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Notícias | Região Trânsito

Sem controladores de velocidade, BR-386 tornou-se mais perigosa

Imprudência e velocidade alta lideram motivos para acidentes na rodovia

Por Leandro Domingos
Publicado em: 24.03.2019 às 09:08 Última atualização: 24.03.2019 às 14:49

Foto por: Leandro Domingos/ GES-Especial
Descrição da foto: Tragédia: acidente envolvendo três automóveis matou três pessoas no trecho de Nova Santa Rita no dia 7 de março
Aos 37 anos, o motorista Luís Fernando Flores passou a última década na estrada. Ou quase isso. É que Flores “lida”, como diz, com carretos. Motorista de Canoas, leva o que pedirem onde quer que seja. Por conta da clientela, acaba limitando-se a fazer em média duas viagens por dia. E quase sempre pela BR-386. Entre Canoas e Taquari, entre Canoas e Sarandi, entre Canoas e Triunfo, etc. Observa diariamente os perigos no trânsito da rodovia, apontando não só os casos mais graves, mas também aqueles “quase” acidentes. “Tem gente que eu não sei como ainda está viva”, dispara. “Os caras se arriscam muito em ultrapassagens, criam retornos onde não existe. Isso a toda hora. Só que nos últimos tempos piorou bastante”, continua. “Ando bem preocupado dirigindo nesta estrada.” Não é só ele.

A reportagem percorreu trechos da BR-386 e ouviu a apreensão não só de condutores, mas também de trabalhadores e moradores que vivem às margens da rodovia. É que o trânsito na BR-386 está mais rápido. E também mais perigoso. Foram pelo menos três acidentes graves há algumas semanas. Um deles, ocorrido no quilômetro 442, no trecho de Nova Santa Rita, no dia 7, vitimou três pessoas, incluindo pai e filho de 9 anos. A opinião da maioria é que piorou muito a situação da rodovia depois que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) retirou os controladores de velocidade em janeiro. “Hoje os caras voam nesta faixa”, observa Marco Antônio Leal. E o frentista de um posto de combustíveis de 28 anos garante: “Motoristas passam quase a 200 km/h.” Exageros à parte, ele está certo.

Velocidade crescente 

A velocidade dos veículos na 386 aumentou significativamente. Só em Nova Santa Rita, foram retiradas duas lombadas eletrônicas, uma bem na entrada do município, no trevo onde fica a popular santa, no quilômetro 431. “Ainda bem que tem uma santa à frente da entrada. Aí a gente pode rezar antes de tentar passar”, brinca o aposentado Nivaldo Rosa, 63. “Chego a esperar 15 minutos para conseguir atravessar. É muito complicado. Não deviam ter tirado os pardais”, aponta.

Dnit garante que está reavaliando situação

Cumprindo orientação da coordenação em Brasília, o Dnit reavalia todos os pontos de instalação de equipamentos eletrônicos de controle de tráfego nas rodovias federais. A autarquia faz o estudo com o apoio da PRF. A ideia é que só funcionem radares em locais onde sejam indispensáveis. Serão priorizados os de grande volume de acidentes e em travessias de pedestres, segundo a assessoria do órgão.

O informe do Dnit foi feito depois que o presidente Jair Bolsonaro se posicionou contra este tipo de equipamento no início do mês. Conforme o presidente, os equipamentos serão mantidos até o final dos contratos, mas não será permitido que as concessionárias de rodovias usem valores direcionados para manutenção das estradas em lombadas.

A reportagem questionou o Dnit sobre a colocação de muretas e guard rails na BR-386. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, não há previsão para este tipo de medida. “Mas dentro do cronograma de melhorias que serão realizadas, todos os dispositivos de segurança serão contemplados conforme necessidade de cada trecho”, acrescenta a assessoria.

 

PRF intensifica a fiscalização

Chefe de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Alessandro Castro garante que os agentes intensificaram as operações ao longo da BR-386 nas últimas semanas. “Estamos atuando com os radares ao longo da rodovia diariamente”, disse. Castro lamentou muito o acidente que vitimou três pessoas em Nova Santa Rita no dia 7, mas observou que ele não aconteceu em um trecho onde antes havia uma lombada eletrônica. “É claro que estamos dando toda a atenção à rodovia, mas nem todos os acidentes na pista têm a ver com controladores. Este último não teve qualquer relação”, observa.

 

Até placas foram retiradas da rodovia

Foi no dia 14 de janeiro que se encerrou o contrato de aluguel dos controladores de velocidade nas rodovias federais do Rio Grande do Sul. Na ocasião, o Dnit se manifestou que não renovaria o contrato, deixando a cargo das concessionárias os equipamentos. Naquele momento, a CCR ViaSul ainda não havia assumido a administração da BR-386, uma das rodovias gaúchas que teve os aparelhos retirados, criando um vácuo.

Foto por: Leandro Domingos/ GES-Especial
Descrição da foto: Sinalização: não há mais avisos sobre a redução de velocidade

“Além de retirarem os equipamentos sem qualquer aviso prévio, ainda por cima levaram até as placas de sinalização que pediam para o condutor reduzir a velocidade no trecho”, reclama o secretário da Indústria, Comércio e Desenvolvimento de Nova Santa Rita, Rodrigo Battistella. Para ele, as lombadas instaladas nos dois trevos de acesso do município foram “conquistas” e o assunto não poderia ter sido tratado desse jeito. “Já conversamos com todos os órgãos competentes, e também com a CCR, pedindo a instalação imediata das lombadas”, frisa. “Eles não têm noção de quantas vidas foram salvas graças a estes controladores de velocidades na BR-386”, diz.

Contrato prevê equipamentos

Por meio de sua assessoria de comunicação, a CCR ViaSul se posiciona dizendo que o contrato de concessão prevê a implantação de equipamentos de fiscalização e controle de velocidade nos trechos administrados pela empresa das BRs 101, 290 (free way), 448 e 386, durante o primeiro ano da concessão. A localização e a quantidade de equipamentos estão sendo avaliados junto à Polícia Rodoviária Federal, considerando pontos críticos de acidentalidade.

Além disso, anualmente será apresentado para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) um programa de redução de acidentes onde serão destacadas ações educativas, coercitivas, de engenharia e correção de pontos críticos. Algumas reuniões também estão ocorrendo com as prefeituras para que sejam antecipadas algumas medidas, como a aplicação de nova sinalização vertical e horizontal, faixas de estímulo de redução à velocidade e implantação de elementos de proteção.

Há uma série de medidas que deverão ser adotadas para reduzir os índices de acidentes dessas rodovias e, consequentemente, melhorar os indicadores de segurança viária. Para isso, enquanto algumas atividades encontram-se em evolução, os técnicos da CCR ViaSul têm realizado reunião com representantes da Polícia Rodoviária Federal para combater o comportamento infrator e irregular dos motoristas.

 

Trechos em manutenção

A CCR ViaSul deu início a um trabalho que deve se estender pelos próximos seis meses. O condutor que trafega pela BR-386 deve ter atenção redobrada com os operários na pista a partir de agora. Os trabalhos na rodovia tiveram início entre os quilômetros 424 e 410 (de Nova Santa Rita a Triunfo) e entre os quilômetros 178 e 198 (entre Carazinho e Victor Graeff). A meta, durante o período, é remover o asfalto deteriorado e recompor a pista nesses trechos, segundo a assessoria da concessionária.

O que pensam os motoristas

Elton Fontoura Elton Fontoura,
47 anos, mecânico

“A 386 virou território sem lei desde que eles tiraram as lombadas. Além da velocidade que andam, tem muita gente fazendo retorno onde não deve. Aí dá acidente certo.”

Ari Frozza Ari Frozza,
65 anos, aposentado

“O cara tem que andar se cuidando. Senão, passam por cima. E seja carro e caminhão. E ao fazer retorno, tem que tomar mais cuidado ainda. Está muito ruim de rodar nesta faixa.”

Fabrício Oliveira  Fabrício Oliveira,
30 anos, motorista

“Rodo muito e fico impressionado com o que fazem nesta estrada. E olha que mesmo com todo o perigo, ainda tem gente que dirige e fica falando no celular. É terrível o que acontece.”


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