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Notícias | Região Mais Médicos

'Viemos para ajudar', diz médica cubana em Parobé

Profissional lamenta fim do convênio que vai tirá-la do posto da Cohab

Por João Victor Torres
Publicado em: 23.11.2018 às 08:39

A decisão do governo cubano de encerrar o convênio com o programa Mais Médicos, após críticas e questionamentos do presidente eleito, Jair Bolsonaro, sobre os profissionais formados em Cuba, não gerou lamentações e pegou apenas autoridades e pacientes de surpresa. Os próprios médicos cubanos não imaginavam esse desfecho. A médica especialista em saúde da família, Oneydis Domínguez Zamora, 28 anos, aceitou, nesta quinta-feira (22), falar sobre o assunto. Só pediu pra não ser fotografada.

Oneydis atuou no posto de saúde do bairro Cohab, em Parobé, durante 1 ano e 9 meses. Ela prefere a neutralidade quando questionada sobre assuntos mais polêmicos. Entretanto, não esconde que as desconfianças levantadas a partir de declarações, especialmente em redes sociais, sobre a qualificação dos médicos cubanos, a deixaram desapontada.

"Estudamos muito. Viemos para ajudar o povo brasileiro, que precisa de médicos. Passamos por um longo processo, inclusive com testes para vir ao Brasil. A Medicina em Cuba é referência para muitos países, e só aqui existe essa desconfiança. Felizmente, nunca tive nenhum problema com isso. Todos sempre me trataram com muito respeito", diz a jovem médica.

Comoção

A médica considera que compreendeu a realidade local e frisa a forma hospitaleira como foi recebida pela equipe de trabalho e pela comunidade. No seu último dia de trabalho, em 20 de novembro, o clima era de comoção na unidade. "Todos ficaram mal. Não queriam que eu deixasse de atender", conta.

Oneydis não esconde a tristeza pelo rompimento abrupto do convênio. "Muitos colegas já foram embora. Eu tinha consultas até dezembro e gostaria de cumprir meu contrato até o fim", revela. Na região, edital lançado esta semana prevê a contratação de 103 médicos para substituir os cubanos.

Capacitação na UFRGS

Para vir ao Brasil, Oneydis teve que fazer especialização em Saúde da Família ainda em Cuba. Já no Brasil, fez capacitação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A seleção para participar do Mais Médicos, por sua vez, foi extensa e intensa. "Realizamos um curso com aulas de Língua Portuguesa e de protocolos de Medicina aplicados no Brasil, além de um teste aplicado por médicos brasileiros", explica a profissional.

Outro trâmite burocrático, chamado de "investigação", também foi realizado. O procedimento durou aproximadamente seis meses, quando o cônsul brasileiro em Cuba aprovou toda a documentação dos profissionais. "Não há como vir para cá alguém que não seja um médico. É impossível", diz. Em relação à escola cubana de medicina, detalha uma situação. "Em Cuba, não ficamos na frente dos pacientes. Procuramos estar ao lado, até para uma proximidade maior", conta.

 

O amor e as incertezas

Após quase dois anos no Estado, ela conheceu o calçadista Geovane Gnoatto, 34 anos, de Igrejinha, e eles começaram a namorar há seis meses. Uma colega de trabalho dela o apresentou. "Ele é uma pessoa muito boa, me faz muito bem", diz, apaixonada. O calçadista procura passar força à companheira neste momento de incertezas. "Fomos pegos de surpresa. Não esperávamos que fosse assim, tão rápido", pondera Gnoatto, apreensivo tanto quanto ela sobre o futuro.

Fica, cubano

O vereador de Portão Kiko Hoff busca alternativas para que o médico cubano Ramón Díaz fique na cidade. Ele começou uma campanha em redes sociais. "Queremos que ele fique aqui e seja concedida a ele a cidadania brasileira", diz Hoff. "As avaliações da Secretaria Municipal de Saúde são unânimes ao indicá-lo como excelente profissional. Não queremos perdê-lo."

 

Novo Hamburgo

A Prefeitura de Novo Hamburgo faz adequações internas para não afetar atendimentos. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, todas unidades de saúde do Município estiveram com, pelo menos, um médico atendendo ontem.

 

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