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Notícias | Região Redução de recursos

Reforma trabalhista enfraquece sindicatos que cortam serviços

Pelo novo texto, a contribuição sindical que anteriormente era compulsória passou a ser opcional

Por Felipe Nabinger
Publicado em: 30.11.2018 às 10:11

Um dos itens da reforma trabalhista, sancionada pelo governo federal na metade do ano passado, atingiu em cheio os sindicatos. Pelo novo texto, a contribuição sindical que anteriormente era compulsória passou a ser opcional, cabendo ao empregado informar de forma clara ao empregador que aceita que parte do salário equivalente a um dia de trabalho seja destinado para a associação que defende os direitos de sua categoria. A alteração reduziu drasticamente as receitas dos sindicatos, que passaram a cortar funcionários, além de diminuir os serviços prestados aos associados.

Um exemplo é o Sindicato dos Empregados no Comércio de Novo Hamburgo e Região (Sindicomerciários), que se viu obrigado a encerrar, no final do ano passado, a atuação da escola de educação infantil que mantinha há 37 anos e atendia cerca de cem crianças. Segundo a presidente do Sindicato, Maria Cristina Mendes, o custo por criança era de R$ 1 mil, sendo que a mensalidade cobrada dos pais era de 600 reais e o restante subsidiado pela associação. Além disso, houve uma diminuição de 20% do quadro social e foi arrecado em março apenas 10% dos valores que costumavam ser recebidos com a extinção da obrigatoriedade do repasse anual, fazendo com que o quadro de funcionários do sindicato fosse de 74 para 30.

Serviços seguem

Maria Cristina garante que o Sindicomerciários segue realizando conferências das rescisões de contratos, intermediação de conflitos e assistência jurídica, entre outros serviços, mas não é possível manter toda a assistência. "Alguns serviços sociais ficaram prejudicados e outros se tornaram inviáveis", afirma. A presidente aponta outra mudança na reforma, responsável por reduzir a arrecadação do sindicato. "Houve o encerramento das negociões das convenções coletivas sem acordo. Os trabalhadores do comércio ficaram sem seu reajuste anual e a entidade sem a contribuição negocial das mesmas", explica.

Arrecadação vem de serviços mantidos

Sem a contribuição compulsória, as receitas do Sindicomerciários vêm das mensalidades de sócios, mensalidades do Centro de Natação e contribuições negociais por ocasião das convenções coletivas. "Ainda dispomos de assistência médica e odontológica próprias, convênios com especialistas, exames, planos de saúde ambulatorial e hospitalar bem como um Centro de Natação e Hidroginástica", garante Maria Cristina. Segundo a presidente, o trabalhador procura pelo seu sindicato normalmente quando está sem trabalho, sem salário, sem serviço de saúde ou sem as três coisas juntas. "Temos que disponibilizar o mínimo de assistência a todos. Aos associados mais ainda, mas nosso caráter social e solidário tem que permanecer", garante. Ela frisa que a contribuição do trabalhador é fundamental para o sindicato se manter ativo e atuante. "Se o trabalhador não se der conta da importância do sindicato, não termos como manter", afirmou.

Redução de funcionários eserviços nos metalúrgicos

Outro que enfrenta problemas com a reforma é o Sindicato dos Metalúrgicos de Novo Hamburgo (Sindimetal/NH), que perdeu cerca de 90% da arrecadação e agora se mantém com as mensalidades e com o aluguel do ginásio poliesportivo na Rua Araruama, no bairro Jardim Mauá. Houve a necessidade da redução do quadro de funcionários de quatro para apenas dois. Além disso, quatro diretores da entidade, que estavam cedidos para o sindicato, voltaram para as empresas de origem. Com a redução de recursos, a entidade deixa em aberto a possibilidade de reduzir ou cancelar atendimentos médicos, odontológicos e assistência jurídica, mas refuta a extinção do sindicato.

"Não digo a extinção da entidade, mas com certeza existe o risco de fechamento de portas ou abertura em uma vez da semana. Se não houver dinheiro ou alguma mudança esse ano, o sindicato não terá condições de seguir com esse atendimento aos associados", afirma o advogado da entidade, Everson Luis Gross.

Ele reforça que houve diminuição de postos de trabalho na indústria metal-mecânica na região, o que diminuiu ainda mais o número de associados, que historicamente já não era tão grande, em sua visão, pela oposição por parte das empresas, que enxergam o trabalhador sindicalizado como algo ruim, não um mediador de conflitos.

Contribuição é de um dia

O valor descontado não foi alterado na lei. Os empregados que quiserem contribuir anualmente terão a importância correspondente à remuneração de um dia de trabalho, qualquer que seja a forma da referida remuneração. Os empregadores fazem o desconto da folha de pagamento relativa ao mês de março de cada ano.

Nem todo valor da contribuição chega aos sindicatos

Tanto antes da alteração da lei quanto agora, nem todo o valor arrecadado na contribuição chega ao sindicato. As entidades que representam as categorias recebem com 60% do montante. Do restante, 20% vai para a Conta Especial Emprego e Salário (CEES) do Ministério do Trabalho, 15% é repassado a federação estadual e 5% para a confederação. 

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