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Procedimento que "limpa o intestino" é seguro? Funciona? Entenda polêmica sobre hidrocolonterapia

Ex-BBB gravou a prática e postou nas redes sociais; vídeo gerou dúvidas sobre procedimento

Publicado em: 04.12.2023 às 13:05

A hidrocolonterapia ganhou os holofotes do Brasil nesta semana, quando a influencer e ex-BBB Adriana Sant'Anna gravou uma sessão da prática e postou nas redes sociais. Em pouco tempo, o vídeo que mostra "as fezes velhas" saindo do intestino circulou por todos os cantos. Apesar de ser feita no País, a prática não é reconhecida - nem recomendada - pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), que trata das doenças do cólon, reto e ânus.

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Ex-BBB gravou procedimento e postou nas redes sociais | Jornal NH
Ex-BBB gravou procedimento e postou nas redes sociais Foto: Redes Sociais/Reprodução

O procedimento consiste em uma limpeza do intestino grosso com grandes quantidades de água filtrada, eliminando fezes acumuladas e removendo toxinas que, em tese, ficam por mais tempo do que o necessário no organismo, e são originadas ao longo dos anos por esse suposto acúmulo de fezes. Se elas ficarem e acabarem por serem absorvidas, poderiam causar um "envenenamento" no organismo.

Porém, essa teoria foi "cientificamente desmentida por volta de 1920", por estudos que demonstraram não existir relação entre as fezes no cólon e alguma intoxicação no organismo, de acordo com nota técnica da Comissão Científica da SBCP. Estudos feitos em procedimentos cirúrgicos e autópsias não mostraram que havia fezes "coladas" na parede do intestino grosso.

Sobre as supostas toxinas, o artigo "Análise Crítica da Colonterapia: Fatos e Verdades" afirma que limpezas, inclusive as mecânicas, não são capazes de eliminar todas as bactérias do intestino. O fato foi comprovado por biópsias. "Desta forma, fica claro, então, que a promessa de esterilização, desintoxicação e depuração de toxinas não é verdadeira", diz.

Existem resultados?

Cynthia Corsetti Majewski é formada em enfermagem e obstetrícia pelo Centro Universitário Franciscano (Unifra) desde 1980 e atua como hidrocolonterapeuta há 23 anos em Porto Alegre. Segundo ela, a prática é indicada para desintoxicação e melhora da função intestinal, rinites e alergias no geral. Ela também afirma receber clientes vindos de nutricionistas para fazer o procedimento como forma de auxílio na reeducação alimentar.

Porém, o artigo "Análise Crítica da Colonterapia: Fatos e Verdades" afirma que "não há evidência médica cientificamente comprovada de que a colonterapia tenha qualquer efeito terapêutico positivo contra a constipação intestinal ou qualquer outra patologia".

O coloproctologista Gustavo Braga afirma que a prática não resolve os problemas intestinais, nem desconforto, nem questão de imunidade, nem gases ou dores abdominais. Para ele, "o que eles vendem como a hidrocolonterapia é uma 'resolução às cegas' de alguma coisa que nem base teórica tem". "Tudo isso não resolve os problemas intestinais, desconfortos, questões de imunidade, gases ou dores abdominais", disse.

Problemas na função intestinal

A SBCP salienta que pacientes com trânsito intestinal lento e constipados devem passar por uma avaliação médica e, em sua grande maioria, podem tratar dos problemas com "dieta adequada, ingestão de líquidos e atividade física regular". Para outros, remédios podem ser utilizados no tratamento após a consulta.

Segundo o doutor, a hidrocolonterapia "não substitui nenhum medicamento, até porque eles têm ações específicas no intestino". Dessa forma, diferentes causas da constipação não serão tratados da mesma forma. De acordo com a pesquisa, "ainda não existem na literatura trabalhos científicos adequadamente desenhados demonstrando a eficácia deste método para o tratamento da constipação".

E as outras formas de "limpar" o intestino?

O cólon precisa ser limpo em algumas circunstâncias, como para cirurgias ou na colonoscopia, um procedimento diagnóstico. Porém, ele deve ser indicado por um médico que tenha estudado o caso do paciente.

Existe uma diferença, inclusive, entre as lavagens realizadas para estes fins, como enemas ou lavagem retal, e a hidrocolonterapia. Na lavagem feita em casos cirúrgicos, o líquido é colocado no ânus do paciente e ele mesmo evacua. Já na "limpeza das fezes antigas", uma máquina é colocada no ânus, que insere o líquido limpo e retira o sujo, segundo o coloproctologista.

Há riscos?

"O paciente corre o risco não só de perfuração intestinal, mas de translocação bacteriana, que pode ocasionar uma infecção intestinal, podendo ser grave", afirmou o coloproctologista. Além disso, há o perigo de desenvolver possíveis distúrbios eletrolíticos, ou seja, de sódio, potássio, magnésio.

Outros casos descritos de pessoas que realizaram a prática, segundo artigo:

  • perfurações do reto;
  • peritonite secundária com necessidade de intervenção cirúrgica;
  • insuficiência cardíaca;
  • transmissão de doenças, como a amebíase, quando o equipamento utilizado não foi adequadamente esterilizado;
  • desidratação;
  • síncope;
  • distensão abdominal.

As complicações podem aumentar quando a pessoa tem uma patologia inflamatória ou um tumor que não foi diagnosticado previamente. Cynthia compartilhou também uma lista de pessoas que não devem fazer a hidrocolonterapia:

  • gestantes;
  • pessoas com insuficiência cardíaca ou renal;
  • crises de diverticulite e de hemorroidas;
  • que esteja em pós-operatório abdominal recente.
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