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Notícias | Região Operação Consiluim

Delegado conta como chegou a vereador e subsecretário de obras de Novo Hamburgo

Ambos serão indiciados por lavagem de dinheiro, associada ao tráfico de drogas, segundo Márcio Zachello do Denarc

Publicado em: 13.12.2018 às 08:47 Última atualização: 13.12.2018 às 10:29

Débora Ertel, Dilea Fronza e Fábio Radke

  • Mandados foram cumpridos nos bairros Canudos, Lomba Grande e Primavera
    Foto: Polícia Civil
  • Policial faz buscas em Novo Hamburgo
    Foto: Polícia Civil/Divulgação
  • Mandados são cumpridos em Novo Hamburgo nesta quarta-feira
    Foto: Polícia Civil/ Divulgação
Alvos da Operação Consilium, deflagrada nesta quarta-feira (12) em Novo Hamburgo, o vereador Émerson Fernando Lourenço, o Fernandinho, e o titular da Subsecretaria Municipal de Obras do Bairro Canudos da Prefeitura, Pedro André Arenhardt, serão indiciados por lavagem de dinheiro, associada ao tráfico de drogas, segundo o delegado Márcio Zachello, da Delegacia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro do Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc).

Para ele, há indícios suficientes para comprovar a ligação dos dois com uma facção do Vale do Sinos e o indiciamento será feito, no máximo, em 30 dias. “Já possuíamos materialidade dos crimes antes mesmo dessas buscas. Mas procuramos mais elementos para levar ao judiciário”, declarou Zachello. 

Ontem, foram cumpridos, 15 mandados de busca e apreensão nos bairros Canudos, Primavera e Lomba Grande.

Polícia Civil detalha como foi possível chegar aos dois nomes

A operação teve origem na análise de documentos ligados a Juliano Biron, apontado pela Polícia como traficante de drogas, quando ele tinha sido preso acusado de ser um dos responsáveis pela morte do fotógrafo José Gustavo Gargione, em julho de 2015, em Canoas. "Naquela ocasião, o Denarc fez buscas na boate e na residência do Juliano e assim surgiram as suspeitas de lavagem de dinheiro. Deflagramos uma operação em julho de 2017 em várias residências e empresas. Na mesma ocasião foram apreendidos R$ 206 mil, dois fuzis, quatro pistolas, oito quilos de maconha e assim conseguimos provar que aqueles indivíduos estavam atuando realmente no tráfico de drogas, possuíam armamento pesado e não só faziam só tráfico pequeno", explica o delegado Zachello, informando que, então, Biron foi transferido ao Presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande do Sul.

Conforme Zachello, em meio à papelada havia um contrato de compra e venda de uma casa em Tramandaí em nome de Fernandinho. A Polícia afirma que Biron estava adquirindo uma casa no valor de R$ 1,2 milhão em Cachoeirinha, por meio de um laranja. O pagamento teria sido feito com uma lancha, um terreno, um imóvel, dinheiro e a casa em nome de Fernandinho, conforme a Polícia. "Este foi o primeiro vínculo que achamos", diz o delegado. Além disso, a Polícia informa que percebeu que uma das pessoas que movimentava dinheiro diretamente das contas de Biron era um empresário, no caso Arenhardt, que se tornou subsecretário de Obras da Prefeitura de Novo Hamburgo. "Ele fez doação na campanha quando o vereador era candidato e depois esse empresário foi indicado a um cargo pelo próprio Fernandinho", diz Zachello, apontando o vínculo entre os dois.

Investigadores apuraram que Arenhardt tinha uma empresa inativa, com movimentações incompatíveis com sua atividade, patrimônio e com o que era declarado. "A gente percebeu que sempre tinham transações de veículos com pessoas com antecedentes com o tráfico, por porte de armas, com pessoas rotineiramente envolvidas em crimes", diz o delegado.

Como continua a investigação

A Polícia ontem apreendeu documentos e eletrônicos que serão analisados pelos investigadores, a fim de reunir provas para responsabilizar criminalmente os envolvidos. Conforme o delegado, ainda há documentação apreendida na operação anterior que está sob análise. De acordo com Zachello, a Polícia também apura se a campanha eleitoral de Fernandinho foi financiada pelo tráfico de drogas. Atualmente, ainda está sendo apurada a lavagem de capitais em empresas no ramo de transportes, demolidoras de veículos, e a aquisição de bens móveis e imóveis em nome de terceiros.

O titular da 3ª Delegacia de Polícia da Região Metropolitana (DPRM), Rosalino Seara, informou que também havia reunido indícios do crime da lavagem de dinheiro do tráfico por meio do Núcleo de Repressão à Lavagem de Dinheiro ligado à 2ª DP de São Leopoldo, comandada pelo delegado Rodrigo Zucco. No entanto, como o Denarc já tinha um inquérito instaurado, com investigações mais avançadas, a 3ª DPRM repassou os dados para Porto Alegre. “Pois queríamos ter provas mais robustas para conseguir prender estas pessoas”, esclareceu.

Vereador havia sido preso em 2017

Foto por: Divulgação
Descrição da foto: Fernandinho
Ontem, Fernandinho participou normalmente da sessão da Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo. Ele havia sido preso em operação da Polícia Civil em 6 de outubro de 2017. Na oportunidade, a 2ª Delegacia de Polícia de São Leopoldo apoiou a Polícia de Canela em investigações sobre homicídios ocorridos na Serra, onde os suspeitos seriam membros de facção pela disputa de área de jogos de azar. A Polícia cumpriu buscas na casa do vereador e ele foi detido em flagrante em sua residência no bairro Jardim Mauá, em Novo Hamburgo, por posse ilegal de arma de fogo e receptação, pois a arma seria furtada.

O revólver calibre 38 estava escondido embaixo do colchão de sua cama. O vereador foi solto no dia seguinte, após 30 horas de detenção, beneficiado por habeas corpus. Fernandinho está na primeira legislatura e participa da Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Defesa do Consumidor e a Comissão de Obras, Serviços Públicos e Mobilidade Urbana.

Nota oficial de Fernandinho

“Hoje pela manhã a Polícia Civil realizou mandado de busca e apreensão na cidade de Novo Hamburgo, onde não foi constatada nenhuma relação concreta com o vereador Fernando Lourenço, ou seja, trata-se apenas de uma investigação. O vereador seguirá com sua agenda de atividades políticas normalmente, participando da sessão ordinária de hoje (ontem), às 14 horas na Câmara Municipal de Novo Hamburgo, bem como das agendas já programadas anterior
mente. Fernandinho não tem nada a temer e se coloca à disposição para auxiliar no processo da polícia, que está em seu papel. A equipe de comunicação segue à disposição para eventuais esclarecimentos”, informou a nota oficial da equipe de Fernandinho, ontem.

Ao ser questionada pela reportagem sobre o suposto envolvimento de Fernandinho com Biron, divulgado pela Polícia, a assessoria informou que não falaria sobre o assunto.

Arenhardt escreve em rede social

Arenhardt Em postagem pública no Facebook, Arenhardt publicou ontem: “Irei apenas relatar e deixar bem transparente. Sei da minha postura e sempre transparência e todas atitudes. Sempre trabalhei muito e assim o farei. Nesse dia 12 de dezembro de 2018 aconteceu algo. Irei comprovar o que sempre a minha honestidade e caráter me fizeram ser essa pessoa de equilíbrio constante e honesta. Sei que perante a lei divina, sempre e soberana, estou sob investigação, e com transparência e sinceridade irei comprovar minha inocência. Obrigado a todos e aqui estou pronto para qualquer informação, porque não sou Deus, mas sou filho dele e Ele vai sim esclarecer tudo. Obrigado.”

O que diz a Prefeitura?

“A Prefeitura de Novo Hamburgo, após ter conhecimento da Operação Consilium, solicitou o afastamento imediato do subsecretário de Obras. Pedro André Arenhardt, um dos alvos da ação policial da manhã desta quarta-feira, ficará fora das suas funções até o esclarecimento dos fatos.”

Posição da Câmara

O presidente da Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo, Felipe Kuhn Braum, depois que foi contatado pela reportagem do Jornal NH, ficou surpreso ao saber que Fernandinho era um dos alvos da operação da Polícia Civil. De acordo com ele, o Legislativo só iria se manifestar sobre o fato assim que recebesse mais informações.

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