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Golpe do depósito vazio era chefiado por preso

Recolhido por crimes graves, ele garimpava vítimas em site de vendas

Por Silvio Milani
Publicado em: 22.02.2019 às 07:18 Última atualização: 22.02.2019 às 08:41

Foto por: Divulgação
Descrição da foto: Jonathan Ribeiro
Um preso de alta periculosidade está à frente da nova onda do golpe do falso depósito bancário, que vem fazendo incontáveis vítimas na região metropolitana. Segundo a Polícia Civil, o apenado da Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), em Charqueadas, acionou um motorista de aplicativo a Novo Hamburgo, na tarde de segunda-feira (18), para buscar um videogame negociado com uma vítima de Estância Velha. O aparelho foi apreendido pouco depois com um comparsa no reduto do criminoso, no bairro Santa Tereza, em Porto Alegre.

“Vamos indiciar esse preso, com antecedentes por assaltos e homicídio, nesse caso de estelionato”, frisa a delegada Raquel Peixoto, que responde pela 1ª DP de Novo Hamburgo. Ela acredita que haja dezenas de pessoas lesadas só no Vale do Sinos. Apesar do histórico de violência, o presidiário Jonathan Bueno Ribeiro, o Jô, 23 anos, mostra-se educado e até amável com as vítimas. A última delas foi um industriário de Estância Velha de 36 anos, que anunciou um videogame PS4 no site da OLX. Sem saber, o condenado repetiu o alvo errado e acabou descoberto.

Surpresa

O estanciense tinha sido logrado no mesmo golpe há duas semanas, quando perdeu um videogame. Precisando de dinheiro, colocou outro aparelho à venda, desta vez em nome da esposa, e recebeu contato de um interessado que, para sua surpresa, se identificou com o nome dele. O comprador tinha até uma conta no Facebook com dados da vítima. O estanciense não teve dúvida. Era o golpista que o havia enganado, agora usando sua identidade para lesar mais pessoas. Procurou a Polícia, que rastreou e descobriu o vigarista.

O esquema

Com bastante tempo livre na cadeia e celular em mãos, o apenado vasculha o site OLX em busca de vítimas e faz os contatos por meio de WhatsApp. Ao fechar negócio, avisa que vai mandar motorista para buscar o objeto e que enviará, pelo celular, uma foto do comprovante de depósito bancário. Também escala um parceiro para receber a mercadoria na capital. Quando constata que o dinheiro não entrou na conta, a vítima percebe que caiu no golpe.

O comprovante foi gerado por meio de um envelope vazio no caixa eletrônico. Às vezes, o documento é falsificado. “O comprovante de depósito não significa que o crédito tenha sido efetivado. Por isso, para entregar o bem, é preciso ver com o banco se o valor realmente entrou na conta”, orienta a delegada. Vítimas podem entrar em contato com a 1ª DP pelo whatsApp (51) 99913-3694.

O flagrante

Douglas Freitas Orientado pela Polícia, o estanciense combinou, com o preso, a entrega do videogame em um posto de combustíveis no Centro de Novo Hamburgo. O motorista de aplicativo chegou por volta das 15h30, pegou o aparelho e foi seguido por agentes da 1ª DP até a Avenida Cruzeiro do Sul, bairro Santa Tereza, na Capital, onde Douglas dos Santos Freitas, 28, aguardava a entrega. Douglas foi preso em flagrante.

Os áudios

O presidiário envia áudios para o anunciante no domingo. Como a publicação na OLX estava no nome da esposa do industriário, o criminoso pensa que está se comunicando com uma mulher.

OUÇA: 

- O valor que pedes por ele (videogame) é dois e trezentos, correto? (...) Como eu lhe falei, vou ver com minha esposa certinho, que daí na segunda-feira ela busca com você, pode ser?

Na sequência, Jonathan Ribeiro dá a introdução ao golpe, sugerindo a transação bancária ao invés de dinheiro vivo.

OUÇA:

- De repente caso nós não consiga levar o valor em mãos, a gente transfere esse valor pra ti direto da nossa conta para a sua, sem problema, Pode ser?

E também ensaia a justificativa para enviar motorista de aplicativo para buscar o videogame em Novo Hamburgo, alegando que a esposa danificou o carro da família.

OUÇA:

- Com eu te falei, o carro está na oficina. Ela não conseguiu fazer a retirada do veículo. O rapaz ainda está terminando. Estragou o lado da suspensão esquerda. Bah, no dia da chuvarada, ela caiu num buraco e estragou todo lado esquerdo do carro.

O presidiário pede os dados da vítima, que possivelmente seriam usados em novo golpe.

OUÇA:

- Se você me passar seus dados bancários, perfeito. Eu te transfiro o valor como falei, e peço para o rapaz do aplicativo buscar ali para mim com você.

Jonathan avisa que fez o depósito e informa que o motorista já está à espera em Novo Hamburgo. Ainda reforça à vítima o pedido de enviar uma foto do videogame.

OUÇA:

- Concluí aqui agora. Te enviei o print da transferência efetuada com sucesso, Ele tá ali no posto com pisca-alerta ligado, não esquece de mandar a fotinho.

Douglas Freitas fala com um homem não identificado e fala em lucrar com um playstation 4, mesmo tipo de aparelho que seria obtido em Novo Hamburgo por meio do golpe.

OUÇA:

- É um playzinho 4. Quando vê nós se "abracemo" nesse play 4, nós vendemos ele e daí dá pra tirar um dinheiro legal. Daí dá pra enxergar os "irmão". Pode crê. É "nóis" aí na fé.

Decepção em texto

O preso aguarda contato do comparsa que receberia o videogame, sem imaginar que ele tinha acabado de ser detido, e digita textos à vítima para expor sua preocupação. Os prints são do celular do estanciense.

"É matador de facção"

Jô estava foragido do semiaberto, segundo a Polícia, quando participou de assalto que deixou um motorista em coma, no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, na noite de 19 de março do ano passado. O comerciante catarinense Rudi Bohn, 66, se perdeu e parou na Rua João Edmundo Streb, enquanto a esposa ligava para uma filha.

Dois homens se aproximaram para roubar o carro, um Palio, e Bohn se assustou. Ao acelerar, levou um tiro na nuca, ficou quatro meses hospitalizado e convive com sequelas físicas. “Jô deu três tiros e um acertou a vítima. É matador de facção, que estava escondido no Kephas”, declarou o delegado Alexandre Quintão, 20 dias depois, ao capturar o presidiário e dois comparsas pelo assalto.

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