Publicidade
Notícias | País CONTAMINAÇÃO

Fábrica de petiscos é interditada após morte de cachorros

Laudo preliminar da Universidade Federal de Minas Gerais encontrou substância usada para refrigeração, a mesma presente em cerveja contaminada, em um dos animais mortos

Por Estadão
Publicado em: 04.09.2022 às 13:37 Última atualização: 04.09.2022 às 13:50

Uma fábrica de petiscos e rações animais foi interditada após a morte de nove animais em Minas Gerais e São Paulo.

Fiscais do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento decidiram, na sexta-feira (2), pelo fechamento depois de inspecionarem a unidade da empresa Bassar Indústria e Comércio Ltda, em Guarulhos, São Paulo.

Os produtos identificados com suspeita fundamentada de contaminação são os petiscos Every Day sabor fígado e o Dental Care
Os produtos identificados com suspeita fundamentada de contaminação são os petiscos Every Day sabor fígado e o Dental Care Foto: Bassar/Divulgação

O Ministério da Agricultura também determinou o recolhimento nacional de todos os lotes de petiscos da marca, sob a suspeita de contaminação por substâncias tóxicas. Caberá à empresa fazer o recolhimento e armazenar os petiscos em armazéns de sua propriedade.

Os produtos identificados com suspeita fundamentada de contaminação são os petiscos Every Day sabor fígado (lote 3554) e o Dental Care (lote 3467).

Em nota, o Ministério da Agricultura informou que as medidas são preventivas e que poderão ser alteradas conforme o resultado das investigações.

Durante a inspeção, a equipe de fiscalização do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal recolheu amostras dos produtos, que serão analisadas pelos laboratórios do Ministério da Agricultura. Em relação ao fechamento da fábrica, a unidade poderá ser reaberta após a apresentação de todas as informações requeridas pelo ministério.

Segundo investigação da Polícia Civil de Minas Gerais, nove cães morreram depois de ingerirem os petiscos dos dois lotes. Seis mortes ocorreram em Belo Horizonte, uma em Piumhi (MG) e duas na cidade de São Paulo. Distrito Federal e outros Estados têm relatos de casos de intoxicação: Rio, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Alagoas, Sergipe e Goiás. 

A maioria das mortes foi por quadro de falência renal.

Em nota, a Bassar Pet Food informou que está colaborando com as investigações e que contratou uma empresa especializada para inspecionar todos os processos de produção e o maquinário da fábrica, em Guarulhos.

No texto, a companhia informou ter acionado todos os fornecedores para que rastreiem os insumos utilizados e ofereceu o e-mail sac@bassarpetfood.com.br para que os consumidores tirem dúvidas.

Laudo preliminar

Laudo preliminar da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais identificou a presença do monoetilenoglicol no corpo de um dos cachorros mortos por suspeita de intoxicação após consumir petisco da marca Bassar. 

"Fizemos alguns exames e, até agora, identificamos o monoetilenoglicol em um dos diversos produtos que estamos recebendo, mas ainda existem muitos outros a serem encaminhados para análise, que ainda está em andamento. Ainda há muito trabalho a ser feito para chegarmos a uma conclusão mais precisa", afirma a perita criminal da Polícia Civil de Minas Renata Fontes.

Conhecida também como etilenoglicol, a substância é geralmente usada para refrigeração e encontrada em baterias, motores de carro e freezers ou geladeiras. "No atendimento de animais, suspeitamos desse líquido quando temos o histórico de que o animal lambeu alguma dessas máquinas", explica Anne Pierre Helzel, assessora técnica do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).

"Como ele tem um gosto docinho, os animais normalmente querem ingerir e não param. É diferente de outros venenos que têm gosto repugnante", explica Anne. Segundo ela, a ingestão do etilenoglicol deixa "algumas lesões características" que podem ser observadas por exame microscópico, o que torna fundamental um trabalho de autópsia nos cachorros intoxicados.

A médica veterinária alerta também que, uma vez ingerida, a substância é rapidamente absorvida pelo organismo dos animais. Assim, a rapidez na identificação é primordial para o tratamento. "Se conseguimos pegar o caso até uma hora depois, fazemos a lavagem gástrica para tirar o que foi absorvido. Agora, se o líquido passar do estômago, é absorvido e pode causar enjoo e diarreia, por exemplo."

Após a intoxicação, a principal área atingida é o sistema nervoso do animal, que passa a apresentar sintomas similares à embriaguez por álcool: ele fica "frustrado, sonolento e apática em um canto", tem descoordenação motora, não consegue andar em linha reta e fica cambaleando ou caindo, além de perder o reflexo do equilíbrio.

"Depois que o líquido é processado, o animal pode apresentar acidose e vai tentar diminuir a quantidade de hidrogênio no próprio sangue. Então, vai hiperventilar. Ele fica prostrado e ofegante. Ao mesmo tempo, o corpo vai tentar eliminar o etilenoglicol e os ácidos metabólicos, mas quando isso passa pela urina causa a necrose e aí vem a falência renal", aponta Anne.

O etilenoglicol é o mesmo líquido que causou a intoxicação de 29 pessoas que consumiram a cerveja Backer, em 2019. Na época, dez pacientes morreram após ingerirem a bebida. Em nota, a Bassar Pet Food, fabricante dos petiscos consumidos pelos animais nesta semana, afirmou que colabora com as investigações e presta orientações aos consumidores que entram em contato com a empresa.

Anne aponta que, para manter a segurança dos animais, o principal ponto da investigação agora deve ser identificar em que etapa da produção pode ter sido gerada a suposta contaminação. "Não é que alguém tenha comprado e adicionado o etilenoglicol por maldade ou usado produtos de qualidade inferior. Mas pode ter acontecido de alguma máquina vazar ou ter algo com a matéria-prima."

Pet morreu após não conseguir transfusão

Uma das mortes foi relatada por uma moradora de Piumhi, no interior de Minas. A tutora disse às autoridades que havia comprado petiscos para seu animal em Belo Horizonte, segundo a delegada titular Danúbia Quadros, da Delegacia Especializada em Defesa do Consumidor de BH, responsável pelo caso.

No caso do cachorrinho de Piumhi, ele foi internado ainda na capital mineira, mas como não conseguiu fazer transfusão de sangue, retornou para o município do interior. Apesar de buscar auxílio veterinário, o pet não sobreviveu.

Sintomas

A delegada Danúbia Quadros ressalta que os principais sintomas identificados nos relatos dos tutores dos cachorros são convulsão, vômito, diarreia e prostração.

"Se após o consumo dos petiscos dessa marca, o tutor do animal perceber algum desses sintomas, orientamos procurar imediatamente o veterinário para os devidos cuidados, e além disso relatar o caso à delegacia local."

Ponto de venda retira produtos da marca

O Grupo Petz informou que logo que teve conhecimento do caso envolvendo e retirou itens da marca dos pontos de venda. São eles: Snack Cuidado Oral Hálito Fresco, Dental Care e Everyday.


Gostou desta matéria? Compartilhe!
Encontrou erro? Avise a redação.
Publicidade
Matérias relacionadas
Botão de Assistente virtual