Um espetáculo à parte, proporcionado pela natureza, está à disposição de quem transita pela área da Barra de Tramandaí. De abril a junho é considerada a época da tainha. Durante este período, os peixes realizam a sua tradicional "corrida": eles saem dos estuários, que é o ambiente de desembocadura do rio, e nadam em direção ao mar, para se reproduzirem. Com a temporada de abundância, são os botos e pescadores que fazem a festa.
O ecossistema local encontrou um jeito de beneficiar a todos e que torna possível a visualização dos golfinhos a menos de 50 metros de distância. "Desde a década de 60, os pescadores começaram a pescar junto com os botos. Como a água é turva neste local, eles não conseguiam ver os cardumes de tainhas. Mas os botos têm um sistema de ecolocalização, então, acabam encurralando o peixe", destaca o professor e pesquisador do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), Ignacio Moreno.
A partir disso, botos começaram a se comunicar. "Eles fazem um sinal com a cabeça quando o cardume está próximo. Os pescadores estão acostumados com os trejeitos deles e sabem o momento de jogar a tarrafa. Quando ela bate na água, espanta a tainha, que pula, e o boto gasta menos energia para se alimentar", explica.
A interação é tanta que pelo menos 12 golfinhos frequentam a Barra o ano todo e são conhecidos pelos pesquisadores e pescadores. A maioria tem até nome: Geraldona, Coquinho, Catatau, Rubinha, Chiquinho, Ligeirinha e Flechinha são alguns. Observando esse comportamento, o Ceclimar mantém o projeto Botos da Barra. Na iniciativa, são quatro premissas fundamentais para que o espetáculo não termine: o fortalecimento da pesca cooperativa, monitoramento dos botos, educação ambiental e gestão da Barra. O dia de hoje, com a entrada do vento minuano, é considerado oportuno para conferir a exibição dos animais.