Com o inquérito fechado, o delegado Jerônimo Marçal Ferreira revelou detalhes do ataque a uma creche de Saudades, cidade do Oeste catarinense. Em coletiva de imprensa, na manhã desta sexta-feira (14), o responsável pela investigação do massacre ocorrido na manhã da terça-feira (4) conta que Fabiano Kipper Mai agiu sozinho e tinha consciência do crime que cometeu. "Ele queria matar o máximo de pessoas. Estava com pressa para atingir o objetivo dele", relata o investigador, confirmando que a ação premeditada era planejada desde o ano passado.
O agressor cumpre prisão preventiva e foi levado a presídio, onde deve ficar até o julgamento. Ele foi indiciado por cinco homicídios triplamente qualificados (duas professoras e três bebês) e pela tentativa de assassinato de um quarto bebê.
No início, o agressor tentou comprar uma arma pensando em atacar pessoas mais próximas, mas como não conseguiu, percebeu que não teria como agredir o alvo planejado. O delegado relata que raiva dele era contra qualquer pessoa e que escolheu a escola pela fragilidade das pessoas. "Ele trabalhou com várias possibilidades e escolheu o local de 4 a 5 dias antes do ataque", quando a faca, comprada pela Internet, chegou até ele.
O planejamento do crime incluía o suicídio, o que não se concretizou, pois Fabiano foi socorrido com vida, recebendo alta hospitalar na manhã da quarta-feira (12), após série de cirurgias nos locais dos golpes autoinflingidos.
A análise da investigação aponta que Fabiano era uma pessoa muito isolada. Ele tinha uma "dificuldade de relacionamento acima do normal", sendo que a mãe tinha que sair até para comprar suas roupas e ele nem sequer se alimentava junto da família. Nos últimos tempos, Fabiano entrou em um "mundo" com muita violência e "resolveu descarregar o ódio generalizado" contra a sociedade, um ato "covarde", define Ferreira.
"Pessoa normal"
Em relação ao estado mental de Fabiano, Ferreira confirma que ele é uma "pessoa normal", sem diagnostico de qualquer distúrbio. O agressor teve acompanhamento de profissional da área de psicologia para análise do perfil. Segundo o delegado, ele "sabia exatamente o que fez", algo que "o planejamento do crime deixa muito claro."
Além disso, reforça que ele tem discernimento de que foi errado, "mas fez mesmo assim." Na oitiva, confessou o ataque e se disse arrependido, mas Ferreira não sabe até que ponto, já que agora, ele está sendo punido.
O inquérito, que deve ser enviado ainda nesta sexta-feira (14) ao Ministério Público catarinense, ouviu mais de 20 pessoas, além da análise dos dados do computador de Fabiano.
O depoimento do agressor aconteceu enquanto ele ainda estava hospitalizado. Questionado sobre a necessidade de uma nova oitiva com o assassino, o delegado é enfático ao confirmar que o caso "está bem esclarecido."
O equipamento apreendido passou por perícia e demonstrou que Fabiano tinha acesso a muito conteúdo inapropriado e contato com pessoas que tinham o mesmo tipo de ideia. Entretanto, não foi encontrada nenhuma contribuição de outras pessoas no crime.
Além disso, Ferreira afirma que, ao que tudo indica, Fabiano não tinha acesso à Deep Web, área da Internet sem regulamentação.
De acordo com a investigação, a família não tinha noção dos planos de Fabiano. "Não só a família, como todas as pessoas [que o conheciam] não tinham ideia do que podia acontecer", afirma Ferreira. Quando a faca que custou cerca de R$ 400 chegou à casa de Fabiano, a família não teria entendido o motivo da compra.
Em relação à agressão a animais, como se cogitou no início da investigação, ele não teria chegado a matar animais, mas os provocava mais do que agredia, define o delegado.
Receba notícias diretamente em seu e-mail! Clique aqui e inscreva-se gratuitamente na nossa newsletter.