A tarde chegava ao fim naquela sexta-feira de forte abafamento no bairro Campina, quando o produtor musical Maikel Ivan de Azevedo, 40 anos, decidiu fazer uma pausa no trabalho para tomar um café. Era 14 de dezembro, e Maikel havia trabalhado durante todo o dia na produção de algumas músicas gravadas por uma cantora evangélica da comunidade. Ao chegar na cozinha da casa onde morava com a esposa, Dioneia Godoi de Azevedo, 34, o músico primeiro alimentou os dois cães, e depois sentou-se para fazer um sanduíche. Mas não houve tempo para mais nada. "Eu ouvi um estrondo, um pouco pra cima de onde eu tava sentado, e na hora não entendi. Quando eu olhei pra cima, começou a ficar tudo claro. E aí já começou a chover em cima de mim", recorda.
As lembranças do temporal ainda emocionam Azevedo, que viu, em cerca de dois minutos, o vento de 130 km/h - segundo o que a Defesa Civil relatou a ele - derrubar o segundo andar da casa construída ao longo dos últimos 20 anos. "Quando terminou o temporal, eu saí pra rua, e parecia um filme de terror. Todo mundo chorando, eu entrei em desespero", lembra. Com o segundo andar, onde ficavam os quartos e o escritório, destruído, móveis e eletrodomésticos perdidos e água praticamente até os joelhos dentro de casa, Maikel e a esposa não tiveram outra alternativa a não ser ocupar um espaço na garagem da casa da mãe de Dioneia.
Mutirão
Mais de três semanas se passaram, e o casal está prestes a voltar pra casa. Mas isso não seria possível sem um mutirão formado por amigos, parentes, colegas e conhecidos, que permitiram, cada um ajudando de uma maneira, a reconstrução do lar, ainda que de forma provisória. "No total, foram mais de 20 pessoas que me ajudaram, contando por cima. Naquela noite, eu fiquei até 3 horas da madrugada no Facebook, tentando encontrar alguém para me ajudar a desmanchar a casa. Depois disso, as coisas começaram a acontecer, cada um ajudando da sua maneira", agradece.
Azevedo conta que as três últimas semanas foram de trabalho praticamente ininterrupto no local, mesmo com as festas de Natal e ano-novo. Depois de desmanchar o segundo andar da casa, que era de madeira, ele conseguiu ajuda para providenciar o telhado e cobrir o local. “Pouco a pouco, as coisas foram se ajeitando. Claro que não é o ideal, mas pelo menos a gente vai poder voltar pra cá. Eu só quero voltar. O resto, depois a gente vê”, diz. Para poder dormir no local, eles estão juntando a antiga lavanderia à antiga sala, num esforço para abrigar os móveis que conseguiram salvar durante o temporal. “Sem meus amigos, eu não teria como voltar pra cá, ou iria demorar bem mais. Por isso, eu sou grato a eles, e acho que a gente precisa sempre se ajudar”, conta.