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Notícias | Região Descaso com a natureza

Santuários naturais sofrem com vandalismo e falta de respeito

Lixo vindo do descarte irregular está tão espalhado que foi parar nos recantos mais inesperados

Por André Moraes
Publicado em: 21.04.2019 às 09:04 Última atualização: 21.04.2019 às 09:16

Este ano, alagamentos na região colocaram em pauta a questão do lixo atirado nas ruas, que vai parar nos bueiros e ajuda a agravar enchentes. No mês das águas, em março, um dos pontos em destaque também foi a poluição em ambientes naturais e a importância de proteger bacias hidrográficas. O ponto em que esses dois problemas convergem é a necessidade de conscientização – não só dos governantes mas dos moradores de cada localidade. Para ilustrar o problema na prática, a reportagem mostra como o lixo vindo do descarte irregular está tão espalhado que foi parar nos recantos mais inesperados.

Nas fotos ao lado, dá para ver como garrafas plásticas e outros dejetos apareceram em duas áreas da região que são ou santuários de preservação ou atrações turísticas verdes. Junto à Cascata de São Miguel, no limite de Dois Irmãos com Ivoti, e em uma área de conservação da Fundação Zoobotânica, encontramos lixo contaminando a beleza natural. Embora o poder público, em todos estes casos, realize limpezas regularmente, falta a alguns visitantes a consciência para ajudar a conservar estas belezas e também preservar os recursos naturais que elas guardam.

No caso da cascata, Renata Padilha, chefe do Departamento de Meio Ambiente de Dois Irmãos, explica que o local é frequentemente visitado por pessoas de toda a região e, embora o acesso seja livre, encontra-se em áreas privadas. “O Município de Dois Irmãos realiza o recolhimento dos resíduos no local semanalmente, visando à preservação do ambiente. Nestas oportunidades, constatamos por diversas vezes lixo deixado fora dos recipientes existentes, tais como embalagens de alimentos, garrafas e latas de bebidas e até fraldas e absorventes”, diz ela.

Renata acrescenta: “Existem ainda as oferendas religiosas, sendo que solicitamos aos praticantes que as realizem de forma consciente, evitando deixar resíduos plásticos, metálicos, vidros ou outros que demorem centenas de anos para decomposição.” Ela sugere que os visitantes recolham seu próprio lixo, como se faz nas praias. “É uma questão de sensibilização para as questões ambientais. Se cada um fizer sua parte, manteremos o ambiente equilibrado para todos.”

O JOGO DOS ERROS

Foto por: André Moraes/GES-Especial
Descrição da foto: Cenário em torno da Cascata São Miguel em Dois Irmãos
Acima, foto de uma das atrações naturais da região, o belo cenário em torno da Cascata de São Miguel, em Dois Irmãos, perto do limite com Ivoti. O recanto junto às águas do Arroio Feitoria costuma atrair famílias e visitantes em busca de tranquilidade em meio ao verde. No dia em que foi feita esta foto, entretanto, um olhar mais atento nos detalhes revelou vários depósitos de lixo escondidos. São feitas limpezas regularmente no local, mas a atitude de parte do público que joga latas, garrafas plásticas e outros dejetos no córrego acaba produzindo estes exemplos de como o descaso ameaça até os santuários naturais.

Escondidos

Em um canto, uma garrafa plástica ainda com canudinhos

Em um cantinho, uma garrafa plástica ainda com canudinhos dentro mostra desrespeito à natureza de quem consumiu e atirou nas águas, neste ponto ou mais acima.

Sob a água

Até no meio das pedras dá pra achar lixo

Até no meio das pedras dá para achar lixo, como mostra este tijolo de seis furos que já até criou limo, mostrando que o problema é de longa data.

Até lata

Latinhas de cerveja não são difíceis de achar

Latas de cerveja não são difíceis de achar na cachoeira, trazidas pela correnteza ou largadas no próprio local por pessoas que não tomam o cuidado de descartar corretamente.

ARRASTADOS

Boa parte do lixo desce com as enchentes

Boa parte do lixo desce com as águas das enchentes, trazida de outros locais em que houve descarte incorreto no arroio ou afluentes.

Trabalho contínuo

Assim como no Município de Dois Irmãos, os administradores estaduais também têm que enfrentar a questão do descarte irregular em áreas naturais no caso da Fundação Zoobotânica. Foi em uma área de preservação dentro do Zoológico de Sapucaia que a reportagem captou uma garrafa plástica destoando do cenário natural em um dia ensolarado, há algumas semanas. Da mesma forma que acontece na Cascata de São Miguel, o secretário estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura, Artur Lemos Júnior, comenta que o lixo é retirado regularmente. Porém, ele lembra que “não adianta ter políticas públicas se a população não ajudar”. O secretário comenta que há vários projetos de conscientização. O próprio Zoológico tem algumas visitas orientadas, explica ele, focadas em escolas. Lemos comenta que o foco inicial deste esforço do Zoo é educação a partir da criança, que vai levar para dentro de casa o conhecimento e fazer o controle junto com seus pais.

Estado enfoca conscientização

O secretário Artur Lemos Júnior explica que a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura tem um escopo mais amplo, e que inclusive faz parte da legislação a questão ambiental. Embora comente que às vezes o trabalho de conscientização pública é limitado pela questão orçamentária, o Estado possui programas como o Educar para Sanear, e comissão interinstitucional para debater ações na área. A Assessoria de Educação Ambiental, inclusive, é prevista em lei, lembra ele.

Lemos detalha também os planos da administração estadual para ajudar a ampliar a conscientização ambiental. Além do que ele chama de ações de base, como aquelas junto às escolas, que considera já consolidadas, o secretário fala em procurar uma inserção maior na sociedade usando novas estratégias. Entre elas, comenta que há a intenção de chegar mais rapidamente ao público através das redes sociais. Desta forma, seria mais fácil ampliar, sem o custo de uma campanha publicitária, o alcance das ações ambientais.

Exemplos rio acima

A propósito do lixo em áreas naturais e cursos d’água, o agrônomo Arno Kayser, um dos diretores do Movimento Roessler, comenta que “é uma tristeza” o que se vê quando se navega pelo Rio dos Sinos. Ele explica que é comum encontrar plásticos e resíduos mesmo a dois ou três metros de altura, nas árvores. Trata-se de dejetos arrastados pelas águas de enchentes. Nestes casos, explica Kayser, há muito resíduo natural, mas o que mais chama a atenção é o plástico. Ele comenta que nas cidades, nos parques, arroios e áreas de lazer, há dejetos até de grande porte.

MOVIMENTO ROESSLER E COMITESINOS NA LUTA

O agrônomo Arno Kayer é representante do Movimento Roessler Para Defesa Ambiental junto ao Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos). Ele informou que uma reunião foi marcada nas últimas semanas, justamente, para enfocar a problemática do lixo nos arroios, que ficou mais em evidência com os alagamentos na região em março. Kayser comenta que a Nações Unidas, em Novo Hamburgo, “parecia um rio depois de enchente, cheio de sujeira”.

A discussão recente trata da questão do descarte urbano do lixo, que causou problemas nas cidades. Ele comenta que nas Casas de Bombas, “o que se tira de lixo da cidade é uma quantidade absurda”. Kayser chama a atenção para o fato de que se trata de material inaproveitado. Daí a importância das ações de conscientização para que o descarte seja feito corretamente.

O agrônomo conta que entre as iniciativas que estão sendo propostas está um folheto educativo com locais de descarte e endereços de empresas que trabalham com lixo, incluindo materiais como eletrônicos, lâmpadas e pilhas. Também já houve palestras em escolas e parcerias para arrecadação de resíduos, depois encaminhados para reciclagem ou tratamento.

Kayser acrescenta que a questão do lixo também já foi muito trabalhada junto às cooperativas que atuam na região. Ele comenta que a educação dos usuários igualmente é importante aí. O lixo doméstico plástico, por exemplo, para ser aproveitado em usinas de reciclagem deve estar lavado e não estar contaminado, senão seu aproveitamento fica mais difícil. Atividades de conscientização deste tipo fazem parte dos projetos voltados para o público não escolar desenvolvidos pelo Movimento Roessler.

O Comitesinos, explica Kayser, atua mais na questão da recuperação da mata ciliar, com ações de reservação de água na agricultura, tratamento de dejetos e também levantamento científico das áreas mais preservadas e da rede de unidades de conservação. “As áreas verdes funcionam como filtro natural das águas”, ensina Kayser.

Área de preservação ambiental no Parque Zoológico em Sapucaia

NO MEIO DO VERDE
Acima, área de preservação ambiental no Parque Zoológico em Sapucaia do Sul, pertencente à Fundação Zoobotânica. A garrafa plástica (abaixo) no meio do lago destoa totalmente da paisagem onde existe também fauna livre.

Garrafa plástica destoa da paisagem no zoo

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