Do canteiro de obras na qual a RS-118 foi transformada em julho do ano passado, restou apenas o canteiro: nesta semana, a empresa Toniolo Busnello abandonou o local, levando consigo os cerca de cem funcionários e as dezenas de máquinas, caminhões e retroescavadeiras que atuavam nas obras de restauração e duplicação da rodovia entre o quilômetro 0 ao 5, em Sapucaia do Sul. Esta é a primeira vez em que os trabalhos são paralisados desde o início dos serviços, no ano passado, quando teve o fim o processo de reintegração de posse de mais de 300 endereços nas margens da estrada.
A justificativa da empresa para a paralisação dos serviços é a falta de pagamento por parte do governo estadual. A construtora alega que tem entre R$ 8 e R$ 10 milhões em serviços já executados para faturar, mas reclama que a obra não possui orçamento para 2019, o que impede a continuação dos trabalhos, pela incerteza de pagamento. "Nós informamos o Daer há uns dez dias que reduziríamos a produção por falta de orçamento. Não tivemos resposta e nesta semana paramos em definitivo, porque o nosso contrato não tem orçamento para 2019. Tudo que nós estamos trabalhando, não podemos faturar, nem receber. O Estado tem que colocar verba", argumenta o sócio e diretor da empresa, Humberto Cesar Busnello. A Secretaria de Logística e Transportes reconhece apenas R$ 1,5 milhão em atraso para a empresa. Segundo Busnello, esse valor se refere a uma dívida de dezembro, e não inclui os serviços executados em 2019.
Para quem trafega diariamente pela rodovia, a restauração e a duplicação da pista, que estão sob responsabilidade da Toniolo Busnello, são a parte mais visível das obras. Mas há outras três frentes de trabalho no trecho que abrange o município de Sapucaia do Sul: a construção do viaduto sobre a linha da Trensurb, do viaduto sobre a Avenida Theodomiro Porto da Fonseca e das pontes sobre o arroio Sapucaia. Destas três obras, o viaduto sobre a linha da Trensurb é a mais atrasada, e está parada. Nas outras duas, os trabalhos permanecem.
Enquanto a empresa não retorna ao canteiro de obras, diversas ruas estão com os acessos à rodovia bloqueados. Os serviços causam transtornos no trânsito e levam poeira para dentro das casas. Morador há 30 anos da Rua São Lázaro, o eletricista José Luis Bertola, 55 anos, revolta-se com o que considera um descaso do governo estadual.
“O troço parou tudo agora. E como ficamos nós? Estamos comendo terra, comendo barro. Tá horrível isso aqui. Eles tavam tocando a obra como a gente nunca tinha visto. Há poucos dias fizeram essa buraqueira aqui na frente, mas não colocaram canos. Queremos ver o troço andar, estamos há muitos anos aguardando por isso”, clama. Ele afirma, ainda, que a família perdeu metade do terreno com a reintegração de posse em 2018, mas não recebeu a indenização. “Estamos na Justiça para receber”, diz.
O investimento para construção do viaduto de 201,5 metros de extensão é de aproximadamente R$ 10 milhões. Nas imediações do viaduto, o trânsito precisa ser desviado, o que causa transtornos para os moradores do local. Há cinco anos com uma revenda de automóveis localizada na própria Avenida Theodomiro, o comerciante Celso Brand, 46, queixa-se das ruas bloqueadas no entorno, e da falta de sinalização para os motoristas, em especial à noite.
“Eu moro do outro lado. Antes, levava cinco minutos para chegar em casa, agora são pelo menos 20 minutos. Não tem sentido, não tem preferencial, é uma buraqueira. Isso aí eles precisavam resolver, mas, pelo menos estão tocando o viaduto. Já tá bem adiantado”, reconhece.
Em fevereiro, a Secretaria de Logística e Transportes informou que faltavam R$ 90 milhões para concluir as obras de duplicação da RS-118. O número divulgado no segundo mês do ano já era superior em R$ 40 milhões ao valor informado em novembro do ano passado. Agora, passados menos de dois meses, o montante cresceu em mais de R$ 30 milhões, um aumento de 25%.
Em nota, a secretaria afirmou que a gestão atual não se responsabiliza pelas estimativas calculadas no governo anterior. “Quanto ao inicialmente estipulado no começo deste ano (R$ 90 milhões), informamos que, devido aos constantes reajustes dos materiais asfálticos, o valor previsto para o término da obra precisou ser revisto, chegando ao montante de R$ 120 milhões”, diz a nota.
A Secretaria de Logística e Transportes garante, em nota, que a duplicação da RS-118 é prioridade. “Juntamente com a Secretaria de Logística e Transportes e o Daer, o governo do Estado está mobilizado para viabilizar os recursos necessários à retomada e conclusão da obra, mesmo diante do desafio de reequilíbrio das finanças públicas”, afirma o material divulgado pelo órgão.
A conclusão da duplicação também um compromisso de campanha, porque o então candidato Eduardo Leite reafirmou, em várias oportunidades, que o governo daria continuidade às obras. O compromisso também foi firmado pelo vice-governador, delegado Ranolfo Vieira Júnior, em entrevista exclusiva concedida ao Jornal VS um dia após o pleito. “Temos alguns compromissos assumidos na região, como a conclusão da duplicação da RS-118”, disse na ocasião.