou a ser ventilado.
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