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Notícias | Região Investigação

'Eu apertei o pescoço dela', teria confessado Toco à ex-mulher

Testemunha ratificou, com mais detalhes, que ex-prefeito confessou feminicídio e cometeu suicídio

Por Silvio Milani
Publicado em: 04.01.2019 às 08:20

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Em novo depoimento, na tarde de quarta-feira (2), Suely Cardoso Lopes, 64 anos, entrou em detalhes emblemáticos sobre os últimos momentos da vida do ex-marido, o ex-prefeito de Estância Velha Elivir Desiam, o Toco, 57. "Eu apertei o pescoço dela", teria dito o político, em choque emocional, referindo-se ao homicídio da namorada, Lúcia Bialoso Valença, 35, que pouco depois seria encontrada estrangulada em casa, em Estância Velha. Cada vez mais a Polícia se convence que, após o suposto feminicídio, na manhã de sábado, Toco foi à residência da ex-mulher, no balneário de Mariluz, em Imbé, para uma despedida e deixar objetos de interesse da família, antes do suicídio no mar.

Conhecido pelo perfil calmo e equilibrado, Toco estava agitado e perturbado, conforme a testemunha. Segundo Suely, ele chegou por volta das 7h30, a chamou e disse que tinha feito bobagem. Toco teria dito que precisava deixar coisas com ela, que vive há cinco anos no litoral com um dos dois filhos do ex-casal. Abriu o porta-malas do carro, tirou duas caixas e as colocou sobre um brinquedo pula-pula da neta. Eram documentos da mãe dele e escrituras de imóveis, entre outros.

Pressentimento

Depois de contar como teria matado Lúcia, ele teria emendado: "os últimos três dias foram uma tortura. Tudo o que fiz foi para proteger a minha família". Até então, Toco não tinha falado em se matar. Disse que ia sumir e se trancou no carro. Suely contou que pressentiu o suicídio, tal era o grau de aflição, e que bateu na janela do automóvel para ele não ir. Mas o ex-prefeito foi.

E o telefone ficou mudo na praia

Pouco depois, segundo Suely, o celular dela toca. Era o ex-marido, com o som do mar ao fundo. "Deixei o carro na rua de Presidente. Vou entrar mar adentro." E o telefone ficou mudo. A ex-mulher avisou a Brigada Militar sobre o iminente suicídio e, às 8h20, o ex-prefeito foi tirado do mar por guarda-vidas da guarita 130, acionados por banhistas. Toco agonizava, quase sem sinais vitais. A morte foi confirmada no posto de saúde.

Às 10h15, foi confirmada a primeira parte da história. Policiais arrombaram a casa onde o político morava com Lúcia, na Avenida Sete de Setembro, no Centro de Estância, e encontraram o corpo da namorada. Estava na cozinha, coberto com tapete e lençol. Também sobre o cadáver, estavam espalhados R$ 3 mil em dinheiro. A morte foi por estrangulamento, possivelmente com o uso da alça do vestido que usava.

Foto por: Inézio Machado/ GES
Descrição da foto: Guarda-vida da guarita 130, em Imbé, aponta para local de onde Toco foi retirado do mar

Depoimento coerente, segundo delegado

Suely fez o reconhecimento do corpo, registrou ocorrência de suicídio e prestou depoimento na delegacia de Tramandaí, no sábado. "Decidimos tomar novo depoimento, mais aprofundado, que teve que ser na casa dela, pois tem dificuldade de sair em razão da necessidade de cuidar do filho", declara o delegado Fernando Pires Branco.

De acordo com ele, o segundo relato está coerente com o primeiro e com os fatos apurados até o momento. "Ela confirmou com mais detalhes o que havia dito no dia do fato. O ex-prefeito tinha um vínculo forte com a ex-mulher, por conta dos filhos", acrescenta Branco.

Polícia analisa celular apreendido

O delegado revela que começou ontem a analisar o conteúdo do celular da ex-mulher, apreendido quando ela prestou o primeiro depoimento. "Estamos vendo as mensagens e ligações", resume Branco. Ele frisa que vários depoimentos estão sendo tomados. "Tudo está sendo apurado com bastante calma. Minha intenção é dar uma solução. É um caso que precisa de explicação, que deve vir da Polícia." A hipótese mais forte, conforme ele, é feminicídio seguido de suicídio. "Mas não descartamos outras possibilidades", observa. Os celulares de Toco e Lúcia ainda não foram localizados. Podem ter sumido no mar quando o ex-prefeito se afogou.

Confissão também para amigo

Não foi só para a ex-mulher que Toco teria confessado a morte de Lúcia. Em depoimento no fim da tarde de ontem, o amigo Maicon Schuh revelou que, na manhã do crime, recebeu telefonema em que o ex-prefeito contava o fato. "Conforme essa nova testemunha, Eliviar Desiam disse o que aconteceu em Estância Velha e que tinha deixado documentos para Suely em Imbé. Depois desligou. Esse amigo ligou de volta e o ex-prefeito não atendeu mais", diz o delegado.

Para a Polícia, é mais um depoimento que aponta para a principal linha de investigação - feminicídio seguido de suicídio. "Roubo não foi, pois um assaltante não deixaria R$ 3 mil no corpo da vítima", observa Branco. Outra hipótese investigada também perde força. "Nada do que foi apurado até agora aponta para crime de natureza política."

Relacionamento não estaria bem

Segundo o delegado, as últimas informações apuradas indicam que o relacionamento entre Toco e Lúcia, com casamento marcado para o dia 24 deste mês, não ia bem. Amigos relatam que o ex-prefeito já apareceu com arranhões no pescoço. Toco ainda teria comentado com familiares, em dezembro, que tinha dado “rumo insuportável” à vida. Três dias antes do crime, Suely registrou ocorrência de ameaça contra Lúcia. Apesar das supostas brigas, o ex-prefeito teria deixado um último sinal de preocupação com a namorada morta. O delegado supõe que o dinheiro deixado sobre o corpo seria uma providência de Toco para custear os atos fúnebres.

Foto por: GES e Facebook/Reprodução
Descrição da foto: Elivir Desiam e Lúcia Bialoso estavam de casamento marcado para 24 de janeiro

Condenação trouxe mais um abalo

Toco também demonstrava abalo com a condenação que recebeu em dezembro. A sentença, por supostas irregularidades de 2001 e 2008 na prefeitura de Estância Velha, era de perda dos direitos políticos e multa de cinco vezes o que recebia de salário na época. “Ele falou à ex-mulher que estava com vergonha de sair à rua. Que parecia que as pessoas olhavam para ele em tom de reprovação”, comenta o delegado.

Ao Jornal NH, logo após a condenação, Toco se disse inocente. “Tenho 20 anos de vida pública e mais de 3 mil licitações. Não vou deixar enterrar essa história por causa de um fato.” A acusação era de irregularidade na contratação de publicidade em jornal local. Toco estava trabalhando como assessor parlamentar e era cotado para assumir a presidência do Badesul ou cargo na Secretaria Estadual de Turismo.

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